Ala do PSL combate favoritismo de Aras para a chefia do Ministério Público
Subprocurador-geral é visto como o mais forte para suceder Dodge no comando da Procuradoria-Geral da República; nome de indicado deve sair até segunda
Estadão Conteúdo
Publicado em 9 de agosto de 2019 às 11h40.
Última atualização em 5 de setembro de 2019 às 17h16.
Aliados do presidente Jair Bolsonaro tentam demovê-lo da ideia de indicar Augusto Aras como procurador-geral da República. O nome do subprocurador-geral é considerado hoje o favorito para o cargo. A intenção do presidente é anunciar o sucessor de Raquel Dodge até a segunda-feira.
Aras é tratado como favorito após ter se reunido ao menos quatro vezes com o presidente nos últimos meses. Nos encontros, segundo relatos de pessoas que acompanham o processo de escolha, ele demonstrou alinhamento com a agenda do governo e se apresentou como um conservador.
Entre os nomes cotados, o subprocurador, que não se candidatou à lista tríplice da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), foi o que mais vezes foi recebido pelo presidente.
A reação vem de alas do PSL e de núcleos de apoiadores nas redes sociais, que se baseiam no histórico do subprocurador para sustentar que o seu perfil não se encaixaria com o bolsonarismo.
Os argumentos, segundo esses apoiadores do presidente, são um suposto "esquerdismo" de Aras, críticas à Lava Jato, além da defesa de movimentos sociais como o MST - o que iria de encontro ao posicionamento de Bolsonaro.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) faz parte do grupo que tem ressalvas à indicação de Aras. Ela enviou ao Palácio do Planalto um material com informações que, na visão do grupo, descredenciam o subprocurador a assumir o cargo. "Como representante de movimento social, não posso receber uma crítica e deixar quieta. Me preocupou algumas declarações do Aras em relação à Lava Jato", disse a deputada ao jornal O Estado de S. Paulo.
"Mas não conversei com o Augusto Aras e tenho dificuldade de opinar quando não conheço", admite ela.
As críticas ao nome do subprocurador ecoaram nas redes sociais e a hashtag #ArasnaPGRnão estava ontem entre os assuntos mais comentados do Twitter.
A reação do presidente, porém, foi de desdém. "Augusto Aras ganhou 1 pontinho mais positivo", disse ontem ao citar reportagem da Folha de S.Paulo com, segundo ele, "críticas" ao candidato. O jornal mostrou declarações de Aras alinhadas a pensamentos de esquerda.
Nomes
Bolsonaro disse ontem que tem cinco nomes em mente. Além de Augusto Aras, primeiro a ser citado, mencionou o "primo", o procurador-regional Vladimir Aras; o "capitão", referência ao procurador-regional Lauro Cardoso; e a própria Raquel Dodge. O mandato dela termina em 17 de setembro. Outros nomes ventilados são os dos subprocuradoresPaulo Gonet e Mario Bonsaglia - este o único representante da lista tríplice da ANPR.
Uma das lideranças do PSL que se colocou publicamente contra Aras foi a deputada estadual por São Paulo Janaina Paschoal. "Não é prudente nomear para procurador-geral da República alguém que concilie as atividades de procurador e de advogado. As duas funções são importantes (essenciais), mas não me parecem compatíveis, mormente em se tratando da chefia de uma instituição como o Ministério Público!", escreveu no Twitter.
Um dos expoentes da rede bolsonarista, o empresário Leandro Ruschel também foi às redes sociais para criticá-lo. "Augusto Aras é claramente um esquerdista, sua indicação ao comando da PGR seria gravíssimo retrocesso no processo de limpeza do País."
Procurado por meio de sua assessoria, Aras não se manifestou. Um dos principais interlocutores do subprocurador com Bolsonaro, o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) nega que ele seja um nome alinhado à esquerda.
Embora seja alvo de bolsonaristas, Aras tem a simpatia dos filhos parlamentares do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Beija-mão
O presidente recebeu ontem um dos nomes vistos como alternativa a Aras, o do subprocurador Paulo Gonet. Católico, conservador, ex-sócio do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes, Gonet foi levado ao encontro com o presidente pela deputada federal Bia Kicis (PSL-DF), ex-colega de universidade, e pelo ministro do Tribunal de Contas da União Walton Alencar Rodrigues. Tem o apoio do ex-presidente do Tribunal Superior do Trabalho Ives Gandra.
Defensora de Gonet, Bia disse ao jornal O Estado de S. Paulo que Bolsonaro tem procurado alguém "alinhado" ao governo e que as conversas com Aras estão "mais adiantadas". Em relação a críticas ao nome, a deputada afirmou que Bolsonaro disse estar olhando para frente e não para trás.