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Agricultores usam teatro para criticar agronegócio

Enxadas, facões e foices estão saindo da roça e ocupando os palcos para contar a história de pessoas que vivem na zona rural do Semiárido brasileiro

Agricultor brasileiro cultiva plantação de feijão e milho: situações vividas são o ponto de partida para uma reflexão sobre a agroecologia e os impactos do agronegócio (Andre Felipe/Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2013 às 13h35.

Campina Grande - Enxadas, facões e foices estão saindo da roça e ocupando os palcos para contar a história de pessoas que vivem na zona rural do Semiárido brasileiro. As ferramentas agora também fazem parte da cenografia de um grupo de teatro formado por trabalhadores rurais da região da Borborema, no agreste paraibano.

Situações vividas no cotidiano das famílias do sertão são o ponto de partida para uma reflexão sobre a agroecologia e os impactos do agronegócio na vida da plateia. Ontem (30), o grupo formado por 12 pessoas representou para os cerca de 300 participantes do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido. Durante a apresentação, os participantes puderam ver a história de duas famílias sertanejas, suas dificuldades e as soluções para o convívio com a região, marcada por longos períodos de estiagem.

A encenação abordou de forma divertida o uso indiscriminado de agrotóxicos, utilizados na agricultura convencional. Os personagens Biu e Margarida formam um casal que planta fumo para a Silva Cruz, uma empresa que produz cigarros. Os dois sofrem com a imposição do uso de agrotóxicos e os impactos que eles geram na produção. O resultado é que acabam endividados.
"Tem agricultor que se deixa levar pela promessa de lucro que eles oferecem. Mas se a gente for pensar, no final até a sua saúde sai prejudicada pelo veneno", opinou Luís Carlos, agricultor que tem uma produção agroecológica de feijão e fava no Semiárido baiano.


A segunda família, compadres de Biu e Margarida, trabalha com a agroecologia. Tota e Bila, embora assediados pela Perdidão para que troquem a produção familiar de mandioca e galinhas pela criação de frangos de granja, mostram que a produção deles lhes garante segurança alimentar.

"Agricultor pé no chão sabe que pode até ser custoso, mas a produção da agricultura familiar é nossa, as sementes são nossas, dá para comer e sobreviver, comprar uma outra coisinha ali e manter a dignidade", disse Edileusa Santos, agricultora do Semiárido sergipano.

Para os agricultores, a peça mostrou que o assédio do agronegócio, em vez de representar uma alternativa, é uma armadilha que subverte os métodos tradicionais de criação animal e de cultivo do roçado. Segundo o agricultor Ivanílson Estevão da Silva, um dos atores do grupo, o teatro também permite valorizar o conhecimento tradicional.

“A gente trabalha todos os dias no sol quente para garantir o alimento, o sustento familiar. Não temos acesso fácil à cultura, à arte, por isso, minha felicidade é poder participar de um grupo teatral, levar arte para quem nunca viu. Depois da apresentação, percebemos o brilho nos olhos de quem nos assiste. Essa experiência chama a atenção para o espírito de troca de conhecimento, a harmonia familiar, o respeito e a valorização na questão de gênero", relatou Ivanílson.


Após o espetáculo, participantes do encontro puderam compartilhar produtos e sementes em uma feira. Participando do encontro, Vilma de Oliveira, produtora do município baiano de Manoel Vitorino, conta que chegou a produzir de forma tradicional, mas refez seu modo de produção e hoje sobrevive com os quatro filhos da produção de umbu, fruta típica da região.

Vilma disse que, após um intercâmbio, ela começou a produzir doces, biscoitos e compotas de fruta, e que parte da produção é destinada ao programa de alimentação escolar do município. "A partir disso [do intercâmbio] a gente foi aprendendo a fazer compotas, doces, geleias e outros produtos. Inicialmente, a gente teve problemas com a venda, mas hoje está tudo bem", conta Vilma, que é integrante de uma cooperativa de beneficiamento que envolve quatro famílias.

Os participantes do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido compartilham experiências de convívio com a região, onde predomina a Caatinga. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Semiárido brasileiro vivem mais de 27 milhões de pessoas, representando aproximadamente 12% da população brasileira, espalhados em 1.133 municípios do Nordeste e do norte de Minas Gerais.

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Situações vividas no cotidiano das famílias do sertão são o ponto de partida para uma reflexão sobre a agroecologia e os impactos do agronegócio na vida da plateia. Ontem (30), o grupo formado por 12 pessoas representou para os cerca de 300 participantes do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido. Durante a apresentação, os participantes puderam ver a história de duas famílias sertanejas, suas dificuldades e as soluções para o convívio com a região, marcada por longos períodos de estiagem.

A encenação abordou de forma divertida o uso indiscriminado de agrotóxicos, utilizados na agricultura convencional. Os personagens Biu e Margarida formam um casal que planta fumo para a Silva Cruz, uma empresa que produz cigarros. Os dois sofrem com a imposição do uso de agrotóxicos e os impactos que eles geram na produção. O resultado é que acabam endividados.
"Tem agricultor que se deixa levar pela promessa de lucro que eles oferecem. Mas se a gente for pensar, no final até a sua saúde sai prejudicada pelo veneno", opinou Luís Carlos, agricultor que tem uma produção agroecológica de feijão e fava no Semiárido baiano.


A segunda família, compadres de Biu e Margarida, trabalha com a agroecologia. Tota e Bila, embora assediados pela Perdidão para que troquem a produção familiar de mandioca e galinhas pela criação de frangos de granja, mostram que a produção deles lhes garante segurança alimentar.

"Agricultor pé no chão sabe que pode até ser custoso, mas a produção da agricultura familiar é nossa, as sementes são nossas, dá para comer e sobreviver, comprar uma outra coisinha ali e manter a dignidade", disse Edileusa Santos, agricultora do Semiárido sergipano.

Para os agricultores, a peça mostrou que o assédio do agronegócio, em vez de representar uma alternativa, é uma armadilha que subverte os métodos tradicionais de criação animal e de cultivo do roçado. Segundo o agricultor Ivanílson Estevão da Silva, um dos atores do grupo, o teatro também permite valorizar o conhecimento tradicional.

“A gente trabalha todos os dias no sol quente para garantir o alimento, o sustento familiar. Não temos acesso fácil à cultura, à arte, por isso, minha felicidade é poder participar de um grupo teatral, levar arte para quem nunca viu. Depois da apresentação, percebemos o brilho nos olhos de quem nos assiste. Essa experiência chama a atenção para o espírito de troca de conhecimento, a harmonia familiar, o respeito e a valorização na questão de gênero", relatou Ivanílson.


Após o espetáculo, participantes do encontro puderam compartilhar produtos e sementes em uma feira. Participando do encontro, Vilma de Oliveira, produtora do município baiano de Manoel Vitorino, conta que chegou a produzir de forma tradicional, mas refez seu modo de produção e hoje sobrevive com os quatro filhos da produção de umbu, fruta típica da região.

Vilma disse que, após um intercâmbio, ela começou a produzir doces, biscoitos e compotas de fruta, e que parte da produção é destinada ao programa de alimentação escolar do município. "A partir disso [do intercâmbio] a gente foi aprendendo a fazer compotas, doces, geleias e outros produtos. Inicialmente, a gente teve problemas com a venda, mas hoje está tudo bem", conta Vilma, que é integrante de uma cooperativa de beneficiamento que envolve quatro famílias.

Os participantes do 3º Encontro Nacional de Agricultoras e Agricultores Experimentadores do Semiárido compartilham experiências de convívio com a região, onde predomina a Caatinga. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no Semiárido brasileiro vivem mais de 27 milhões de pessoas, representando aproximadamente 12% da população brasileira, espalhados em 1.133 municípios do Nordeste e do norte de Minas Gerais.

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