As traições que mais decepcionaram Cunha na cassação
Nomes importantes do Centrão e do próprio PMDB apoiaram a perda de mandato do ex-presidente da Câmara dos Deputados
Marcelo Ribeiro
Publicado em 13 de setembro de 2016 às 11h37.
Última atualização em 23 de fevereiro de 2017 às 15h48.
Brasília – Nem os opositores de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) mais otimistas poderiam imaginar que o resultado da votação que aprovaria sua cassação seria tão expressiva. No total, 450 deputados votaram a favor da perda de mandato de Cunha. Apenas 10 parlamentares se opuseram e 9 se abstiveram nesta segunda-feira (12). Vale lembrar que 42 dos 511 deputados votantes não compareceram.
Mas o que explica esse resultado esmagador? Aos 48 do segundo tempo, aliados do ex-presidente da Câmara optaram por votar pela cassação do peemedebista. Nomes importantes do Centrão – bloco informal apadrinhado por Cunha – e do próprio PMDB, partido do ex-deputado, foram os responsáveis por essa cassação quase unânime.
Após ser cassado, Cunha foi indagado sobre a traição dos antigos aliados e disse à imprensa que ainda não tinha visto o voto de cada parlamentar. "Mas se votaram mesmo, foi hipocrisia", explicou.
Ainda na coletiva, o peemedebista evitou falar em traição do Palácio do Planalto. Sem citar Michel Temer (PMDB), ele atacou o governo por supostamente ter "entregado sua cabeça" ao patrocinar a eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) como novo presidente da Casa.
"Eu culpo o governo não porque ele tenha me abandonado, mas porque ele aderiu à agenda da minha cassação. O governo é culpado quando fez uma aliança com o PT [pela eleição de Rodrigo Maia] e a minha cassação estava na pauta", disse.
Traições significativas
Um dos aliados mais próximos de Cunha afirmou que o ex-deputado chegou abalado ao plenário na noite desta segunda-feira e que estava consciente de um número significativo de traições.
Nomes do Centrão como Major Olímpio (SD-SP), Celso Russomanno (PRB-SP) e Rogério Rosso (PSD-DF) seriam algumas das decepções de Cunha. Os dois primeiros concorrem a prefeitura de São Paulo e optaram por desvincular seus nomes do polêmico peemedebista. Já o terceiro foi o candidato apoiado por Cunha para sucedê-lo no comando da Câmara.
Ainda que não tenha votado a favor da cassação, André Moura (PSC-SE), líder do governo na Casa, também teria sido uma surpresa negativa para Cunha. Nos últimos dias, Moura se afastou do ex-presidente da Câmara e se absteve na votação que marcou a cassação do peemedebista.
A falta de apoio dentro da própria legenda também foi assimilada com amargura por ele. Peemedebistas não pouparam o correligionário e contribuíram para o resultado expressivo. Além de Marta Suplicy (PMDB-SP) – que também está na corrida municipal da capital paulista – o voto de Osmar Serraglio (PMDB-PR) foi mal digerido por Cunha. Vale lembrar que Serraglio chegou à presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) com o apoio do ex-presidente da Casa.
Com esse cenário, há quem diga que Cunha cairá atirando para todos os lados. O peemedebista prometeu que contará em seu livro os bastidores do processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Na mira, devem estar membros do governo Temer, aliados que o traíram e rivais históricos. É esperar para ver como ele distribuirá a munição.
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