Brasil

Acusações marcam apuração sobre incêndio no Cerrado

Após o incêndio, o resultado é devastador. No Jardim de Maytreia, uma das mais belas paisagens locais, só restou de pé uma fileira de buritis

Incêndio na Chapada dos Veadeiros: será difícil apurar o caso (lávia Davies/ REDE contra FOGO/Divulgação)

Incêndio na Chapada dos Veadeiros: será difícil apurar o caso (lávia Davies/ REDE contra FOGO/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 29 de outubro de 2017 às 10h36.

Cavalcante (GO) e Teresina de Goiás (GO) - Um avistou uma moto parada na beira da estrada e, logo depois, as chamas se alastrando. Outro notou um carro suspeito em uma estrada de terra e, em seguida, o incêndio cresceu por todos os lados. Alguém chegou a ver o fogo "surgir do nada", no meio da mata. Pagaram R$ 2 mil para o peão queimar geral. Foi só um acidente. Ou é coisa da natureza.

As histórias que correm por Alto Paraíso, Vila de São Jorge, Cavalcante e Teresina de Goiás dão uma ideia da dificuldade que as investigações têm pela frente para encontrar os responsáveis pelo maior desastre ambiental do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

Para especialistas em meio ambiente e combate ao incêndio, porém, não há dúvidas sobre a origem das queimadas: foram atos humanos e, portanto, criminosos. "O fogo atravessou estradas e aceiros de proteção (barreiras para conter o fogo) e chegou do outro lado, em áreas distintas. Nossas perícias já mostram isso. Todas as evidências físicas apontam que (o incêndio) é criminoso", diz Gabriel Constantino Zacharias, chefe do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O que está evidente para Zacharias soa como teoria da conspiração para Pedro Sérgio Beskow, produtor rural em Cavalcante e presidente da Associação Cidadania, Transparência e Participação, que reúne pequenos e médios ruralistas da região. "Estão politizando o incêndio, querendo criminalizar os produtores, quando o responsável por isso é o tempo seco", diz. "Não há por que cometerem esse absurdo, principalmente quando pleiteiam a redução do parque na Justiça. Nosso pessoal não é burro."

Na troca de acusações, sobra suspeita até contra brigadistas, justamente aqueles que são enviados à mata para apagar o fogo e preservar a natureza. "Os brigadistas têm contratos só de seis meses. Já ouvimos relato de gente que fica parada, sem trabalho, e então toca fogo pra voltar a trabalhar", diz o produtor rural Jurani Francisco Maia. Anteontem, o Ministério Público Federal de Goiás instaurou inquérito civil para apurar o incêndio.

O acirramento dos conflitos ambientais tem sido marcado por violência. Nos últimos dias, órgãos ambientais foram atacados no Amazonas quando faziam operação contra o garimpo ilegal. "Vivemos uma guerra contra o ambiente. No caso da Chapada, se ficar comprovado que se trata de ato criminoso, será claramente uma retaliação ao aumento dos limites do parque", afirma Marcio Astrini, do Greenpeace.

Horley Teixeira Luzardo, dono de reserva ambiental privada ao lado do parque, a Fazenda Renascer, prefere hipótese mais natural. "Pode ter sido um acidente, combustão natural. As árvores do Cerrado desenvolveram, ao longo dos séculos, a capacidade de resistir ao fogo. Se o bioma tem essas características, é sinal de que ocorre fogo natural." Especialistas no assunto descartam a possibilidade, por não terem havido raios.

Efeitos

Após o incêndio, o resultado é devastador. No Jardim de Maytreia, uma das mais belas paisagens locais, só restou de pé uma fileira de buritis. No parque, trechos de trilhas foram engolidos pelo fogo.

A expectativa é de que, com a chuva, a vegetação renasça. Ou, ao menos, parte dela. Sobre os animais, resta o lamento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Acompanhe tudo sobre:GoiásIncêndios

Mais de Brasil

Oito pontos para entender a decisão de Dino que suspendeu R$ 4,2 bilhões em emendas de comissão

Ministro dos Transportes vistoria local em que ponte desabou na divisa entre Tocantins e Maranhão

Agência do Banco do Brasil é alvo de assalto com reféns na grande SP

Desde o início do ano, 16 pessoas foram baleadas ao entrarem por engano em favelas do RJ