Brasil

Alunos do Mackenzie protestam contra ameaça racista de estudante

Mobilização aconteceu após um estudante divulgar vídeo afirmando que a "negraiada vai morrer"; após declaração, ele foi demitido do emprego

Protesto: outro ato está marcado para a noite desta terça-feira (João Pinheiro/Divulgação)

Protesto: outro ato está marcado para a noite desta terça-feira (João Pinheiro/Divulgação)

CC

Clara Cerioni

Publicado em 30 de outubro de 2018 às 16h55.

Última atualização em 31 de outubro de 2018 às 10h40.

São Paulo  Estudantes da Universidade Presbiteriana Mackenzie, de São Paulo, participaram de um protesto na manhã desta terça-feira (30) contra um aluno do curso de direito que publicou dois vídeos em uma rede social incitando violência contra a população negra.

A mobilização, que segundo a organização contou com a participação de cerca de 500 estudantes de diversos cursos, exigiu um posicionamento da faculdade para conter as declarações racistas. Outra passeata está marcada para acontecer nesta noite, também na universidade.

No dia de votação do segundo turno das eleições, o estudante de direito, identificado como Pedro Bellintani Baleotii, de 25 anos, fez uma gravação em que afirmava que estava indo votar "armado com faca, pistola, o diabo, louco pra ver um vadio, vagabundo com camiseta vermelha e já matar logo". Segundos depois ele vira a câmera para um motoqueiro negro e diz: "essa negraiada vai morrer! Vai morrer!”

No vídeo, o aluno aparece vestindo uma camiseta com o rosto de Jair Bolsonaro (PSL) estampado. Em uma segunda gravação, divulgada cinco meses atrás, ele aparece manuseando uma arma e cantando "capitão, levanta-te, o povo brasileiro precisa de você".

Após a viralização dos vídeos nas redes sociais, o estudante foi demitido do escritório em que atuava como advogado. À reportagem, uma funcionária confirmou o desligamento do colaborador e afirmou que a demissão foi causada por suas declarações.

Protesto

A mobilização dos estudantes começou na noite de segunda-feira (29), por iniciativa do estudante de direito João Pinheiro, junto com outras duas alunas, Adrielly Letícia e Christiane Cese.

"Todos os alunos, inclusive brancos, ficaram assustados e sentiram o perigo que seria ter um aluno armado na faculdade. Não queremos que a vida dele vire um inferno, mas sim justiça, que a faculdade se posicione", conta Pinheiro.

Segundo ele, o Mackenzie acatou o protesto, suspendeu por cinco dias o agressor e analisará os próximos passos do estudante na universidade. "Nós precisamos criar um ambiente que mitigue esse tipo de pensamento, porque se ele fez essas gravações, escancaradas desse jeito, é porque imaginava que isso iria passar batido", relata.

O estudante reitera, ainda, que a convocação foi apartidária e não sofreu nenhuma repressão por parte do quadro de funcionários da unviersidade.

No Facebook, o Coletivo Negro AfroMack publicou uma nota de repúdio às declarações, que são enquadradas como crime. "Devemos salientar que o que foi dito pelo aluno constitui crime de Racismo, previsto na Lei 7.716/1989 e o crime de Injúria Racial Artigo 20, lei 7716/89", diz o texto.

Posicionamento do Mackenzie

Em nota, a universidade afirmou que repudia as atitudes e esta analisando o como seguir com o caso.

“A Universidade Presbiteriana Mackenzie tomou conhecimento de vídeos produzidos por um discente, fora do ambiente da Universidade, e divulgados nas redes sociais, onde ele faz discurso incitando a violência, com ameaças, e manifestação racista. Tais opiniões e atitudes são veementemente repudiadas por nossa Instituição que, de imediato, instaurou processo disciplinar, aplicando preventivamente a suspensão do discente das atividades acadêmicas. Iniciou, paralelamente, sindicância para apuração e aplicação das sanções cabíveis, conforme dispõe o Código de Decoro Acadêmico da Universidade."

Estudante se pronuncia

À TV Globo, o estudante afirmou que não é “racista, nem preconceituoso, muito menos violento”.

“Só queria pedir perdão pelos sentimentos que eu causei nas pessoas que se sentiram até ameaçadas, enfim, agredidas, pela contundência do meu áudio aí completamente infeliz”, disse Baleotii, na terça-feira (30), após os protestos.

Acompanhe tudo sobre:Direitos HumanosFaculdades e universidadesJair BolsonaroMackenzieProtestosRacismo

Mais de Brasil

Dino determina que Prefeitura de SP cobre serviço funerário com valores de antes da privatização

Incêndio atinge trem da Linha 9-Esmeralda neste domingo; veja vídeo

Ações isoladas ganham gravidade em contexto de plano de golpe, afirma professor da USP

Governos preparam contratos de PPPs para enfrentar eventos climáticos extremos