Boi, Bíblia e Bala: esses grupos conservadores já dizem que um eventual substituto de Cunha deve manter afinidade com a pauta que defendem (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2015 às 08h47.
Brasília - Conhecidos como bancada "BBB" (Boi, Bíblia e Bala), ruralistas, evangélicos e deputados ligados à segurança pública se transformaram na principal salvaguarda do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para se manter no cargo. Apesar de não acreditarem na queda do aliado no curto prazo, esses grupos já dizem que um eventual substituto do peemedebista deve manter afinidade com a pauta que defendem.
"Se acontecer de ele (Cunha) sair, vamos eleger de novo alguém que dê independência à Câmara", afirmou o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), um dos mais de 300 integrantes da bancada "BBB".
"Não nos preocupamos com a saída do Cunha, ele só sai se quiser. Mas, se sair, não vamos colocar outro presidente que não seja alinhado com nossos anseios", disse o deputado Capitão Augusto (PR-SP), da bancada da bala. "É claro que quem for entrar será eleito com nossa participação forte", disse o deputado Marcos Montes (PSD-MG), coordenador da Frente Parlamentar da Agropecuária.
Com o agravamento da situação política de Cunha em virtude da Operação Lava Jato, que trouxe a público detalhes de contas secretas na Suíça atribuídas ao presidente da Câmara, o grupo quer manter o ritmo acelerado de votação da pauta conservadora.
Evangélicos, que já conseguiram aprovar na Comissão Especial o Estatuto da Família - que define como núcleo familiar a união entre um homem e uma mulher - aprovaram na semana passada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o projeto de Cunha que dificulta o acesso ao aborto legal para vítimas de estupro.
Já a "bancada da bala", cuja maior vitória neste ano foi aprovar a Proposta de Emenda à Constituição que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, deve votar nesta semana a flexibilização do Estatuto do Desarmamento na Comissão Especial. O texto altera a legislação de modo a facilitar o acesso a armas de fogo.
Também nesta semana deve passar pela Comissão Especial a Proposta de Emenda Constitucional 215, que transfere do Executivo para o Legislativo a palavra final sobre a demarcação de terras indígenas, pauta prioritária para os ruralistas.
Enquanto isso, as tratativas sobre eventuais nomes para substituir Cunha são feitas com discrição. Tanto governistas quanto a oposição avaliam que falar abertamente em alguém para o lugar do presidente da Câmara "queimaria" o candidato. "Existe uma regra tácita de não se falar nomes", disse um deputado da base. "Não é o momento de tratar de nomes, mas está todo mundo sendo testado", comentou um oposicionista.
Outro consenso entre oposição e base aliada é que o apoio da bancada "BBB" será decisivo na escolha de um substituto de Cunha, caso o presidente da Câmara realmente seja afastado.