Agora é para valer: fábrica de chips do governo vai ser mesmo liquidada
A Ceitec, criada no governo da ex-presidente Dilma Rousseff, custa 70 milhões de reais aos cofres públicos
Carla Aranha
Publicado em 21 de outubro de 2020 às 18h08.
Última atualização em 21 de outubro de 2020 às 20h11.
Depois de liquidar a Companhia Docas do Maranhão ( Codomar ), o governo prepara o encerramento das atividades de outra estatal. De acordo com informações do Ministério da Economia, a próxima empresa pública a ser fechada é o Centro Nacional de Tecnologia Avançada (Ceitec), mais conhecido como a fábrica de chips do governo brasileiro. O cenário político e econômico está em constante mudança no Brasil. Venha aprender o que realmente importa com quem conhece na EXAME Research.
A dissolução societária foi aprovada pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (CPPI) em junho, e agora começou a deslanchar de fato. A Secretaria Especial de Desestatização, comandada por Diogo Mac Cord desde agosto, vem fazendo avanços nesse sentido.
A Ceitec, criada em 2008, sempre representou um pesadelo para os cofres públicos. A companhia é uma das 18 estatais que dependem de recursos do Tesouro Nacional para fazer frente às suas despesas. Todo o montante gasto pela União com o custeio dessas estatais é contabilizado no teto de gastos, como parte das despesas discricionárias.
Com as contas públicas no limite, mais do que nunca esse tipo de despesa se tornou um problema sério. A Ceitec recebeu cerca de 66,8 milhões de reais da União em 2019 para pagar suas despesas. De acordo com o Tesouro, a empresa nunca conseguiu andar pelas próprias pernas e sempre dependeu de recursos públicos.
Mais duas estatais que hoje dependem de recursos públicos para seguir em frente foram alvo de rearranjos do governo. A Empresa de Planejamento e Logística (EPL), criada em 2012 durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, e a Valec Engenharia, Construções e Ferrovias devem se tornar uma só empresa no ano que vem.
A nova companhia, batizada de Infra S/A, terá a missão de modelar estudos técnicos para programas de concessão e licitação de infraestrutura, conforme foi anunciado pelo ministro Tarcísio Gomes. Segundo fontes do mercado, hoje há mais demanda por esse tipo de projeto do que estudos e editais disponíveis na praça.
“Um dos objetivos é tornar ambas estatais menos dependentes de recursos da União e usar sua capacidade de formular análises estratégicas de planejamento estratégico em logística”, diz Marcelo Sampaio, secretário executivo do Ministério da Infraestrutura, que amarrou a junção das empresas. De acordo com o ministério, será possível economizar cerca de 40 bilhões de reais por ano de custeio com a união das duas estatais.
A expectativa é que o plano de reestruturação, a cargo da consultoria Falconi, seja apresentado em janeiro. Dentro desse cronograma, a Infra S/A deve sair do papel ainda no primeiro semestre do ano que vem.
A ideia é que, uma vez criada a companhia, possam ser concluídos os estudos que vão apontar se vale a pena privatizá-la, o que deverá depender de uma sinalização do mercado sobre o interesse em investir em uma empresa de modelagem de projetos de desestatização de infraestrutura.
A Valec, com mais de 700 funcionários, conta com uma subvenção da ordem da 250 milhões de reais de recursos públicos. A ELP, mais enxuta, com 143 profissionais (todos em cargos comissionados), necessita de aportes de cerca de 65 milhões de reais do Tesouro.