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Dilma mentiu à nação ao negar que fez barganha, diz Cunha

Um dia depois de acolher pedido de impeachment contra Dilma Rousseff, o presidente da Câmara Eduardo Cunha afirmou que a presidente fez, sim, barganha política

Eduardo Cunha:  (Ueslei Marcelino/Reuters)

Eduardo Cunha: (Ueslei Marcelino/Reuters)

Talita Abrantes

Talita Abrantes

Publicado em 3 de dezembro de 2015 às 12h41.

São Paulo - Um dia depois de acolher pedido de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha  (PMDB-RJ), afirmou que a petista mentiu em pronunciamento quando disse que não participou de barganha política.

Segundo ele, a presidente fez parte, sim, de uma negociação que prometia votos favoráveis a Cunha no Conselho de Ética em troca da aprovação da CPMF. 

De acordo com o peemedebista, na manhã de ontem, o deputado André Moura (PSC-SE), conduzido pelo ministro Jacques Wagner (Casa Civil), teria pedido o comprometimento da presidência da Câmara com a aprovação da CPMF como moeda de troca pelo apoio da bancada petista no processo de cassação do mandato do peemedebista, que tramita no Conselho de Ética.

Segundo o presidente da Câmara, Dilma estava ciente dessa proposta - ao contrário do que sugeriu durante pronunciamento à nação na noite de ontem.  

"A presidente da República mentiu à nação", afirmou Cunha. "É um governo que está habituado à barganhas". 

A presidente Dilma Rousseff durante pronunciamento após o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceitar pedido de impeachment (Ueslei Marcelino/Reuters)

Durante um  curto discurso na noite de ontem, a presidente negou que teria autorizado qualquer negociação para impedir a abertura do processo de impeachment.

"Eu jamais aceitaria ou concordaria com quaisquer tipos de barganha, muito menos aquelas que atentam contra o livre funcionamento das instituições democráticas do meu País, bloqueiam a Justiça ou ofendam os princípios morais e éticos que devem governar a vida pública", afirmou.

 "A barganha foi proposta pelo governo e eu me recusei", disse o peemedebista. "Eu prefiro, com sinceridade, não ter os votos do PT, e ser julgado pelo resto do colegiado”.

Cunha é acusado de quebra de decoro parlamentar por supostamente mentir na CPI da Petrobras sobre a titularidade de contas na Suíça. 

O início do processo

Eduardo Cunha anunciou o acolhimento do pedido de impeachment da presidente Dilma algumas horas depois que a bancada do PT na Câmara optou por votar em favor do prosseguimento do processo de cassação que tramita contra ele no Conselho de Ética. 

O peemedebista negou, contudo, que a decisão seja motivada por razões políticas. Segundo ele, o parecer técnico foi concluído no último sábado.

"Não há condições para postergar mais", afirmou o presidente da Câmara no final da tarde de ontem. "Não tenho nenhuma felicidade de praticar esse ato. A decisão é de muita reflexão e de muita dificuldade".

Os próximos passos 

Por volta das 14h de hoje, Cunha deve ler, no Plenário, o pedido e a sua decisão, que será publicada no Diário da Casa. Na mesma sessão, ele determinará a criação da comissão especial que tem 10 dias para analisar a denúncia e receber a defesa da presidente. Dilma terá 10 sessões do Plenário, a partir da notificação, para apresentar a sua defesa. 

Para que o processo de impeachment seja aberto, dois terços dos deputados devem votar a favor da sua instalação. Se aprovada a deflagração do processo, Dilma ficaria automaticamente afastada por seis meses esperando o resultado. 

Em um julgamento comandado pelo presidente do STF, o Senado então deve decidir, na mesma proporção, se o mandato deve ser interrompido ou não. Entenda o passo a passo

Como o processo de impeachment aceito por Cunha não inclui o vice-presidente, em caso de cassação do mandato de Dilma, quem assume é Michel Temer (PMDB). 

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