BC precisa impedir que as pessoas desconfiem do cumprimento da meta de inflação (Divulgação/Banco Central)
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2011 às 16h12.
São Paulo – O Banco Central precisa convencer urgentemente os agentes econômicos de que não desistiu do centro da meta de inflação. O maior risco é as pessoas acharem que a inflação não será baixa, tornando natural os reajustes nos preços.
A avaliação é do estrategista-chefe para América Latina do Banco WestLB, Roberto Padovani, que participou nesta segunda-feira do programa “Momento da Economia”, na Rádio EXAME.
No boletim Focus dessa semana, houve aumento nas projeções para o IPCA em 2011 e 2012. “Quando as expectativas começam a piorar, isso pode convencer a maior parte dos agentes econômicos de que o Banco Central não vai mais perseguir o centro da meta, de 4,5%. Quando as pessoas, em média, percebem isso, elas começam a reajustar seus preços para patamares mais elevados. Então, é como se fosse um profecia auto-realizável, ou seja, quando ninguém acredita que a inflação será baixa, os próprios preços começam a incorporar um aumento maior e confirma-se essa expectativa. Daí a ideia de que é preciso realmente que o Banco Central construa uma reputação e convença os agentes econômicos de que a meta será cumprida”, diz Padovani, que tem o blog "O Negócio é o Seguinte" em EXAME.com.
O economista explica que a alta da inflação corrente gera um viés pessimista no mercado. “Além disso, há uma dúvida no mercado com relação à capacidade do Banco Central de controlar as expectativas. Houve muito ruído ao longo de 2010 por conta das eleições e, de modo geral, o Banco Central trabalha com hipóteses um pouco mais otimistas que as do mercado. Há também dúvidas sobre a eficácia dos instrumentos que vêm sendo usados.”
O pacote fiscal anunciado pelo governo na semana passada foi positivo, segundo Padovani, mas falta credibilidade ao Ministério da Fazenda, o que tende a gerar desconfiança em relação à execução do ajuste. “O Ministério da Fazenda ou a política fiscal como um todo, diferentemente da área monetária, avançou muito menos em construção institucional. Não há decisões por comitês, falta transparência, não há prestação de contas para o Congresso e a Fazenda não tem nenhuma penalidade quando não cumpre as metas.”
Na entrevista (para ouvi-la na íntegra, basta clicar na imagem ao lado), o estrategista-chefe para América Latina do Banco WestLB diz qual é o aperto monetário ideal para esse ano e avalia se o cenário internacional vai ajudar ou atrapalhar a inflação no Brasil.