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Ataque a militares é "idêntico" ao que aconteceu comigo, diz Bebianno

"É hora de as crianças irem para casa e deixarem o papai trabalhar", afirmou o ex-ministro do governo Bolsonaro

Crise: Bebianno também saiu em defesa de Santos Cruz e do ex-comandante do Exército e general Eduardo Villas Bôas (Ricardo Moraes/Reuters)

Crise: Bebianno também saiu em defesa de Santos Cruz e do ex-comandante do Exército e general Eduardo Villas Bôas (Ricardo Moraes/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 8 de maio de 2019 às 10h27.

São Paulo — Demitido do governo após se envolver em um embate com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Gustavo Bebianno afirmou que a ofensiva feita nos últimos dias pelo escritor Olavo de Carvalho contra o ministro da Secretaria de Governo, Santos Cruz, e outros ministros militares é "idêntica" à qual ele próprio foi submetido.

Bebianno disse avaliar que a nova leva de ataques poupa o vice-presidente Hamilton Mourão pelo fato de ele ter sido eleito e, portanto, não teria como perder o cargo.

"É idêntico. Só não fazem com Mourão porque é vice-presidente eleito", disse. No fim do mês passado, entretanto, o próprio vice-presidente também foi alvo de críticas do escritor nas redes sociais.

Sobre os constantes ataques de Olavo de Carvalho à cúpula militar do governo, Bebianno afirmou que "é hora de as crianças irem para casa e deixarem o papai trabalhar". "Há um país que depende disso."

Bebianno também saiu em defesa de Santos Cruz e do ex-comandante do Exército e general Eduardo Villas Bôas, que em entrevista ao Estado afirmou que Olavo presta um "desserviço" ao País.

"Acho que os militares merecem respeito. Todos eles. Mourão, Santos Cruz, todos. Principalmente o General Eduardo Villas Bôas, que tem uma história de vida impecável, e serve de exemplo para todos nós. Trata-se de uma das melhores pessoas que já conheci em toda a minha vida", disse.

Nos corredores de Brasília

A crise deflagrada por postagens de Carvalho tendo a ala militar do governo como alvo e a atitude do presidente Jair Bolsonaro diante da disputa provocaram manifestações de parlamentares no Congresso.

O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), utilizou seu perfil do Twitter para criticar o posicionamento do escritor, tido como guru de boa parte dos admiradores e de membros do governo Bolsonaro, que não poupou críticas a militares que integram a gestão, como o vice-presidente Hamilton Mourão, e o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, além do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Boas, assessor do Gabinete de Segurança Institucional.

Também pelo Twitter, o presidente da comissão especial da Câmara que discute a reforma da Previdência, deputado Marcelo Ramos (PR-AM), criticou a postura de Bolsonaro em relação à crise.

Depois, em entrevista a jornalistas, explicou a necessidade de uma defesa mais convicta da reforma por parte do presidente para que convença "cada vez mais pessoas que acreditaram nele durante o processo eleitoral" de que a proposta é o caminho para que o país retome o desenvolvimento.

"Claro que, longe de mim — ali no Twitter é um espaço mais livre — mas longe de mim querer dizer o que o presidente deve fazer. Mas se nós estamos pensando no Brasil, o Brasil hoje tem um foco e o foco do Brasil não é o Olavo de Carvalho, não é porte de armas para caçador. O foco do Brasil hoje é reforma da Previdência", disse, referindo-se a decreto assinado nesta terça por Bolsonaro sobre armas de fogo e munições, além de colecionadores de armas, atiradores esportivos e caçadores.

A senadora Simone Tebet (MDB-MS), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, uma das mais importantes da Casa, cobrou de Bolsonaro que tome o controle da situação e criticou o fato de uma "única pessoa" desestabilizar o governo.

"Bolsonaro, nos ajude a ajudá-lo a construir um outro país. Nós estamos aqui paralisados porque vossa excelência não diz quem manda no Executivo. O núcleo militar, político e o econômico são, todos, fundamentais. E aqui eu falo com toda a tranquilidade de quem quer apoiar o governo e quer que o país dê certo", disse, também criticando a interferência dos filhos do presidente no governo.

"Capitão é quem manda. É preciso que o capitão Jair Bolsonaro determine, imponha, coloque o seu pensamento junto à sua equipe e, democraticamente, decida o que é melhor para o país e mande os projetos prioritários", disse a senadora, no plenário.

A senadora não foi a única a se posicionar em plenário. O senador Lasier Martins (Pode-RS) afirmou que as críticas de Olavo dirigidas a Villas Boas passaram "completamente do limite" e afirmou que as ofensas atingem os nascidos no Rio Grande do Sul, terra do militar.

Olavo de Carvalho redobrou os ataques aos militares após ter suas acusações respondida por Villas Boas, um dos nomes mais respeitados pelas tropas.

Mais cedo nesta terça-feira, Bolsonaro havia dito que esperava que os atritos entre Olavo de Carvalho e os militares fossem página virada. Elogiou o escritor, a quem atribuiu a luta contra uma "ideologia insana", mas também os militares, de quem disse que deve sua formação. Depois afirmou que o escritor é dono de seu próprio nariz.

Na segunda, depois de um final de semana de ofensas de Carvalho aos militares — especialmente a Santos Cruz, seu alvo mais recente — Bolsonaro afirmou que a melhor resposta seria "ficar quieto".

Nesta terça, a ala militar do governo tem mantido o silêncio, apesar dos ataques do escritor prosseguirem. Expoentes da ala olavista do governo, os filhos do presidente, Eduardo e Carlos, defenderam o escritor no Twitter.

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