Tecnologia

Como o TikTok de uma adolescente afetou milhares de pesquisas científicas

Vídeo de menos de um minuto ultrapassou 4 milhões de visualizações e interrompeu o trabalho de 4.600 estudos; entenda o motivo

Jovens adolescentes gravando um TikTok em Miami, Flórida (EVA MARIE UZCATEGUI/AFP/Getty Images)

Jovens adolescentes gravando um TikTok em Miami, Flórida (EVA MARIE UZCATEGUI/AFP/Getty Images)

LP

Laura Pancini

Publicado em 25 de setembro de 2021 às 10h00.

Última atualização em 20 de outubro de 2021 às 09h57.

No dia 23 de julho, a adolescente norte-americana Sarah Frank iria publicar um vídeo relativamente inocente no TikTok. "Bem-vindos aos side hustles que eu recomendo tentar", disse ela nos primeiros segundos, sentada em seu quarto e sorrindo para a câmera. Em inglês, "side hustles" significa alguma atividade rentável para conseguir aquela grana extra.

Uma das dicas de Frank em seu vídeo de 56 segundos foi para utilizar o site Prolific.co, onde usuários respondem pesquisas e recebem uma quantia em dinheiro em troca. A ferramenta é essencial para cientistas que conduzem pesquisas comportamentais e revolucionou vários campos de pesquisa após seu lançamento.

“Esse é um empreendimento que exige muito tempo e mão-de-obra. A pesquisa online torna tudo muito mais fácil. Você programa uma pesquisa, a coloca online e, em um dia, tem 1.000 respostas. Isso mudou as ciências sociais", disse Nicholas Hall, diretor do Behavioral Lab da Stanford School of Business.

O que Frank não esperava é que seu vídeo iria acumular 4,1 milhões de visualizações no mês seguinte a publicação. O site, que não contava com ferramenta de triagem, de repente recebeu uma enxurrada de usuários mulheres, dos Estados Unidos e em torno da idade da jovem de 18 anos.

Para os pesquisadores, a mudança repentina da demografia da plataforma gerou confusão e ameaçou a reputação do Prolific, que é um dos maiores sites para pesquisas do tipo.

@sarahndomi’m excited for this series!! #sidehustles #sarahssidehustles #prolific #makingmoney #sidehustleideas♬ original sound - sarah :)

“Notamos um grande salto no número de participantes na plataforma dos EUA, de 40 mil para 80 mil. O que é ótimo, no entanto, agora muitos de nossos estudos têm uma distorção de gênero, em que talvez 85% dos participantes são mulheres. Além disso, a média de idade está em torno de 21", escreveu um membro do Stanford Behavioral Laboratory em um fórum do Prolific.

De acordo com o site The Verge, a psicóloga Hannah Schecter foi a primeira a desvendar o mistério. "Dado o momento, a viralidade do vídeo e os dados demográficos dos seguidores do usuário...", ela publicou em sua conta no Twitter com um link ao vídeo de Frank.

Cerca de 4.600 estudos foram interrompidos por conta do TikTok de Frank, aproximadamente 1/3 das pesquisas ativas na plataforma na época do vídeo. Destes, a grande maioria deve ser recuperável, de acordo com Phelim Bradley, cofundador e CTO da Prolific.

“Antes do Tiktok, cerca de 50% das respostas em nossa plataforma vinham de mulheres”, disse Bradley ao The Verge. “O aumento atingiu 75% por alguns dias, mas, desde então, esse número tem diminuído, e atualmente estamos de volta a cerca de 60% das respostas sendo de mulheres”.

Um mês depois do vídeo de Frank, a Prolific reembolsou pesquisadores que foram afetados pela onda de respostas e introduziu uma nova ferramenta de triagem demográfica.

  • Como a vida pós-vacina vai mudar a sua vida profissional? Assine a EXAME e entenda.
Acompanhe tudo sobre:HistóriaPesquisas científicasRedes sociaisTikTok

Mais de Tecnologia

Empresa vai pagar de US$ 3 mil a milhões para quem fazer IA 'se apaixonar'

Tribunal dos EUA mantém lei que pode proibir TikTok no país

Huawei e China Unicom criam base inovadora para redes 5G-A voltadas para veículos conectados

Tiktok será proibido nos EUA se não vender parte da operação até 19 de janeiro