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PSL, partido de Bolsonaro, ainda precisa achar sua identidade

O partido terá a segunda maior bancada do Congresso em 2019 e precisará mostrar que tem coesão para dar base a Jair Bolsonaro

O PSL ainda é visto como uma incógnita por especialistas e analistas, especialmente em assuntos econômicos (Nacho Doce/Reuters)

O PSL ainda é visto como uma incógnita por especialistas e analistas, especialmente em assuntos econômicos (Nacho Doce/Reuters)

AJ

André Jankavski

Publicado em 28 de outubro de 2018 às 20h02.

Última atualização em 28 de outubro de 2018 às 20h16.

A votação que elegeu Jair Bolsonaro (PSL) como o 38° presidente do Brasil também consolidou o PSL como uma das principais forças políticas do país. Em 2019, o partido terá 52 deputados, 4 senadores e 3 governadores. Neste ano, a sigla, fundada em 1998 por Luciano Bivar, tem apenas 8 representantes no Congresso. O crescimento acelerado, no entanto, deve trazer diversos desafios para o PSL, um partido ainda sem identidade.

A opinião é compartilhada até mesmo por deputados eleitos pelo próprio partido. “O PSL é uma ameba”, disse a EXAME o príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança, eleito deputado-federal pela legenda nas eleições do dia 7 de outubro.

Na visão de Orleans e Bragança, o partido ainda precisa definir a sua cara e as suas bandeiras. Até agora, segundo o futuro deputado, o que uniu a todos na legenda foi um sentimento “anticomunista” e o respeito e reverência a Jair Bolsonaro. O conservadorismo nos costumes e pautas de endurecimento na segurança pública, nos moldes do governo militar, também são comuns aos candidatos eleitos – 13 deputados e um senador do partido foram eleitos se apresentando diretamente com suas patentes, de cabo a general.

Outros representantes, como os filhos de Bolsonaro, também têm ligações com corporações, como as próprias Forças Armadas e as polícias. As diretrizes econômicas da legenda, no entanto, ainda estão nebulosas. Assim como o candidato Bolsonaro, que deu uma guinada liberal após anos defendendo pautas desenvolvimentistas, os congressistas pesselistas batem cabeça.

Discordâncias na Previdência

A reforma da previdência é um grande exemplo. Alguns futuros deputados falam abertamente da necessidade de uma intervenção mais dura, como a jornalista Joice Hasselman e o economista Paulo Guedes, cotado para ministro da Fazenda em um eventual governo Bolsonaro. Mas há resistências internas. Mesmo a previdência tendo sido responsável por um déficit de 270 bilhões de reais no ano passado, Major Olímpio, atual deputado-federal pelo PSL e eleito senador por São Paulo, não acredita que o rombo seja verdadeiro.

Ele chama a atenção para a quantidade de dívidas que a iniciativa privada tem com o INSS – 450 bilhões de reais, segundo um relatório feito pela CPI da Previdência. O argumento é bem similar aos dados pelos partidos de esquerda para se colocarem contra a reforma proposta pelo presidente Michel Temer.

Para Olímpio, se ocorrer uma votação de reforma com idade mínima aos 65 anos para homens e 62 para mulheres, ele não apoiará. “A proposta foi ancorada em bases falsas. O governo tem que fazer uma auditoria séria sobre a existência ou o tamanho do déficit, mas sem penalizar aqueles que pagam e deixar os que sonegam ao bel prazer'”, diz ele.

Privatizações e apoios

Quando o assunto é privatizações, uma ala defende o enxugamento total do Estado, capitaneada por Guedes, e outra defende que estatais mais estratégicas, como a Petrobras e o Banco do Brasil, sejam poupadas do saldão. “É um partido coeso nas pautas conservadoras religiosas, mas não há nenhuma clareza como o partido irá ser nas questões de reforma. Alguns, inclusive, são antirreformistas”, diz João Villaverde, analista de risco político da consultoria Medley Global Advisors.

Para conseguir fazer os seus projetos andarem, no entanto, o partido precisará buscar uma coesão no Congresso. Pelo menos, até agora, não é a imagem que o PSL vem transparecendo. Prova disso é a opinião díspare no partido a respeito de quem deve ocupar a presidência da Câmara. Uma ala mais ligada ao futuro presidente Jair Bolsonaro defende que Rodrigo Maia (DEM) seja reeleito. Outros deputados eleitos, como Luciano Bivar e Joice Hasselman defendem uma liderança do próprio PSL na Câmara – nem que sejam eles mesmos.

A ameba está dando os primeiros passos. E nem mesmo o conceito dado pelo príncipe é reverberado em meio ao partido. “Eu lamento que o Orleans e Bragança tenha comparado o PSL à uma ameba. Trata-se de um partido em desenvolvimento”, afirma o Major Olimpio. “O único vínculo que ele tem com o partido foi ter se filiado, pois nunca participou de nada.” A missão do PSL, portanto, é mostrar que pode evoluir e trazer mais ganhos aos brasileiros – e que não vai ficar preso ao passado.

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