5 questões que a polícia precisa responder sobre Santa Maria
Se a polícia conseguir responder as 5 questões a seguir, será possível mensurar a possível culpa dos proprietários da boate Kiss, da banda e até do governo
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
São Paulo – Dois dias após a tragédia que vitimou 231 vidas - deixando ainda em risco de morte outras 75 pessoas – veja as questões que permanecem em aberto e, se esclarecidas pela polícia, poderão apontar as responsabilidades no incêndio .
1) As imagens das câmeras da Kiss sumiram ou nunca existiram?
Uma das razões para a prisão temporária dos dois donos da boate Kiss, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, é que eles poderiam estar atuando para esconder provas, tais como as imagens do circuito interno da boate. O delegado Sandro Meinerz, um dos responsáveis pelas investigações, disse que parecia que “os fios tinham sido arrancados” para que elas não fossem descobertas. Os donos alegam que o dispositivo de filmagem não funcionava há três meses. “Trabalhamos com a possibilidade bastante grande de que realmente não existissem”, disse no fim do dia de ontem o delegado Marcelo Arigony. A caixa registradora do estabelecimento também não foi encontrada pela polícia. Ela mostraria quantas pessoas havia no local naquela noite.
Pode complicar para quem: os proprietários. O Ministério Público já mostrou ter intenção de indiciar os dois donos por homicídio com dolo eventual (quando a pessoa assume o risco de matar) em vez de culposo (sem intenção) por causa dessas suspeita de destruição de provas.
2) A boate estava lotada?
A polícia afirmou em dado momento que estima que houvesse entre 600 e 1.000 pessoas na festa. Segundo o Corpo de Bombeiros de Santa Maria, o número máximo autorizado pela corporação seria 691. A questão é prioritária porque a superlotação pode ter contribuído para que 231 pessoas morressem no domingo, já que a boate não teria como dar vazão em uma emergência a um número tão grande de pessoas. Até o momento, porém, a própria polícia disse ainda não ter certeza da capacidade máxima autorizada da boate, em um pronunciamento ontem à noite.
Pode complicar para quem: os proprietários, se for confirmado que o estabelecimento aceitou a entrada de mais gente do que sua capacidade permitia.
3) As chamas realmente começaram com o “sputnik”?
A polícia disse que testemunhas apontaram o uso de três “sputniks”, sinalizador indicado para ambientes externos e utilizado pela banda Gurizada Fandangueira em suas apresentações. A polícia e o prefeito de Santa Maria acreditam que uma faísca do dispositivo deu início ao incêndio . Já a banda relata que o fogo começou na música seguinte ao disparo do produto e que tudo pode ter ocorrido por um curto circuito do sistema elétrico da boate.
Pode complicar para quem: os músicos da banda, que se tornariam responsáveis diretos pelo início do fogo.
4) A Kiss realmente apresentou todos os problemas relatados por testemunhas?
Os problemas relatados pelos sobreviventes são inúmeros: não havia saída de emergência; não havia sinalização de emergência quando a luz da casa noturna se apagou, fazendo com que muitos ficassem perdidos em meio a fumaça; e um extintor de incêndio usado pelo vocalista da banda para tentar apagar o fogo não funcionou.Outra questão permanece: o local poderia conter como isolamento acústico um material tão altamente inflamável?
Pode complicar para quem: os proprietários, que não teriam garantido a segurança dos frequentadores da boate. Não está claro, no entanto, se ao menos as obrigações mínimas haviam sido cumpridas, o que os eximiria de terem burlado a lei (ver próxima pergunta).
5) Afinal, a boate estava legalizada?
O que se sabe de fato é que a Kiss não tinha o alvará emitido pelo corpo de bombeiros que atesta a segurança do local. O último havia vencido em agosto do ano passado. Mas os donos defendem que não havia nada de errado, já que documento estava em processo de renovação. O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), disse que o alvará que cabe à prefeitura estava em dia.
Pode complicar para quem: os proprietários, se ficar claro que descumpriram regras da legislação estadual e municipal de segurança de incêndio; e até mesmo o governo, que, seja a prefeitura ou os bombeiros, poderiam ser responsabilizados por permitir o funcionamento do local sem que as exigência mínimas fossem cumpridas. Em Belo Horizonte, onde um incêndio no Canecão Mineiro matou sete pessoas em 2001, a prefeitura chegou a ser responsabilizada, o que foi derrubado em instâncias superiores da justiça.
São Paulo – Dois dias após a tragédia que vitimou 231 vidas - deixando ainda em risco de morte outras 75 pessoas – veja as questões que permanecem em aberto e, se esclarecidas pela polícia, poderão apontar as responsabilidades no incêndio .
1) As imagens das câmeras da Kiss sumiram ou nunca existiram?
Uma das razões para a prisão temporária dos dois donos da boate Kiss, Mauro Hoffmann e Elissandro Spohr, é que eles poderiam estar atuando para esconder provas, tais como as imagens do circuito interno da boate. O delegado Sandro Meinerz, um dos responsáveis pelas investigações, disse que parecia que “os fios tinham sido arrancados” para que elas não fossem descobertas. Os donos alegam que o dispositivo de filmagem não funcionava há três meses. “Trabalhamos com a possibilidade bastante grande de que realmente não existissem”, disse no fim do dia de ontem o delegado Marcelo Arigony. A caixa registradora do estabelecimento também não foi encontrada pela polícia. Ela mostraria quantas pessoas havia no local naquela noite.
Pode complicar para quem: os proprietários. O Ministério Público já mostrou ter intenção de indiciar os dois donos por homicídio com dolo eventual (quando a pessoa assume o risco de matar) em vez de culposo (sem intenção) por causa dessas suspeita de destruição de provas.
2) A boate estava lotada?
A polícia afirmou em dado momento que estima que houvesse entre 600 e 1.000 pessoas na festa. Segundo o Corpo de Bombeiros de Santa Maria, o número máximo autorizado pela corporação seria 691. A questão é prioritária porque a superlotação pode ter contribuído para que 231 pessoas morressem no domingo, já que a boate não teria como dar vazão em uma emergência a um número tão grande de pessoas. Até o momento, porém, a própria polícia disse ainda não ter certeza da capacidade máxima autorizada da boate, em um pronunciamento ontem à noite.
Pode complicar para quem: os proprietários, se for confirmado que o estabelecimento aceitou a entrada de mais gente do que sua capacidade permitia.
3) As chamas realmente começaram com o “sputnik”?
A polícia disse que testemunhas apontaram o uso de três “sputniks”, sinalizador indicado para ambientes externos e utilizado pela banda Gurizada Fandangueira em suas apresentações. A polícia e o prefeito de Santa Maria acreditam que uma faísca do dispositivo deu início ao incêndio . Já a banda relata que o fogo começou na música seguinte ao disparo do produto e que tudo pode ter ocorrido por um curto circuito do sistema elétrico da boate.
Pode complicar para quem: os músicos da banda, que se tornariam responsáveis diretos pelo início do fogo.
4) A Kiss realmente apresentou todos os problemas relatados por testemunhas?
Os problemas relatados pelos sobreviventes são inúmeros: não havia saída de emergência; não havia sinalização de emergência quando a luz da casa noturna se apagou, fazendo com que muitos ficassem perdidos em meio a fumaça; e um extintor de incêndio usado pelo vocalista da banda para tentar apagar o fogo não funcionou.Outra questão permanece: o local poderia conter como isolamento acústico um material tão altamente inflamável?
Pode complicar para quem: os proprietários, que não teriam garantido a segurança dos frequentadores da boate. Não está claro, no entanto, se ao menos as obrigações mínimas haviam sido cumpridas, o que os eximiria de terem burlado a lei (ver próxima pergunta).
5) Afinal, a boate estava legalizada?
O que se sabe de fato é que a Kiss não tinha o alvará emitido pelo corpo de bombeiros que atesta a segurança do local. O último havia vencido em agosto do ano passado. Mas os donos defendem que não havia nada de errado, já que documento estava em processo de renovação. O prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer (PMDB), disse que o alvará que cabe à prefeitura estava em dia.
Pode complicar para quem: os proprietários, se ficar claro que descumpriram regras da legislação estadual e municipal de segurança de incêndio; e até mesmo o governo, que, seja a prefeitura ou os bombeiros, poderiam ser responsabilizados por permitir o funcionamento do local sem que as exigência mínimas fossem cumpridas. Em Belo Horizonte, onde um incêndio no Canecão Mineiro matou sete pessoas em 2001, a prefeitura chegou a ser responsabilizada, o que foi derrubado em instâncias superiores da justiça.