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Bolsonaro diz que debates de "ideologia de gênero" são "coisa do capeta"

Presidente voltou a reafirmar concepção de família que não abarca os 11,6 milhões de lares chefiados por mulheres e aqueles formados por casais homossexuais

Jair Bolsonaro: presidente participou do evento evangélico "Marcha para Jesus" (Rovena Rosa/Agência Brasil)

Jair Bolsonaro: presidente participou do evento evangélico "Marcha para Jesus" (Rovena Rosa/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 10 de agosto de 2019 às 13h43.

Última atualização em 10 de agosto de 2019 às 14h45.

De cima do trio elétrico da "Marcha para Jesus", realizada em Brasília neste sábado, 10, o presidente Jair Bolsonaro defendeu o que chama de "família tradicional" e classificou como "coisa do capeta" o assunto sobre "ideologia de gênero".

O presidente estava rodeado de lideranças religiosas e políticos, como o ministro Onyx Lorenzoni, o vice-presidente da Câmara, Marcos Pereira (PRB-SP), e o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e falou a uma multidão que acompanhava a marcha.

“Temos um presidente que, além da família e da questão da educação, tem amor ao próximo. Não discriminamos ninguém, não temos preconceito. E deixo bem claro: as leis existem para proteger as maiorias. É única maneira para vivermos em harmonia”, disse o presidente.

A ideia de que "as leis existem para proteger as minorias" vai de encontro ao texto da Constituição de 1988, que garante liberdades individuais invioláveis de crença e expressão, entre outras.

"Democracia é o governo das maiorias, respeitados os direitos das minorias”, em definição feita pelo ministro aposentado do STF, Carlos Ayres Britto, em novembro do ano passado.

Família

Ao afirmar que o disse durante sua campanha eleitoral "já falava anos antes", Bolsonaro emendou o assunto sobre a constituição da família, e sugeriu que, se quiserem mudar a "família tradicional", que proponham uma emenda à Constituição.

O presidente, que está no seu terceiro casamento, ponderou que continuará "acreditando na família tradicional", uma vez que não é possível "emendar a Bíblia". 

"Apresentem uma emenda à Constituição e modifiquem o artigo 226, que lá está escrito que família é homem e mulher. E mesmo mudando isso, como não dá pra emendar a Bíblia, eu vou continuar acreditando na família tradicional", disse.

Dentro da mesma temática, que foi uma das marcas de sua campanha eleitoral, Bolsonaro também afirmou que vai "respeitar a inocência das crianças nas salas de aula", e que não existe "mais conversinha de ideologia de gênero".

"Isso é coisa do capeta. Tenho certeza que o governador não vai admitir isso aqui", afirmou, referindo-se ao governador do DF.

"Vocês têm na primeira vez da história do Brasil um presidente que está honrando o que prometeu durante a campanha. Um presidente que acredita e valoriza a família. Um presidente que vai respeitar a inocência das crianças nas salas de aula", disse.

Contexto

A concepção de família citada pelo presidente não abarca os 11,6 milhões de lares brasileiros que são chefiados por mulheres sozinhas ou as famílias formadas por casais homossexuais.

Bolsonaro já disse em entrevistas que é “homofóbico, com muito orgulho” e que preferia ter um filho morto a um filho homossexual, entre outras declarações homofóbicas recorrentes em sua trajetória política.

Discussões sobre a questão de desigualdade de gênero têm ganhado força dentro das empresas e governos nos últimos anos.

Um estudo do Banco Mundial feito no ano passado calcula que a riqueza total no mundo teria uma alta de 14% se fosse alcançada a igualdade salarial entre homens e mulheres.

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