Pesquisadora constatou diferentes formas de identificação do transtorno mental (Marcos Santos/USP Imagens)
Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2012 às 09h59.
Ribeirão Preto - Para que um usuário do Programa “Estratégia Saúde da Família” tenha acesso a tratamento na área de Saúde Mental, é essencial a identificação da doença pelo Agente Comunitário de Saúde. Entretanto, segundo pesquisa na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, falta uma linguagem comum à equipe para que a doença seja identificada com mais facilidade.
O estudo foi realizado pela enfermeira Tatiana Maria Coelho Veloso com 16 profissionais vinculados à equipe de Estratégia da Saúde da Família na Unidade Básica de Saúde, da cidade de Guaiúba, Ceará, entre janeiro e fevereiro de 2011. Ela identificou e analisou as ações de saúde mental desenvolvidas por profissionais da equipe, entre eles, médico, enfermeiro, dentista e agentes comunitários.
Chamou a atenção da pesquisadora repetição constante do uso de psicotrópicos e da consulta médica como aspectos centrais da assistência em saúde mental. Ela explica que não “questiona a importância dessas condutas, mas a exclusividade delas como forma de cuidado”.
Diferentes identificações
Entre as diferentes formas utilizadas para a identificação do transtorno mental, ela verificou que alguns profissionais se baseavam na observação da manifestação comportamental, enquanto outros faziam o diagnóstico pela utilização de medicamentos psicotrópicos. Segundo a pesquisadora, essas informações são frágeis para a identificação do transtorno, pois está no contato com o paciente e sua família o êxito das ações de saúde mental, “mas é preciso melhorar o processo de identificação e para isso falta uma linguagem comum à equipe”, relata Tatiana.
Os Agentes Comunitários de Saúde foram citados como importantes na identificação e acolhimento inicial do sofrimento mental, uma vez que integram a comunidade atendida. Apesar disso, dificuldades nessa relação do agente com a comunidade foram observadas pelo estudo. Tatiana comenta que algumas famílias podem apresentar resistência quanto ao papel do agente.
“Em alguns casos, pode haver falta de confiança no trabalho deles ou da equipe, e medo de ter sua privacidade invadida. Além disso, o transtorno mental e suas manifestações ainda são vistos com forte estigma, dificultando a busca por ajuda, e, consequentemente, a realização do tratamento necessário”, explica.
Como ponto positivo, os Agentes destacaram a escuta como uma forma de cuidado em saúde mental. “Essa atividade é realizada nos atendimentos em consultório, nas visitas domiciliares ou nos ambulatórios e recepções. Mesmo a equipe demonstrando utilizar a escuta em seu cotidiano, esta ação ainda é uma atividade secundária em processo de valorização”, avalia.
Reconhecimento de ações em saúde mental
Para a pesquisa, Tatiana utilizou o método da observação e avaliou as ideias que permeavam o termo saúde mental. “Não havia uma definição única entre os profissionais; como eles reconheciam no dia a dia as pessoas ou familiares com necessidade de intervenção no campo da saúde mental; os caminhos vividos pelos pacientes após esse reconhecimento e algumas particularidades que envolviam o cotidiano do serviço, como a utilização dos psicotrópicos e a escuta”.
Na avaliação de Tatiana, o reconhecimento que a equipe tem de suas ações, tendo como objetivo a demanda em saúde mental, não foi uma tarefa fácil. “Os profissionais pareciam não reconhecer, em suas próprias práticas, onde e como eles trabalhavam questões relativas à saúde mental. Mas apesar da dificuldade inicial, a equipe apresentou e discutiu algumas formas utilizadas para realizar essa identificação”.
O mestrado Ações de saúde mental desenvolvidas no cotidiano de uma equipe de Estratégia Saúde da Família: possibilidades e limites foi orientado pela professora Maria Conceição Bernardo de Mello e Souza, da EERP, e defendida em maio deste ano.