Dia da Consciência Negra: algumas leituras para aprender mais sobre o racismo (digitalskillet/Thinkstock/Thinkstock)
Luiza Calegari
Publicado em 20 de novembro de 2017 às 06h00.
Última atualização em 20 de novembro de 2017 às 06h00.
São Paulo – O dia da Consciência Negra foi instituído como feriado facultativo no Brasil em 2011. A data foi escolhida para coincidir com o dia atribuído à morte de Zumbi dos Palmares, o último líder do Quilombo dos Palmares.
De cada dez brasileiros e brasileiras, apenas dois assumem ser racistas, machistas ou homofóbicos, mas sete admitem já ter feito alguma declaração discriminatória pelo menos uma vez na vida, segundo um mapeamento do Ibope.
Não é preciso nem voltar muito no tempo para perceber efeitos da desigualdade racial no Brasil de hoje, mais de 100 anos após a abolição da escravidão: o desemprego é mais alto entre os negros; um dos jornalistas mais conhecidos do país é afastado do cargo após fazer um comentário racista; um pré-candidato à presidência é condenado a pagar indenização por ofender quilombolas.
Para quem quer aproveitar o dia para refletir sobre as desigualdades raciais, no Brasil e no mundo, EXAME.com separou dez sugestões de livros que tratam do tema, seja de forma acadêmica ou por meio da ficção:
O livro acabou de ganhar o Prêmio Jabuti deste ano, na categoria Economia, Administração, Negócios, Turismo, Hotelaria e Lazer. É derivado da tese de doutorado do autor, Pedro Jaime, na Universidade de São Paulo (USP). Jaime fez um levantamento dos executivos negros paulistanos e reconstruiu suas biografias para mostrar, a partir da comparação entre duas gerações diferentes, as mudanças na mobilidade social entre os negros. (ed. Edusp, 424 páginas, R$ 50,00)
Este livro é a recriação ficcional da história de Luísa Mahin, mãe do poeta Luís Gama, que participou da Revolta dos Malês, na Bahia. A história acompanha Kehinde, a personagem principal, desde que foi raptada na África e trazida como escrava ao Brasil, a busca pelos filhos, o desenvolvimento de sua religiosidade até a obtenção da carta de alforria e o retorno à África. Ana Maria Gonçalves é uma ex-publicitária, que pediu demissão para se dedicar aos romances. (Record, 952 páginas, R$ 99,90)
A autora é, até hoje, considerada uma das mais importantes escritoras negras do Brasil. Passou boa parte da vida morando na favela do Canindé, em São Paulo, e sustentando os filhos como catadora de papel, enquanto escrevia diários. Esses diários, depois de publicados, renderam dinheiro e reconhecimento a Carolina de Jesus. É um dos livros brasileiros mais conhecidos no exterior, mas ainda não tão celebrado por aqui. (ed. Ática, 200 páginas, R$ 47,00)
Cansado de ser sempre o "negro bem sucedido" e a exceção que, a seu ver, confirma a regra de que os negros são excluídos no Brasil, o ator Lázaro Ramos aceitou escrever um livro sobre as próprias vivências. Não se trata de uma autobiografia convencional: o ator convida os leitores a refletirem sobre gênero, ações afirmativas e discriminação, compartilhando as dúvidas e descobertas que permearam sua trajetória. (ed. Objetiva, 152 páginas, R$ 34,90)
Lilia Schwarcz é uma das mais respeitadas pesquisadoras brasileiras sobre racismo e literatura negra. Neste livro, ela aborda a ambiguidade do racismo brasileiro, buscando explicações para o fato de todo brasileiro conhecer alguém racista, mas ninguém se considerar um. O ensaio abrange as relações sociais no país desde a época colonial. (ed. Claroenigma, 152 páginas, R$ 34,90) A autora também escreveu uma biografia de Lima Barreto, escritor que abordou o racismo em seus romances e ensaios, publicada pela Companhia das Letras.
Abdias do Nascimento foi e ainda é uma referência quando se fala em direitos dos negros no Brasil. Foi exilado do Brasil durante a ditadura, e, depois da anistia, atuou como deputado e senador, e foi um dos principais idealizadores do dia 20 de novembro como Dia da Consciência Negra. Neste livro, ele ajuda a desconstruir o mito da "democracia racial" brasileira por meio de testemunhos pessoais, reflexões e críticas. (ed. Perspectiva, 232 páginas, R$ 45,00)
É considerado o livro fundador de uma vertente da teoria feminista chamada "interseccionalidade". Neste campo, a forma como as categorias sociais se relacionam entre si determina de que forma cada questão deve ser abordada. Por exemplo: os problemas enfrentados por mulheres negras é diferente dos das mulheres brancas, e as brancas ricas não têm as mesmas dificuldades que as pobres. Angela Davis é professora e filósofa e integrou o movimento dos Panteras Negras nos EUA. (Boitempo, 248 páginas, R$ 37,80)
O livro ganhou um prêmio Pulitzer, o Nobel da literatura americana, e depois virou um filme dirigido por Steven Spielberg estrelado por Whoopi Goldberg. A história é contada por meio de cartas dirigidas a Deus e à irmã da protagonista, e narra a trajetória de uma garota de 14 anos que é abusada pelo próprio pai, tem filhos dele e é obrigada a casar com o patrão branco, o "sinhô". A ausência de Oscars para o filme baseado no livro foi considerada evidência de discriminação racial na época, já que muitos críticos o consideraram uma obra prima. (ed. José Olympio, 336 páginas, R$ 54,90)
Talvez o livro mais célebre sobre racismo nos Estados Unidos. A história, que virou filme, conta a luta de um advogado que decidiu defender um negro da acusação de ter estuprado uma garota branca. Depois disso, Atticus Finch, o protagonista, passa a sofrer represálias da sociedade racista do sul dos EUA, mas não se deixa abater. O livro também virou um filme, que ganhou o Oscar de melhor roteiro adaptado em 1962. (ed. José Olympio, 364 páginas, R$ 49,90)
A primeira escritora negra de ficção científica finalmente ganha uma tradução no Brasil. Neste romance, a protagonista Dana tem uma experiência fantástica: dentro de seu apartamento num minuto, no próximo ela está à beira de um rio e resgata uma criança. Depois, ela reaparece em seu próprio apartamento, mas completamente encharcada. Dana então percebe que ela está indo e voltando ao século XIX, antes da Guerra Civil, quando era perigoso ser uma mulher negra no sul dos Estados Unidos. (ed. Morro Branco, 432 páginas, R$ 29,90)