Acompanhe:

A crise que está ameaçando o acarajé no Brasil

Consumidoras finais de azeite de dendê e de óleo de palma, as vendedoras de acarajé não podem repassar o encarecimento das matérias-primas aos consumidores

Modo escuro

Continua após a publicidade
Acarajé: famosa iguaria vive fase de declínio (Rita Barreto/setur.ba.gov.br/Agência Brasil)

Acarajé: famosa iguaria vive fase de declínio (Rita Barreto/setur.ba.gov.br/Agência Brasil)

A
Agência Brasil

Publicado em 17 de agosto de 2020 às, 09h19.

Última atualização em 23 de agosto de 2020 às, 20h57.

Um dos pratos mais tradicionais da culinária brasileira, o acarajé está ameaçado e tem vivido um período de declínio. A crise é antiga e pouco tem a ver com a pandemia do coronavírus.

O inimigo do acarajé é outro. Tombado como patrimônio cultural pelo Iphan, o ofício das baianas de acarajé enfrenta o declínio da produção de azeite de dendê, um dos principais ingredientes para a produção do petisco.

Por trás da escassez de dendê, está a queda na produtividade dos extrativistas. Tradicionalmente, o azeite de dendê vem de oito municípios da costa sul da Bahia, em esquema de produção familiar, com pequenos produtores que não recebem assistência tecnológica. Desde 2017, a produção caiu 37,8%, segundo o Sindicato dos Produtores Rurais de Nazaré (BA). Somente no primeiro semestre deste ano, a produção foi 7,8% inferior ao do mesmo período do ano passado.

Normalmente, as baianas usam o óleo de palma produzido no Pará para substituir o azeite amarelo-avermelhado, mas a produção paraense está sendo cada vez mais destinada à exportação e para a produção de biodiesel.

Na insuficiência de óleo de palma, as vendedoras de acarajé têm recorrido aos estoques de azeite de dendê. A pandemia do novo coronavírus, que afetou o turismo e diminuiu a demanda, aliviou a situação por alguns meses, mas a reabertura da economia pôs a escassez novamente em evidência. Com os estoques de azeite de dendê praticamente zerados, o preço do vasilhame de 16 litros dobrou, passando de R$ 65 para uma faixa entre R$ 125 e R$ 130 de abril para agosto.

As vendedoras de acarajé representam o elo mais frágil de uma batalha de mercado. Consumidoras finais de azeite de dendê e de óleo de palma, elas não podem repassar o encarecimento das matérias-primas para os preços por causa do desaquecimento da economia. No auge da pandemia, a maioria parou de trabalhar e só agora está reabrindo os negócios, com preocupação.

“A nossa situação está desesperadora. Agora que as baianas estão retornando, não conseguem comprar o azeite. E, quando conseguem, não podem repassar essa alta [do preço da matéria-prima] para os clientes“, diz Rita Santos, presidente da Associação Nacional das Baianas de Acarajé, Beiju, Mingau e Similares (Abam). A entidade lançou uma campanha de doação para aliviar a situação das vendedoras mais afetadas.

Uma medida tomada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) na última quinta-feira (13) poderá beneficiar indiretamente o acarajé. A redução temporária de 12% para 10% na mistura de biodiesel no diesel poderá contribuir para aliviar a escassez de azeite que ameaça o futuro das vendedoras de acarajé.

Segundo Rita Santos, a redução da mistura de biodiesel alivia temporariamente a situação das vendedoras de acarajé. Para ela, o problema das vendedoras de acarajé só será resolvido com investimento maciço do governo nos pequenos produtores.

“A medida da ANP é uma ajuda importante, mas pequena porque a gente enfrenta a concorrência com a Petrobras, que compra tudo, e porque o verdadeiro problema está nos produtores de dendê da Bahia. Eles usam equipamentos muito defasados, principalmente para armazenar o óleo. Os tonéis, que hoje estão enferrujados, deveriam ser em aço inoxidável. Eles também precisam investir em plantio de novos pés”, explica Rita.

Combustível

Em relação à produção de combustível, a retomada da atividade econômica também agravou o problema. Ao anunciar a redução da mistura do biodiesel no diesel, a ANP tinha informado que a medida foi necessária para dar continuidade ao abastecimento nacional, porque a demanda por diesel B continuou alta no início da pandemia e deverá aumentar com a reabertura dos negócios. Em nota, a BR Distribuidora, considerou a decisão acertada, mas cobrou medidas mais urgentes, ainda para agosto, para manter o equilíbrio no fornecimento.

Últimas Notícias

Ver mais
Bruno Reis, pré-candidato à reeleição, lidera disputa à prefeitura de Salvador, aponta pesquisa
Brasil

Bruno Reis, pré-candidato à reeleição, lidera disputa à prefeitura de Salvador, aponta pesquisa

Há um dia

Sommelière dá dicas de como harmonizar cerveja e chocolate
Casual

Sommelière dá dicas de como harmonizar cerveja e chocolate

Há 2 dias

Confeitaria dedicada ao pistache cria ovo de Páscoa de R$ 2.799
Casual

Confeitaria dedicada ao pistache cria ovo de Páscoa de R$ 2.799

Há 2 dias

Janaína Torres é eleita a melhor chef mulher do mundo, segundo ranking 50 Best
Casual

Janaína Torres é eleita a melhor chef mulher do mundo, segundo ranking 50 Best

Há uma semana

Continua após a publicidade
icon

Branded contents

Ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

Leia mais