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Sua casa tem pouca importância para a bateria da Tesla

A Tesla convenceu muita gente de que contar com a sua bateria doméstica é uma escolha que faz parte de um estilo de vida. Seria bom se fosse assim

Baterias Powerwall, da Tesla: combinar as baterias domésticas com a energia solar parece fazer sentido, mas financeiramente não faz (Tim Rue/Bloomberg)
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Da Redação

Publicado em 21 de maio de 2015 às 20h02.

Elon Musk fez algo notável. Ele construiu uma bateria de 100 quilos que pode ser pendurada na parede da garagem e convenceu um grande número de pessoas de que contar com o equipamento é uma escolha que faz parte de um estilo de vida -- assim como manter um recipiente de compostagem no jardim ou optar por fraldas reutilizáveis para os bebês .

A bateria é para uso pessoal e irá mudar o mundo com a sua ajuda.

Seria bom se fosse assim. À primeira vista, combinar as baterias domésticas com a energia solar faz muito sentido. O problema é que financeiramente não faz nenhum sentido.

Nem agora, nem em breve e, definitivamente, nos EUA nunca fará. Eu escrevi sobre o assunto logo depois do famoso lançamento, argumentando que o interesse nas baterias Powerwall da Tesla orientadas ao consumidor não estaria baseado em um raciocínio financeiro sólido.

Quando foi questionado a respeito das minhas descobertas em sua teleconferência de lucros com analistas, Musk, que é CEO da Tesla, deu essa resposta: “Isso não quer dizer que as pessoas não irão comprar o equipamento”.

É verdade. O interesse inicial, sob todos os aspectos, tem sido fora do comum. Toda essa atenção está impulsionando as baterias Powerpack, desenvolvidas para empresas e concessionárias de energia, e que são mais importantes para a Tesla, embora menos faladas -- e um produto com um potencial realmente inovador.

Mas se você dá importância à Tesla porque se importa com o futuro da energia limpa, então a dúvida sobre se uma solução faz sentido, financeiramente falando, é a única que importa.

A energia eólica e a solar são um enorme ponto de inflexão precisamente porque hoje, em muitas regiões do mundo, elas são tão baratas quanto os combustíveis fósseis, ou até mais do que eles.

A demanda inicial pelas baterias domésticas da Tesla -- 38.000 pedidos na primeira semana -- pode parecer um grande começo, mas mesmo no melhor cenário essas encomendas demorariam mais de um ano para serem entregues e responderiam a uma pequena fração da energia gerada por uma única usina de energia movida a combustíveis fósseis.

Para “mudar radicalmente a forma como o mundo utiliza a energia”, como diz Musk, a escala precisa ser muito, muito maior.

Os impedimentos são enormes. Nos EUA -- um mercado ávido por energia e com o maior potencial de impacto --, qualquer proprietário de imóvel que espere utilizar as baterias de Musk para conseguir independência em relação à rede elétrica terá uma surpresa.

Para que uma residência média americana dependa somente dos painéis solares e das novas baterias da Tesla, o sistema completo custaria aproximadamente US$ 98.000, segundo análise da Bloomberg New Energy Finance. E essa avaliação sombria está baseada em uma casa localizada em uma região ensolarada, como o sul da Califórnia.

Por que a espera pela segunda geração de baterias não ajudará

Muitos observadores compararam a introdução da Tesla Powerwall a uma espécie de momento iPhone das baterias domésticas.

Não importa se a Powerwall faz sentido financeiramente no momento, segundo esse argumento, porque os primeiros que a adotarão serão os mais ricos, imunes às instabilidades econômicas. A próxima geração de baterias ainda mais baratas vai atrair a massa.

Esse raciocínio tem dois furos. Primeiro, apesar de toda a sua elegância e beleza tecnológica -- e a Powerwall é, realmente, uma obra de arte de engenharia --, uma bateria não é um aparelho pelo qual alguém chega a se apaixonar, como o iPhone, o Kindle ou um carro. Uma vez que você liga sua bateria doméstica na tomada, se tudo correr bem você nunca precisará tocá-la novamente.

No caso da infraestrutura para garagens, o design bonito não é suficiente para motivar o comportamento do consumidor massivo.

O segundo problema é a forma como as concessionárias estão atualmente estabelecidas nos EUA. Independentemente do preço barato que possam custar, as baterias não serão a forma mais fácil, nem a mais barata, de aproveitar a energia solar.

Para a vasta maioria dos clientes o melhor é usar a rede elétrica como bateria: consuma a energia solar que você precisa à medida que ela é produzida e venda o restante de volta à rede.

“Quanto a essa ideia de ter uma bateria em cada residência, eu não apenas acho que não faz sentido economicamente, mas também que é algo desnecessário”, disse Brian Warshay, analista da Bloomberg New Energy Finance. “As redes elétricas centralizadas são incrivelmente úteis e eficientes”.

O nobre usuário da bateria doméstica quer independência da rede, mas uma abordagem mais sensata seria combinar os painéis solares com baterias desenvolvidas para estender parte da energia solar para o pico de demanda de eletricidade dos horários noturnos. Quando a bateria se esgota, o proprietário migra para a rede elétrica.

Esta é uma ideia que a Tesla vem promovendo: economize estendendo moderadamente os benefícios da energia solar com a ajuda de uma bateria.

O problema é que esse tipo de “deslocamento da carga” de energia não gera nem um centavo de economia para a maioria dos clientes americanos, independentemente do custo das baterias.

A culpa recai sobre uma política conhecida como medição líquida, em vigor no país. Mesmo em mercados mais favoráveis, como a Alemanha, o custo total para compra e instalação de uma bateria doméstica teria que cair em quase dois terços para que esse deslocamento da carga fosse mais barato do que utilizar painéis no telhado sem qualquer bateria, segundo análise da BNEF. A Tesla vê a Alemanha e a Austrália como os maiores mercados iniciais para as baterias de uso cotidiano.

Eis o argumento financeiro mais destacado da Tesla para a Powerwall:

Evite pagar a tarifa do horário de pico

As empresas de eletricidade muitas vezes cobram um preço mais elevado pela energia fornecida durante os horários de pico do final da tarde do que pela de horas mais avançadas da noite, quando a demanda é baixa.

A Powerwall é capaz de armazenar eletricidade quando as tarifas são baixas e prover sua casa de eletricidade quando as tarifas são altas.

Essa estratégia faz muito sentido para as empresas da Califórnia, onde as cobranças extras durante os horários de pico podem responder por até metade da conta de luz de uma empresa.

Mas menos de 1 por cento das residências americanas pagam pelo tempo de uso, segundo análise da BNEF. Todos os demais pagam a mesma tarifa de eletricidade 24 horas por dia, por isso as baterias são irrelevantes.

Mesmo nos lugares onde a precificação por tempo de uso é a norma -- como na Itália e na província canadense de Ontário, por exemplo --, a diferença entre as tarifas dos horários de pico e de fora do pico não são grandes o suficiente para justificar as baterias domésticas, segundo Warshay, da BNEF.

Contudo, há formas mais baratas de mudar a demanda e que são alternativas à compra de baterias: adiar o uso das máquinas lavadoras de louça e de roupa para mais tarde à noite ou utilizar termostatos inteligentes que cumpram tarefas como pré-resfriar a casa durante os horários fora do pico no verão.

Então por que a Tesla está fabricando baterias?

A Powerwall ainda não faz nenhum sentido para os clientes, do ponto de vista econômico. Isso não quer dizer que o produto não será positivo para a Tesla.

“A Powerwall não é um sistema, uma configuração ou uma ‘solução de armazenagem’”, diz a analista da BNEF Nathaniel Bullard.

“É um produto. Batizado, reconhecível, icônico, atrativo, desejável e desnecessário”.

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