A dança das cadeiras dos deputados que votarão o impeachment

São Paulo – Duas novidades que tomaram forma nas últimas semanas prometem complicar a vida da presidente Dilma Rousseff quando o assunto é impeachment . A primeira e mais importante tomou ares oficiais na última terça-feira (29), com a saída do PMDB da base aliada.

Há tempos Dilma não era uma unanimidade entre os congressistas do partido, mas perde uma parcela importante de votos que poderiam ajudá-la a enterrar o pedido de impeachment que corre em plenário.

Outra é a PEC 113/2015, famosa por abrir uma “janela partidária” na Câmara dos Deputados entre os dias 18 de fevereiro e 18 de março, dando o direito a parlamentares trocarem de legenda sem consequências de fidelidade partidária.

Só nestes 30 dias, 97 deputados federais eleitos registraram alguma mudança de partido pela nova regra.

O levantamento foi feito com base nos anúncios de parlamentares à Câmara, medida obrigatória sempre que o político faz a troca. Foram compilados os anúncios até 29 de fevereiro — as trocas foram permitidas até dia 18, mas os deputados não tem data limite para notificar a Câmara sobre as trocas, gerando anúncios tardios.

A saber, desde o início da legislatura em 2015, foram 107 mudanças, ou seja, 21% de todos os eleitos. Cinco deputados trocaram três vezes de partido em apenas 453 dias. (Veja abaixo a lista completa de trocas)

Quando foi eleita, em 2014, a presidente Dilma tinha em suas mãos a maior bancada da Câmara dos Deputados. O PT liderava o número de parlamentares, com 69 integrantes, e somava 304 cabeças somando-os à coligação com PMDB , PSD , PP , PR , Pros, PDT , PCdoB e PRB .

Em miúdos: apesar de ter perdido 36 cadeiras na eleição, Dilma poderia chegar ao segundo mandato com quase 60% da Casa.

Acontece que desde o início, esse número é quebrado. Então segundo da lista, o PMDB estava dividido sobre a aliança com o PT de tal forma que cerca 42% dos presentes à Convenção do partido foram contrários à coligação. Buscando poder próprio, o partido lançou chapa de candidatura à presidência da Câmara, liderada por Eduardo Cunha — o resultado se conhece.

Com as mudanças, a situação só se agrava. O PT perdeu seis parlamentares e ganhou zero. O PMDB — que perdeu sete, mas ganhou 10 — assumiu a ponta com 68 deputados. Justamente a maior bancada saiu do governo Dilma às vésperas da votação mais importante de sua vida política.

Dentro de sua base, saiu-se bem o PP, que arrecadou mais 10 nomes aos 38 que tinha. O PR ganhou outros seis.

Em compensação, o PRB foi mais um a abandonar o barco. Junto com a legenda, saem da base 22 cabeças. O Pros, que também fazia parte da base, foi o partido que mais perdeu representatividade na Casa, saindo da 14ª maior bancada para a 21ª colocação, com sete deputados a menos.

O aprofundamento das investigações da Operação Lava Jato , que trazem figurões do governo cada dia para mais perto do escândalo, abriram ainda mais fraturas em suas alianças a ponto de uma suposta maioria transformar-se em nada. Até a votação, periga haver novas deserções.

Hoje, governistas articulam para conseguir apoio e contam, um a um, quantos votos ainda precisam para arquivar o pedido no plenário. Dilma precisa de 171 apoiadores e corre o risco de não conseguir.

Boa parte dos desertores, porém, ainda não demonstrou uma posição clara a favor do impeachment — preferem a distância do governo, por enquanto. Isso tudo torna o jogo político ainda mais enigmático até a data da votação, prevista para o dia 14 de abril.

OPOSIÇÃO

Como alento a Dilma, os partidos de oposição não cresceram consideravelmente, excluindo a migração de partidos inteiros para fora da coligação.

Durante as eleições, PSDB , PMN, SD, DEM , PEN, PTN, PTB, PTC e PTdoB fizeram parte da chapa de Aécio e elegeram 127 deputados — PPS e PSB entraram depois.

Os tucanos, maior nome de oposição, perderam uma cadeira. O DEM registrou crescimento, com mais sete representantes na lista.

Apesar de bancada pequena, o PTN foi o que mais cresceu com as mudanças — de quatro para 13 deputados. Ainda assim, é um partido que recentemente se posicionou contra o impeachment. O PTB também registrou mudança significativa, saindo das 10 maiores bancadas da Câmara, com menos 6 cadeiras.