A bola de neve do desemprego
Thais Folego Dentre todas as variáveis econômicas com viés de alta no Brasil, uma em especial continua pintada de vermelho – o desemprego. É uma dinâmica perversa: enquanto o número de pessoas em busca de trabalho só aumenta, o número de postos de trabalho só cai. O contingente de desempregados no país cresceu em 3,2 […]
Da Redação
Publicado em 11 de agosto de 2016 às 13h32.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h21.
Thais Folego
Dentre todas as variáveis econômicas com viés de alta no Brasil, uma em especial continua pintada de vermelho – o desemprego. É uma dinâmica perversa: enquanto o número de pessoas em busca de trabalho só aumenta, o número de postos de trabalho só cai. O contingente de desempregados no país cresceu em 3,2 milhões nos últimos 12 meses, chegando ao recorde de 11,6 milhões em junho. Mas a quantidade de pessoas procurando emprego não aumenta apenas por uma questão demográfica e pelo fechamento de vagas, mas também devido a um fenômeno de retroalimentação que o desemprego possui.
“Com o agravamento da situação da economia, quando os chefes de família perdem o emprego outros membros da família que estavam fora do mercado de trabalho, estudando ou em casa, passam a procurar emprego para recompor a renda perdida, engrossando o número de pessoas desempregadas”, explica Sérgio Firpo, professor do Insper. Segundo ele, para cada chefe de família desempregado outras duas pessoas passam a também procurar trabalho.
Dragar as pessoas que antes estavam nas salas de aula para as longas filas de desempregados não só compromete o bem estar social atual como também pode acarretar um contingente de força de trabalho menos qualificada no médio prazo. A conclusão: enquanto a economia não se recuperar e gerar postos de trabalho para que os chefes de família voltem a trabalhar, a taxa de desemprego não vai cair.
Para que a taxa de desemprego do país – hoje em 11,3% – recue também é necessário que a criação de vagas seja maior do que o número de pessoas que naturalmente entram no mercado de trabalho. O número de pessoas que entram na força de trabalho cresce em média 2% ao ano no Brasil.
“A recuperação econômica até 2017 não será suficiente para gerar o número de ocupações que dê conta do número de pessoas que vão ingressar no mercado de trabalho”, diz Thiago Curado, economista da 4E Consultoria. Com isso, mesmo que o número de vagas volte a crescer, a taxa de desemprego pode continuar em alta. É por isso que a consultoria estima que a taxa de desemprego vá subir até 13,1% até o fim do ano, aumente para 13,8% em 2017 e comece a recuar apenas em 2018, para 13,6%.
Informalidade em alta
As poucas vagas que são criadas no país hoje são de empregos informais, ou seja, sem carteira assinada. Em situações de crise econômica como a que o Brasil vive, quando uma pessoa perde o emprego com carteira assinada e não encontra outro, ela tende a migrar para uma ocupação por conta própria ou para um trabalho sem carteira assinada. Este último é o que tem a remuneração mais baixa, só perdendo para o trabalho doméstico.
“O trabalho informal é a pior forma de inserção em termos de rendimento. O seu aumento não significa nem indica melhora do mercado, que só virá com o aumento do rendimento”, diz Cimar Azeredo, coordenador de trabalho e renda do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O rendimento real do empregado do setor privado com carteira assinada é de 1.887 reais, do trabalhador por conta própria é de 1.502 reais, do empregado sem carteira é de 1.197 e do trabalhador doméstico é de 804 reais.
Os últimos dados de desemprego divulgados pelo IBGE mostram que o trabalho com carteira assinada continua num forte movimento de fechamento de vagas: 1,5 milhão nos 12 meses terminados em junho. Parte dessas pessoas migraram para trabalhos por conta própria, cujo número de ocupações aumentou 857.000. O número de pessoas em serviços domésticos também cresceu no período (225.000).
O crescimento das vagas sem carteira assinada reverte o movimento de formalização pelo qual o mercado de trabalho brasileiro passou nos últimos 15 anos. Os anos de avanço contínuo da economia e expansão do crédito levaram ao crescimento das empresas, do número de empregos de melhor qualidade e, consequentemente, da produtividade. “O setor informal tem menos capacidade de alavancar a economia, porque tem pouco potencial de crescimento e também de geração de empregos”, diz Curado, da 4E Consultoria. Ele lembra que do ponto de vista fiscal a informalidade também gera uma dificuldade adicional para a arrecadação do governo.
O país das amarras
O Brasil convive há 80 anos com as mesmas regras trabalhistas, que não refletem o cenário atual. “A CLT legisla sobre tudo: a jornada de trabalho, horário de almoço, intervalo de descanso e benefícios. É um pacote fechado, o empregador e o trabalhador não podem negociar nada. Talvez se ele pudesse negociar a redução da jornada e suspensão temporária do contrato em períodos de crise poderia preservar o emprego”, diz Firpo, do Insper.
Como o custo de contratação formal no país é muito caro, e ainda há muita incerteza sobre a atividade econômica e sobre a crise política, as empresas ficam reticentes em contratar. No Brasil, em média para cada 1 real de salário pago ao trabalhador, o empregador tem mais 1 real de custos trabalhistas.
Como é bastante improvável que o governo e o Congresso queiram discutir reformas trabalhistas em pleno ano eleitoral, nos resta torcer para a economia se recuperar o mais rápido possível.