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Aécio e Dilma chegam ao último debate sem tratar de Copa

O espaço dado ao tema durante a campanha é pequeno se comparado à importância da discussão antes do evento

Estádio Nacional vazio: os gastos do governo e os financiamentos do governo dos estádios que sediaram os jogos foram alvos de crítica pela oposição (Dean Mouhtaropoulos/Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 24 de outubro de 2014 às 12h43.

São Paulo - A capacidade do Brasil de sediar um evento do porte da Copa do Mundo e os investimentos feitos pela União para viabilizar o torneio foram motivo de discussões frequentes entre governistas e oposicionistas nos últimos dois anos.

Passado o torneio, que aconteceu sem grandes problemas fora de campo, tanto Dilma Rousseff quanto os candidatos de oposição deixaram o tema de lado. A presidente e seu adversário Aécio Neves chegam ao último debate, na noite de hoje, na Globo, sem tratar do assunto.

Levantamento feito pelo Broadcast Político, serviço da Agência Estado de notícias em tempo real, nos dois primeiros debates deste segundo turno - Band e SBT/UOL - mostra que o maior torneio de futebol do mundo raramente foi usado pelos candidatos.

No embate da TV Bandeirantes, nem Dilma nem Aécio citaram a palavra Copa. Já no encontro do SBT, considerado o mais agressivo da campanha até aqui, a palavra Copa foi citada pela presidente Dilma apenas em duas oportunidades: na primeira quando acusou rapidamente os adversários de serem "pessimistas" e depois quando falou do esquema de segurança implantado durante o torneio e que pretende replicar em seu segundo mandato. No debate da Record, a organização do torneio também não foi tema de discussões.

"Não apareceu. Nem o evento nem o que a oposição poderia explorar, que são os custos. Não sei por que não explorou, teria mais apelo do que Petrobras. Há dados, auditoria, documentos", analisa o professor da Fundação Getúlio Vargas Marco Antônio Carvalho Teixeira.

"No mínimo um pedido de explicação em debate poderia ter tido, perguntar por que custou tanto em Brasília, por exemplo", completa.

O espaço dado ao tema durante a campanha é pequeno se comparado à importância da discussão antes do evento. A Copa do Mundo esteve no centro do embate político nos últimos anos.

Muitas das obras de infraestrutura não ficaram prontas e os gastos do governo e os financiamentos do governo dos estádios que sediaram os jogos foram alvos de crítica pela oposição.

A discussão cresceu em junho do ano passado, quando foi realizada a Copa das Confederações e as pessoas foram às ruas querendo saúde, educação e transporte "padrão Fifa".

Desde que Dilma foi vaiada na abertura do torneio preparatório em Brasília, discutiu-se os impactos dos investimentos nos estádios na popularidade da presidente. No início do ano, analistas diziam que um fracasso na organização do torneio poderiam decretar a derrota de Dilma.

A presidente foi xingada no jogo de abertura e o sucesso na organização da Copa foi comemorado pelo governo, mas não entrou no leque de argumentos da campanha pela reeleição da presidente. João Santana criou "Pessimildo", boneco que ironizava os que diziam que a Copa não daria certo, mas o personagem teve vida curta.

"A verdade é que nenhum dos dois lados se sente à vontade para debater a Copa. A oposição apostou em problemas que não ocorreram, mas o governo também preferiu não ressuscitar o debate sobre os gastos com os estádios", analisa cientista político e professor da Universidade Federal de São Carlos, Fernando Azevedo.

Para ele, como nenhum dos lados enxergou uma maneira de tirar vantagem eleitoral do evento, criou-se "um acordo implícito" entre as candidaturas. "São temas que não davam vantagens para nenhum dos dois lados", completa.

Teixeira acredita que um dos motivos de o torneio não ter virado argumento eleitoral da oposição é o fato de ter sido um evento organizado em parceria com Estados governados por vários partidos.

O governo de Minas, então comandado por Aécio Neves, se candidatou e conquistou o direito de sediar o evento. Aécio tentou inclusive que Belo Horizonte fosse o palco do jogo de abertura.

Aproximadamente R$ 2,8 bilhões. Este foi o orçamento apresentado pela candidatura do Brasil à FIFA, ainda em 2007, para construir e reformar os palcos da Copa do Mundo . Após dois grandes aumentos na matriz de gastos (2010 e 2012) e muitos problemas, o Brasil está a quatro meses da competição com a cifra ultrapassando os R$ 8 bilhões, um aumento de 285% em relação ao plano inicial. Há estádio que custou quase o dobro do Soccer City, local da última final entre Espanha x Holanda, na Copa da África do Sul em 2010. Outro estava praticamente pronto e corre o risco de ficar fora do Mundial. Os detalhes e curiosidades estão na lista a seguir, que traz um resumo do que rolou em cada uma das 12 sedes da Copa 2014.
  • 2. Recife: Arena Pernambuco

    2 /11(Divulgação)

  • Veja também

    Previsão inicial: Dezembro de 2012
    Entregue oficialmente: 14 de abril de 2013
    Capacidade FIFA: 42.849 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 46.106 pessoas
    Custo inicial: R$ 529,5 milhões
    Custo final: R$ 532,6 milhões
    Problemas: Distante 19km do centro do Recife, o estádio tem causado problemas aos torcedores que utilizam o transporte público. Na Copa das Confederações o sistema que integra metrô e ônibus ficou muito congestionado
    Curiosidades: Uma usina solar instalada nas proximidades do estádio é capaz de suprir 30% do consumo da Arena. É o primeiro passo para a Cidade da Copa prevista para 2026, que visa trazer desenvolvimento à região oeste do Grande Recife
  • 3. Brasília: Estádio Nacional Mané Garrincha

    3 /11(Mateus Baeta/ Portal da Copa)

  • Previsão inicial: Dezembro de 2012
    Entregue oficialmente: 18 de maio de 2013
    Capacidade FIFA: 68.009 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 72.788 pessoas
    Custo inicial: 745,3 milhões
    Custo final: R$ 1,4 bilhão
    Problemas: Morte de um operário em junho de 2012. O gramado ficou castigado após a sequência de jogos em 2013 e foram observadas goteiras no estádio. Brasília não tem clubes de expressão, o que deixa a sobrevivência do Mané Garrincha dependente do futebol de outras regiões e eventos não ligados ao futebol
    Curiosidades: É a obra mais cara dentre os estádios para a Copa do Mundo 2014 -- custou o dobro do Soccer City, palco da final da última Copa. Foi concebido dentro do estilo arquitetônico da cidade, projetada na década de 50 por Niemayer. Recebeu a abertura da Copa das Confederações
  • 4. Rio de Janeiro: Maracanã

    4 /11(Divulgação/ Consórcio Maracanã 2014)

    Previsão inicial: Dezembro de 2012
    Entregue oficialmente: 2 de junho 2013
    Capacidade FIFA: 73.531 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 78.838 pessoas
    Custo inicial: R$ 600 milhões
    Custo final: R$ 1,05 bilhão
    Problemas: O gramado sofre com a grande quantidade de jogos. Filas extensas foram registradas na compra e retirada de ingressos
    Curiosidades: Os torcedores mais saudosos sentiram falta da famosa “Geral do Maraca” e da rede em formato “Véu de Noiva”. Recebeu a final da Copa das Confederações e vai ser o palco da grande final da Copa do Mundo, em 2014
  • 5. Curitiba: Arena da Baixada

    5 /11(Divulgação)

    Previsão inicial: Dezembro 2012
    Previsão de entrega: Final de abril de 2014
    Capacidade FIFA: 41.456 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 43 mil pessoas
    Orçamento inicial: R$ 184,5 milhões
    Orçamento final: R$ 326,7 milhões
    Problemas: Sofreu com as greves e é o estádio mais atrasado dentre as sedes da Copa. Em janeiro, a FIFA ameaçou retirar a casa do Atlético-PR do mundial e exigiu um acréscimo na quantidade de operários que trabalham na obra. Cerca de 500 trabalhadores foram contratados para a etapa final de construção. No dia 18 de fevereiro, mais uma inspeção será feita para decidir se a Arena tem, ou não, condições de receber jogos da Copa do Mundo
    Curiosidades: Foi o primeiro estádio brasileiro construído no formato de Arena e, por isso, era considerado um dos mais simples a ser reformado, o que não se concretizou
  • 6. Porto Alegre: Beira Rio

    6 /11(Portal da Copa)

    Previsão inicial: Agosto de 2012
    Previsão de entrega: Está 99% pronta 15 de fevereiro de 2014
    Capacidade FIFA: 50.287 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 51.300 pessoas
    Custo inicial: R$ 130 milhões.
    Custo final: R$ 330 milhões
    Problemas: Em 2012, impasses na assinatura do contrato entre o Internacional e a construtora Andrade Gutierrez deixaram as obras paralisadas por oito meses. Uma vistoria realizada em dezembro de 2013 constatou a presença de 63 operários estrangeiros trabalhando de maneira ilegal. A instalação da cobertura demorou a ser iniciada
    Curiosidades: O estádio tem um conceito focado na sustentabilidade. As membranas da cobertura absorvem 65% menos calor. A água da chuva será reaproveitada para irrigação e limpeza. Os banheiros utilizam o sistema de descarga a seco, o que reduz o odor e o piso molhado
  • 7. Natal: Arena das Dunas

    7 /11(Portal da Copa)

    Previsão inicial: Dezembro de 2012
    Entregue oficialmente: 22 de janeiro de 2014
    Capacidade FIFA: 42.086 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 42.000 pessoas (10.600 temporários)
    Custo inicial: R$ 350 milhões
    Custo final: R$ 400 milhões
    Problemas: Alguns problemas de acabamento foram identificados na abertura do estádio. Faltou condicionares de ar em algumas áreas. Em outras era possível observar tapumes remanescentes das obras
    Curiosidades: Com um estilo ousado, a Arena das Dunas surpreendeu pela beleza. É considerada uma das mais bonitas das últimas Copas
  • 8. Cuiabá: Arena Pantanal

    8 /11(Divulgação)

    Previsão inicial: Dezembro 2012
    Previsão de entrega: Está 95% pronta, conclusão para o final de março/ início abril de 2014
    Capacidade FIFA: 42.968 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 44.300 (18 mil temporários)
    Custo inicial: R$ 454,2 milhões
    Custo final: R$ 570 milhões
    Problemas: Está com o cronograma atrasado. O futebol do Mato Grosso carece de clubes com tradição, portanto encher o estádio após a Copa e fazê-lo rentável é um dos grandes desafios do Comitê Organizador Local. O gramado apresentou falhas e teve der ser replantado
    Curiosidades: Houve um princípio de incêndio e um protesto de professores durantes as obras
  • 9. Fortaleza: Arena Castelão

    9 /11(Portal da Copa)

    Previsão inicial: Dezembro 2012
    Entregue oficialmente: 16 de dezembro de 2012
    Capacidade FIFA: 58.704 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 63.903 pessoas
    Custo inicial: R$ 623 milhões
    Custo final: R$ 518,6 milhões
    Problemas: O entorno do estádio ainda apresenta deficiências na questão da mobilidade. Algumas das principais vias estão interditadas por conta das obras, o que prejudica o acesso ao torcedor
    Curiosidades: Foi o primeiro estádio a ficar pronto e o único que custou menos do que o previsto
  • 10. Salvador: Arena Fonte Nova

    10 /11(Governo Federal/Portal da Copa)

    Previsão inicial: Dezembro de 2012
    Entregue oficialmente: 5 de abril de 2013
    Capacidade FIFA: 52.048 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 55 mil pessoas (5 mil lugares provisórios)
    Custo inicial: R$ 591,7 milhões
    Custo final: R$ 689,4 milhões
    Problemas: Torcedores alegaram que existem pontos cegos nas arquibancadas do estádio, que impedem a perfeita visualização da partida
    Curiosidades: Na inauguração da Fonte Nova, torcedores do Bahia, revoltados com a derrota para o rival Vitória, arremessaram Caxirolas no gramado. Após várias discussões, o acarajé, símbolo da culinária da Bahia foi liberado para venda, com o tempero típico das baianas
  • 11. Manaus: Arena Amazônia

    11 /11(Bruno Kelly/Reuters)

    Previsão inicial: Dezembro de 2012
    Previsão de entrega: Está 99% pronta, deve ser inaugurada ainda em fevereiro 2014
    Capacidade FIFA: 42.337 pessoas
    Capacidade Portal da Copa: 44 mil pessoas
    Custo inicial: R$ 515 milhões
    Custo final: 669,5 milhões
    Problemas: Três operários morreram nas obras da Arena Amazônia. As chuvas atrasaram a finalização do estádio. Sem times de expressão, corre o risco de se transformar em um “Elefante Branco”
    Curiosidades: A distância da Arena Manaus para as demais sedes e os altos índices de umidade da região prometem ser um fator negativo para as seleções que irão jogar na Amazônia
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