São Paulo - A tão esperada chuva finalmente veio para São Paulo. Neste mês de fevereiro choveu mais do que a média histórica para o período, o que trouxe um alívio para quem já estava com medo de passar os próximos meses totalmente na seca.
Porém, especialistas ouvidos pela reportagem alertam: essa chuva foi só um respiro. A situação de São Paulo continua crítica -- a cidade tem menos água do que no ano passado, e o solo dos reservatórios está seco, o que dificulta o armazenamento.
A conclusão é que, se não quiserem um racionamento, os paulistanos devem manter a economia da água e torcer para a chuva continuar pelos próximos meses.
Saldo negativo
Com as chuvas das últimas semanas, o nível do sistema Cantareira subiu de 5% para 10%. Porém, de acordo com Antônio Carlos Zuffo, professor da Unicamp, este número esconde a verdadeira situação dos reservatórios do sistema. “Na verdade, nosso saldo é negativo, estamos em -20%”, afirma.
Zuffo explica que, quando a Sabesp começou a usar o volume morto do Cantareira, a empresa mudou o nível de referência. “Eles mudaram o zero de lugar. Já passamos do 0% do volume útil”, diz.
O professor alerta que, mesmo com as últimas chuvas, a situação é muito mais preocupante que a do ano passado. No final de abril de 2014, o nível do Cantareira também era de 10%. Porém, esse número não contava com o volume morto. “Para chegarmos em abril de 2015 com o mesmo patamar que tínhamos em abril de 2014 precisamos subir 30%. Estamos no saldo negativo”, explica Zuffo.
Pelas contas do professor, São Paulo precisaria de mais 60 dias de chuvas como as da última semana para chegar nesse patamar. Ou seja, muita água ainda precisa rolar para que a cidade tenha uma situação minimamente segura. Não se pode esquecer que, depois de abril, começa o período seco.
Efeito esponja
Outro fator a ser levado em consideração é a capacidade dos reservatórios de reter essa água. O especialista em recursos hídricos José Roberto Kachel explica que, como o solo está seco, uma parcela menor da chuva fica armazenada.
“Isso acontece por causa do efeito esponja. Se as chuvas forem muito esparsas, quem puxa a água é o subsolo, e então ela não fica armazenada no reservatório”, afirma.
Com isso, mesmo com a chuva acima da média em fevereiro, a vazão afluente do Cantareira (ou seja, a água que entra no sistema) ficou 46% abaixo do esperado.
Para se ter uma ideia, a média histórica da vazão afluente do Cantareira para fevereiro é de 65,41 metros cúbicos por segundo. Neste mês, a média foi de 38,54 m³/s até o dia de hoje. “Desde 2012 que as vazões médias estão diminuindo. O sistema estava nos avisando que iria secar”, afirma Kachel.
Menos economia
Com este cenário, mesmo com vinda das chuvas, o paulistano deve se manter firme na economia de água. No entanto, na opinião dos especialistas, não é isso que está acontecendo. “Com a notícia de que o reservatório está se enchendo, já teve gente voltou a tomar banho de meia hora”, afirma Zuffo, da Unicamp.
Para que ninguém deixe de economizar, é fundamental que o governo reforce as campanhas de comunicação e deixe claro para a população que a situação continua crítica, afirma Samuel Barrêto, especialista em recursos hídricos da ONG The Nature Conservancy. “Infelizmente, não estamos salvos. O governo precisa dizer isso de forma mais enfática”, afirma.
Para os especialistas ouvidos por EXAME.com, o racionamento de água permanece como uma possiblidade no horizonte. Por isso, segundo Barrêto, também é preciso que o governo estadual divulgue para a população um plano de emergencial mais amplo, inclusive com os cenários em que é previsto um racionamento.
“As pessoas precisam ser informadas com antecedência. A gente ainda sente falta de maior clareza nessa comunicação”, afirma.
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1. Uma história de ataques e danos
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São Paulo - A relação das cidades com as
águas é um negócio curioso. Os homens sempre procuraram se fixar ao longo dos grandes rios para ter água e vias de transporte próximas. Ao mesmo tempo, o desenvolvimento urbano acarretou a deterioração desses recursos hídricos, comprometendo sua quantidade e qualidade. No maior estado do Brasil, não foi diferente. A história de São Paulo com seus rios é marcada por ataques e danos, que se repetem até hoje e nos ajudam a entender a crise hídrica que assombra a região de um jeito diferente
— mais integrado. Veja nas fotos 10 números que mostram o descaso do Estado paulista com este bem tão precioso.
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2. Passe livre para poluir
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Tão importante quanto ter água em quantidade é ter água de boa qualidade. São Paulo deixa de tratar quase 57% dos esgotos gerados, segundo dados do Sistema Nacional de Informações de Saneamento Básico do Ministério das Cidades. Toda essa água suja ameaça as reservas limpas e encarece os custos de tratamento no futuro.
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3. Zero tratamento
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Entre os 645 municípios do Estado, pelo menos 60 não possuem tratamento algum de esgoto. Sem rede adequada, todo o esgoto gerado vai parar nos rios próximos. Em todos eles, a coleta de esgoto não passa de 40% dos domicílios.
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4. Ainda tem gente sem acesso à coleta de esgoto
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Quase 25% da população do Estado de São Paulo ainda não conta com serviços de coleta de esgoto. Quem mora nessas situações, precisa recorrer a métodos de risco para a saúde, como o uso de fossa negra.
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5. Desperdício
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De cada 100 litros de água coletada e tratada, apenas 66 litros chegam são e salvos na casa dos paulistas. Os outros 34 litros ficam pelo caminho. Ligações clandestinas, vazamentos, obras mal executadas ou medições incorretas no consumo de água são as principais causas das perdas. Um quadro imperdoável para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso.
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6. Despejo ilegal
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No entanto, nem toda a água que sai das indústrias em forma de esgoto retorna limpa para o meio ambiente, como deveria acontecer. A cada hora, as indústrias paulistas descartam cerca de dez milhões de efluentes cheios de resíduos tóxicos e sem tratamento algum nos rios e lagos dos municípios de São Paulo. Por dia, o descarte ilegal de esgoto industrial daria para encher dois lagos do Parque Ibirapuera, segundo estudo feito pela Grupo de Economia da Infraestrutura e Soluções Ambientais, da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
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7. Descaso com as áreas verdes piora a crise
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Nos últimos 50 anos, a região da Cantareira teve quase 80% de sua vegetação nativa desmatada, segundo um
levantamento feito pela Fundação SOS Mata Atlântica. Atualmente, restam apenas 21,5% da cobertura original nas bacias hidrográficas e nos 2.270 quilômetros quadrados do conjunto de seis represas que compõem o Sistema Cantareira. Os impactos do
desmatamento em áreas de manancial são significativos. A floresta tem papel essencial na prevenção de secas, pois reabastece os lençóis freáticos e impede a erosão do solo e o assoreamento de rios.
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8. "Joga no rio que o rio resolve"
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A política do laissez-faire com relação ao manejo do lixo resulta em situações como a que deixou atônita a população da região de Salto, em Sorocaba, em julho do ano passado. Por conta da estiagem severa, o Rio Tietê, que corta o centro da cidade, transformou-se num fio de água e expôs toneladas de lixo acumulado ao longo de décadas.
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9. Clandestinidade impera
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Na grande maioria dos casos é dos poços artesianos que os caminhões pipa retiram água. A cidade de São Paulo tem cerca de 2000 poços outorgados pelo DAEE, mas especialistas do setor estimam em mais de 8 mil o número de clandestinos, que incluem tantos poços operantes, como paralisados.
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10. Rodízio "vetado"
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O rodízio de água era a primeira opção apresentada pela Sabesp para contornar os níveis decadentes do sistema Cantareira. O plano foi formalmente entregue em janeiro de 2014 ao Departamento de Águas e Energia Elétrica de São Paulo (DAEE), mas foi descartado pelo governo Alckmin. Na ocasião, o rodízio proposto era de 48 horas com água e 24 horas sem para as localidades atendidas pelo Cantareira. Se tivesse sido implementada há um ano, a medida poderia ter resultado em uma economia de 120 bilhões de litros em 2014.
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11. Tietê na UTI
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O mais importante rio do estado de São Paulo também é o mais poluído do Brasil, segundo o levantamento “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”, do IBGE.
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12. Água no ralo
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