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Alckmin: a Lava-Jato se foi, os desafios seguem vivíssimos

O ex-governador de São Paulo se livrou da Lava-Jato, mas até aqui sua candidatura só empolga o mercado financeiro

Alckmin: tucano, foi apelidado de “Santo” nas planilhas entregues às autoridades pela Odebrecht (Adriano Machado/Reuters)

Alckmin: tucano, foi apelidado de “Santo” nas planilhas entregues às autoridades pela Odebrecht (Adriano Machado/Reuters)

Raphael Martins

Raphael Martins

Publicado em 14 de abril de 2018 às 10h52.

Última atualização em 16 de abril de 2018 às 11h49.

O sono de Geraldo Alckmin (PSDB) está mais tranquilo. O principal fantasma de qualquer candidato nas eleições de 2018, a Operação Lava-Jato, afastou-se de suas preocupações por ora. A ótima notícia ao tucano, que foi apelidado de “Santo” nas planilhas entregues às autoridades pela Odebrecht, é que o Superior Tribunal de Justiça remeteu o processo à Justiça Eleitoral em vez da Federal de São Paulo, como pedia a força-tarefa da Lava-Jato no estado. “Tecnicamente difícil de engolir essa”, disse o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot.

A revolta se dá porque Alckmin responderá por caixa dois no lugar de corrupção. A diferença entre os crimes é a contrapartida. Receber recursos não contabilizados recai na Justiça Eleitoral. Se for comprovado que o candidato ofereceu vantagens indevidas ao doador, então entrará no crime de corrupção.

O MPF havia pedido que o processo fosse enviado “com urgência, tendo em vista o andamento avançado de outras apurações correlatas”. Alckmin é acusado por três delatores da empreiteira Odebrecht de receber 10,7 milhões de reais “por fora” para as campanhas de 2010 e 2014 por meio de seu cunhado, o empresário Ademar César Ribeiro. “Com o controle de obras públicas como a própria linha 6-Laranja do Metrô, obra da própria Odebrecht, é difícil imaginar que não há nada para investigar”, diz um procurador da República no estado.

Segundo o delator Benedicto Júnior, os repasses miravam favores em obras do Metrô e de saneamento em São Paulo. As penas máximas para crimes como este na Lei Eleitoral são de cinco anos, segundo o artigo 350 do Código Eleitoral. Um conjunto de corrupção passiva e lavagem de dinheiro teria pena maior. O processo do ex-governador paulista está em sigilo de Justiça.

Com as decisões mais recentes, o julgamento da ação não deve atrapalhar sua caminhada em busca da Presidência da República. “O crime de falsidade ideológica eleitoral, além de ser difícil comprovar o dolo, é menos rígido que a esfera penal. A Justiça Eleitoral é mais rápida, mas em média levaria um ano para o caso ser julgado”, diz a advogada eleitoral Karina Kufa, professora do IDP-SP. “Vários crimes semelhantes na Lava-Jato, em especial os repasses citados pela Odebrecht e J&F nas delações premiadas, devem ter destino parecido”.

Outro possível problema é a prisão preventiva de Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, ex-diretor da Dersa e apontado como operador do PSDB. Ele foi denunciado pelo MPF por formação de quadrilha, peculato e inserção de dados falsos em sistema público de informação, em virtude de desvios 7,7 milhões de reais em desapropriações feitas nas obras do Rodoanel Sul, entre 2009 e 2011.

Além disso, o operador tinha ainda quatro contas na Suíça, no banco Bordier & Cie, com saldo de 113 milhões de reais até 2016. Como primeiro capturado de um novo grupo criminoso, Paulo Preto representa risco altíssimo de delação explosiva para o PSDB. Alckmin disse estar tranquilo. Apesar da gestão Paulo Preto ter invadido alguns anos de seu mandato em São Paulo, seu nome é mais ligado ao ex-governador e senador José Serra (PSDB).

A corrida eleitoral 

De forma mais imediata, a preocupação de Alckmin será arrumar a casa em seu próprio estado. Apesar de ter afirmado que não conta com o PSB em sua aliança, Alckmin não pode se indispor com Márcio França, seu antigo vice e candidato do partido ao Governo do estado. A plataforma e a defesa de legado de ambos será a mesma, enquanto Doria ameaça aumentar os ataques ao pessebista.

Doria e França alfinetam-se sem parar. O tucano o acusa de ser da “extrema-esquerda” e o apelidou de “Márcio Cuba”. França chama Doria de traidor e de “não ter palavra”, tanto pela tentativa de se cacifar à Presidência no início de 2017 como por abandonar o mandato na Prefeitura depois de prometer que não o faria. “O caso do prefeito que abandonou SP é psicológico, e não político”, disse o governador nas redes sociais. O caso descambou tanto que houve um pedido de investigação contra Doria ao Ministério Público do estado por “atentado à honra” de França.

Em uma campanha que pode chegar a 20 candidatos, perder o apoio de um dos palanques no maior colégio eleitoral do país não é bom negócio. “Alckmin sempre quis ter apenas um palanque em São Paulo, mas o PSDB se recusou”, afirma Alberto Goldman, ex-presidente do partido e ex-governador de São Paulo. “Márcio França era o candidato natural.” Outro tucano diz: “Nosso candidato [Doria] é um desequilibrado, típico da direita rancorosa. Isso é muito ruim. Põe em risco ao menos uma competição pacífica com o PSB”.

A divisão pode se acentuar ainda mais, caso o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa entre na disputa. Na última sexta-feira 6, ele se filiou ao PSB com boa possibilidade de sair candidato à Presidência. Segundo um dirigente partidário em conversa com EXAME, a possibilidade de que Barbosa entre na disputa “é de 80%”. “É preciso ver as alianças. Quem entra na chuva muito antes está se molhando cedo”, diz o peessebista. “Não vamos rifá-lo. Só vamos construir essa candidatura com chance de vitória.”

Para o cientista político Ricardo Sennes, sócio da Prospectiva Consultoria, o principal risco da candidatura tucana naufragar é não conseguir compor uma coalizão significativa, que lhe dê tempo de TV para mostrar seus feitos. “Não seria pelo carisma nem popularidade que Alckmin seria eleito, mas por se tornar um polo aglutinador de uma centro-direita que veria nele a chance de compor um governo moderado em 2019”, diz Sennes.

Tucanos despistam de que essa seja uma preocupação. De acordo com o ex-secretário-geral do partido e aliado de Alckmin, deputado federal Silvio Torres (PSDB-SP), cinco partidos têm conversas bastante adiantadas para a coligação. São eles PTB, PPS, PV e PSD. “A confirmação da adesão deve sair nas próximas semanas. Estaríamos perto de 25% do tempo disponível”, afirma. “Se o DEM e PSB desistirem de suas candidaturas, esperamos que venham conosco, pois entraríamos em outro nível. Mas é preciso esperar o tempo deles. Até junho haverá essa indefinição.”

Sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na disputa, o grau de indecisos dispara. Segunda a última pesquisa Datafolha, o grupo que não sabe em quem votar salta de 14% para 32% sem o petista, a depender do cenário. Além de abocanhar os votos, há algum receio com votos perdidos para outsiders, como Joaquim Barbosa, e conservadores, como o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ). Pesquisas recentes mostram que Bolsonaro estaria na frente do ex-governador em intenção de voto até em São Paulo, mesmo Alckmin tendo perdido em apenas um município do estado nas eleições de 2014. “Outro que está desidratando os números de Alckmin é Álvaro Dias (Podemos), pois é um antigo quadro do PSDB e liderança importante do Sul”, diz um tucano próximo à campanha. “Perdemos muitos votos no Paraná por causa dele. A esperança é que na campanha possamos recuperá-los”.

Sem ser unanimidade nas pesquisas nem nas alianças, ao menos nos agentes de mercado Alckmin nada de braçada. Em relatório divulgado pela XP Investimentos nesta sexta-feira, com pesquisa feita entre 188 investidores institucionais sobre as eleições, Alckmin é o favorito de 48% dos entrevistados.

Só falta combinar essa confiança com o eleitor comum. Está previsto para este domingo a divulgação de um novo resultado da pesquisa Datafolha. Apesar de tirar a Justiça do cangote, para animar seus aliados Alckmin precisa subir logo nas pesquisas. Do jeito que as coisas estão, qualquer número com dois dígitos já será motivo de comemoração.

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