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A chuva de fevereiro já salvou São Paulo da crise da água?

A situação de São Paulo continua crítica: estamos com menos água do que no ano passado, e o solo dos reservatórios está seco, o que dificulta o armazenamento.

Chuva (Thinkstock)

Chuva (Thinkstock)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 20 de fevereiro de 2015 às 14h03.

São Paulo - A tão esperada chuva finalmente veio para São Paulo. Neste mês de fevereiro choveu mais do que a média histórica para o período, o que trouxe um alívio para quem já estava com medo de passar os próximos meses totalmente na seca.

Porém, especialistas ouvidos pela reportagem alertam: essa chuva foi só um respiro. A situação de São Paulo continua crítica -- a cidade tem menos água do que no ano passado, e o solo dos reservatórios está seco, o que dificulta o armazenamento.

A conclusão é que, se não quiserem um racionamento, os paulistanos devem manter a economia da água e torcer para a chuva continuar pelos próximos meses.

Saldo negativo

Com as chuvas das últimas semanas, o nível do sistema Cantareira subiu de 5% para 10%. Porém, de acordo com Antônio Carlos Zuffo, professor da Unicamp, este número esconde a verdadeira situação dos reservatórios do sistema. “Na verdade, nosso saldo é negativo, estamos em -20%”, afirma.

Zuffo explica que, quando a Sabesp começou a usar o volume morto do Cantareira, a empresa mudou o nível de referência. “Eles mudaram o zero de lugar. Já passamos do 0% do volume útil”, diz.

O professor alerta que, mesmo com as últimas chuvas, a situação é muito mais preocupante que a do ano passado. No final de abril de 2014, o nível do Cantareira também era de 10%. Porém, esse número não contava com o volume morto. “Para chegarmos em abril de 2015 com o mesmo patamar que tínhamos em abril de 2014 precisamos subir 30%. Estamos no saldo negativo”, explica Zuffo.

Pelas contas do professor, São Paulo precisaria de mais 60 dias de chuvas como as da última semana para chegar nesse patamar. Ou seja, muita água ainda precisa rolar para que a cidade tenha uma situação minimamente segura. Não se pode esquecer que, depois de abril, começa o período seco.

Efeito esponja

Outro fator a ser levado em consideração é a capacidade dos reservatórios de reter essa água. O especialista em recursos hídricos José Roberto Kachel explica que, como o solo está seco, uma parcela menor da chuva fica armazenada.

“Isso acontece por causa do efeito esponja. Se as chuvas forem muito esparsas, quem puxa a água é o subsolo, e então ela não fica armazenada no reservatório”, afirma.

Com isso, mesmo com a chuva acima da média em fevereiro, a vazão afluente do Cantareira (ou seja, a água que entra no sistema) ficou 46% abaixo do esperado.

Para se ter uma ideia, a média histórica da vazão afluente do Cantareira para fevereiro é de 65,41 metros cúbicos por segundo. Neste mês, a média foi de 38,54 m³/s até o dia de hoje. “Desde 2012 que as vazões médias estão diminuindo. O sistema estava nos avisando que iria secar”, afirma Kachel.

Menos economia

Com este cenário, mesmo com vinda das chuvas, o paulistano deve se manter firme na economia de água. No entanto, na opinião dos especialistas, não é isso que está acontecendo. “Com a notícia de que o reservatório está se enchendo, já teve gente voltou a tomar banho de meia hora”, afirma Zuffo, da Unicamp.

Para que ninguém deixe de economizar, é fundamental que o governo reforce as campanhas de comunicação e deixe claro para a população que a situação continua crítica, afirma Samuel Barrêto, especialista em recursos hídricos da ONG The Nature Conservancy. “Infelizmente, não estamos salvos. O governo precisa dizer isso de forma mais enfática”, afirma.

Para os especialistas ouvidos por EXAME.com, o racionamento de água permanece como uma possiblidade no horizonte. Por isso, segundo Barrêto, também é preciso que o governo estadual divulgue para a população um plano de emergencial mais amplo, inclusive com os cenários em que é previsto um racionamento.

“As pessoas precisam ser informadas com antecedência. A gente ainda sente falta de maior clareza nessa comunicação”, afirma.

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