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Maré vira contra Temer e governo mergulha em problemas

É como se cada nova investida do Ministério Público maculasse mais o presidente e aumentasse as chances de os deputados aceitarem que Temer seja afastado

Michel Temer: traições na base e saída próxima do PSDB (Ueslei Marcelino/Reuters)

Michel Temer: traições na base e saída próxima do PSDB (Ueslei Marcelino/Reuters)

GK

Gian Kojikovski

Publicado em 6 de julho de 2017 às 20h43.

Última atualização em 7 de julho de 2017 às 13h32.

Brasília - No intervalo de poucos dias, o presidente Michel Temer viu seu governo sair do fundo do poço, respirar aliviado e, pouco tempo depois, voltar a mergulhar em problemas.

Temer vinha numa sequência de vitórias: Rodrigo Rocha Loures havia sido solto da prisão; o senador Aécio Neves, principal articulador pelo apoio do PSDB ao governo, voltou ao Senado; a denúncia por corrupção passiva parecia não ter muito futuro, já que a maioria dos deputados indicava que a rejeitaria; enfim, os tão esperados “fatos novos” eram positivos. Mas como tudo nos últimos tempos no Brasil, a maré virou rapidamente. Temer termina esta semana com uma série de notícias ruins sobre o futuro de seu mandato.

“O clima está virando. Isso é fato. Existem muitas sinalizações sendo feitas e a vida do presidente está ficando mais complicada”, diz a EXAME Hoje um deputado influente de um importante partido da base do governo.

A sucessão de fatos negativos impressiona. O ex-ministro Geddel Vieira Lima, foi preso na segunda-feira (03); o PSDB de Aécio movimentou-se pelo desembarque e está mais fora do que dentro do governo; o ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro Lúcio Funaro estão próximos de fechar uma delação premiada que cairia como uma bomba para o presidente; o escolhido para relatar a denúncia contra o Temer na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), não era o favorito do governo e abriu a possibilidade de um parecer contrário aos desejos do Planalto e, para terminar, cada vez mais deputados declaram que votarão pela continuação da investigação contra o presidente quando a denúncia de corrupção passiva chegar ao plenário.

Atingir o número de 342 votos para que a denúncia siga sua tramitação e seja avaliada pelo Supremo Tribunal Federal ainda é complicado para a oposição, mas passou a ser algo tangível. Se não nesta primeira denúncia, ao menos em uma das outras prováveis três (organização criminosa, prevaricação e obstrução de Justiça) que estão na ponta das flechas do procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

É como se cada nova investida do Ministério Público maculasse mais o presidente e aumentasse as chances de os deputados aceitarem que Temer seja afastado por 180 dias enquanto é investigado. No entanto, a depender do trâmite desta primeira denúncia, pode ser que humor dos deputados mude ainda no decorrer dessa tramitação.

O presidente da CCJ, Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), mesmo partido do presidente, não faz questão nenhuma de facilitar a vida de Temer e disse que o parecer do relator, que deve ser apresentado na segunda-feira (10) vai ter sua análise completa, o que deve fazer que ele não seja votado antes do recesso, que deve começar na próxima sexta (14).

“Acredito que essa primeira denúncia será aceita”, diz o deputado Irajá Abreu (PSD-TO). “E quanto mais tempo até ela ser votada no plenário, maior a chance de isso acontecer.

A ideia do governo era se livrar desse fardo o mais rápido possível, o que não deve acontecer. Com a tramitação entrando no recesso, duas coisas podem acontecer: o recesso ser cancelado ou a votação da denúncia ficar para o começo de agosto.

Insistir para cancelar a folga dos parlamentares pode não ser uma boa opção para quem depende do voto deles. Com duas semanas a mais para que surja um fato novo — como um vazamento do roteiro da delação de Eduardo Cunha — a situação do presidente ficaria delicada.

Para complicar a vida do governo, o fiel escudeiro até aqui, Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara e que assume a República caso Temer seja afastado, parece estar flertando com a possibilidade.

Com a ida de Temer para o encontro de cúpula do G20, na Alemanha, Maia viajou para a Argentina para evitar assumir a presidência interinamente. A medida foi vista como uma forma de demarcar um certo distanciamento do presidente.

O desembarque do PSDB está mais próximo. O presidente interino da legenda, o senador Tasso Jereissati afirmou na tarde desta quinta-feira, em entrevista ao jornal O Globo, que “estamos chegando na ingovernabilidade e tem que haver agora um acordo para dar estabilidade mínima para se chegar a 2018”.

O senador ainda defendeu que Maia “tem condições de juntar os partidos ao redor de um nível mínimo de estabilidade que o país precisa”. Na visão de Tasso, a melhor saída é Maia na presidência com a mesma equipe econômica de Temer.

Seis dos sete tucanos da CCJ devem votar na comissão para que a denúncia contra o presidente tenha prosseguimento. Além de Tasso, outros caciques do PSDB fizeram chegar ao deputado carioca que ele teria apoio para uma eventual presidência.

Para um deputado da base de Temer que é próximo ao PSDB, está claro para todos os deputados que o anúncio de debandada dos tucanos não deve demorar.  “Essa posição do PSDB é esdrúxula. Imagina só: marcar uma data para sair do governo? Não faz sentido””, diz.

O aceno do PSDB para Rodrigo Maia seria uma forma de amarrar, também, o Democratas, partido do presidente da Câmara, à saída dos tucanos da base. Os tucanos sabem que Maia é influente na sigla e que a situação do partido ficaria esquisita ao não apoiar explicitamente um presidenciável vindo de dentro dos seus quadros. O líder do DEM na Câmara, deputado Efraim Filho (PB) nega. “O Democratas tem convicção de suas posições e não é influenciável por outras bancadas. Além disso, temos uma bancada muito unida, que decide junta o que faz”, disse a EXAME Hoje.

O futuro das reformas

Uma importante questão que fica em aberto com a possibilidade de saída de Michel Temer do cargo é o futuro das reformas propostas, principalmente a da Previdência, já que a trabalhista está pronta para ser aprovada na próxima semana.

Não resta dúvida que os enroscos que pesam contra o presidente acabaram o transformando no principal empecilho da própria agenda reformista.

A votação da reforma da Previdência na Câmara, por exemplo, que havia sido programada para o primeiro semestre, já perdeu o prazo e não há uma previsão para quando poderia acontecer.

Mesmo assim, ainda resta dúvida entre empresários se a saída de Temer seria o melhor caminho para a aprovação dessa agenda.

Até por isso não se vê um apoio de entidades como CNI e Fiesp à saída do presidente, como aconteceu no momento do impeachment de Dilma Rousseff.

Os empresários parecem já terem “precificado” a ida de Temer até 2018.

Isso não significa, porém, que o rumo não vá mudar. Um “fato novo” poderia reacender a chama dos protestos e azedar de vez o clima na base governista.

Como o Congresso, principalmente a Câmara dos Deputados, é movido pelos interesses próprios, novas manifestações podem ser importantes para que a denúncia seja aceita.

As eleições de 2018 estão à porta e todos os deputados terão que pedir votos nas ruas novamente — e eles estão de olho nisso, mesmo que tenham que deixar Temer pelo caminho.

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