Tecnologia

Sony Bravia XBR-55X855C

Faz tempo que ouvimos falar em uma "batalha pela sala-de-estar", mas isso é largamente um movimento do mercado americano, onde competidores como Roku e até a Nvidia lutam pelo que é, essencialmente, o controle do conteúdo consumido pela TV. Aqui no Brasil, onde a oferta desses aparelhos é bem mais limitada e a TV aberta ainda […]

Bravia 1

Bravia 1

DR

Da Redação

Publicado em 10 de agosto de 2015 às 22h46.

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Faz tempo que ouvimos falar em uma "batalha pela sala-de-estar", mas isso é largamente um movimento do mercado americano, onde competidores como Roku e até a Nvidia lutam pelo que é, essencialmente, o controle do conteúdo consumido pela TV. Aqui no Brasil, onde a oferta desses aparelhos é bem mais limitada e a TV aberta ainda é extremamente popular, o campo de batalha é diferente. O Google já obteve algum sucesso no mercado nacional com o Chromecast, um meio rápido, fácil e relativamente barato de conectar qualquer TV a serviços online. Como um sistema operacional completo, o Android TV é bem mais ambicioso e promissor, mas minha experiência com ele na Bravia XBR-55X855C mostra que o Google e seus parceiros ainda têm muito trabalho pela frente.

Imagem

Antes de mais nada, contudo, a X855C é uma TV e o ponto principal de uma TV é a qualidade de imagem. Embora esse modelo não faça parte da linha mais avançada da Sony, ele não dispensa alguns dos recursos mais importantes de seus irmãos maiores. Por exemplo, a iluminação do painel é baseada na tecnologia Triluminos, que é o nome que a Sony dá para sua implementação particular dos nanocristais.

Foto por: INFOlab

Também conhecidos como pontos quânticos, essa tecnologia é, como o AMOLED, uma forma de iluminação integrada ao painel. Sua caraterística principal é o uso de cristais tão pequenos que exibem um efeito de confinamento quântico que altera suas propriedades ópticas. Basicamente, há uma relação entre o tamanho dos nanocristais e a energia (e, portanto, a cor) da onda de luz que cada um emite. Por exemplo, um nanocristal de 6 nm emite luz vermelha, enquanto um menor de 2 nm emite luz azul. Graças à maneira como o confinamento quântico funciona, essas transições de cor são discretas e não pertencem a um fluxo contínuo. Na prática, isso quer dizer que o ponto quântico emite cores muito específicas e não as mistura com nenhum outro tom.

No caso das TVs da Sony, o Triluminos ainda mantém um LED azul convencional, mas o vermelho e o verde são emitidos pelos nanocristais ao serem excitados pela luz azul. O principal objetivo da Sony ao utilizar os pontos quânticos é ampliar a gama de cores que podem ser produzidas através de um painel LCD e o resultado desses esforços pode ser facilmente percebido na X855. A TV é capaz de exibir gradações suaves de tom, algo particularmente benéfico em cenas filmadas em grande-angular, quando superfícies longas tomam conta da tela.

Por outro lado, vale notar que o espaço de cor mais amplo pode levar a TV a reproduzir cores mais saturadas do que deveriam ser dependendo da fonte do sinal. Saturação não é algo necessariamente bom ou ruim, é simplesmente uma questão de gosto, mas vale a pena passar algum tempo no menu de configuração de imagem da X855 para adequar a TV às suas preferências.

Foto por: INFOlab

Como o Triluminos ainda depende de um LED discreto, esse tipo de painel não consegue atingir um grau de contraste tão alto quanto um AMOLED, que simplesmente desliga os pixels responsáveis pela reprodução do preto. No caso da X855, a situação é ainda mais complicada porque ela é baseada em frame dimming. TVs de LED geram contraste de várias formas dependendo da disposição e do tipo de endereçamento de suas lâmpadas. A X855 é iluminada a partir do perímetro da tela (“edge lit”) e é incapaz de controlar a luminosidade de regiões da tela individualmente, o que a força a escurecer todo o quadro em cenas mais escuras.

Isso tudo é significativo porque o nível de contraste é uma das características que mais influenciam na percepção de qualidade de uma imagem. No entanto, é difícil olhar para a X855 e ver que ela tem pouco contraste. Se colocada ao lado de uma TV baseada em OLED, ela parecerá obviamente inferior, mas isso não quer dizer que ela é ruim.

Por fim, a TV se beneficia do upscaller de hardware X-Reality Pro. Em outras palavras, ela é capaz de adequar a resolução de qualquer fonte à resolução nativa da tela. Essa habilidade é particularmente importante e uma TV UHD como esta porque ainda há pouco conteúdo nessa resolução. Naturalmente, os melhores resultados provêm do upscalling de arquivos em 1080p, mas até mídia em SD pode se tornar tolerável graças a esse recurso. Soluções especializadas como o MadVR ainda são melhores, mas pelo menos o X-Reality salva o consumidor de ter uma experiência pior simplesmente porque poucos filmes são distribuídos em UHD.

Foto por: INFOlab

Conectividade

Uma excelente tela não serve para nada se não puder se conectar a outros aparelhos. Por essa razão, a X855 oferece quatro portas HDMI, três USB, áudio óptico, Ethernet, Wi-Fi, Bluetooth e uma entrada híbrida para vídeo componente e composto.

A princípio, essa seleção seria o mínimo para uma TV moderna, mas alguns detalhes fazem com que a X855 faça mais que cumprir o mínimo. Por exemplo, todas as HDMI são compatíveis com HDCP 2.2, o que basicamente garante que elas sejam capazes de transmitir conteúdo 4K protegido pelos esquemas padrão de DRM. Uma das quatro também é compatível com ARC (para mandar sinal de áudio da TV para outros aparelhos) e outra é compatível com MHL (para receber vídeo através da microUSB de um smartphone, por exemplo).

Foto por: INFOlab

Infelizmente, a banda limitada dessas portas impõe algumas restrições de resolução e frame rate. As HDMIs só suportam sinais UHD (3840x2160) em 30 Hz. Isso significa que ela não funciona muito bem como monitor a não ser que você não se importe de abaixar a resolução de saída para 1080p. Similarmente, todas as USB são 2.0, o que é um pouco decepcionante para uma TV 4K com um sistema operacional de última geração.

Por outro lado, as especificações de rede são impecáveis. Além de Gigabit Ethernet, a X855 conta com um adaptador Wi-Fi 802.11ac. Ou seja, ela pode se conectar a redes sem fio mais velozes e pode evitar congestões utilizando a banda de 5 GHz. Naturalmente, essa TV suporta Miracast para receber streaming de vídeo de aparelhos compatíveis. Mas ela também tem mais um truque na manga: todas as funcionalidades de transmissão do Chromecast.

Sistema e Interface

Como notei acima, a X855 é uma boa TV UHD por si só, mas o que a torna realmente diferente é o sistema operacional Android TV. Em primeiro lugar, devo dizer que a diferença o Android TV e uma smart TV convencional é tão evidente quanto a diferença entre um feature phone e um smartphone. O Android TV é muito mais rápido, flexível e atraente que qualquer sistema embarcado no mercado atual, com a exceção do WebOS da LG.

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O visual do sistema lembra muito o de um sistema de console de video game, em especial o do mini console Ouya. Tudo gira em torno de uma tela inicial que contém recomendações de conteúdo, entradas de vídeo, aplicativos recentes e configurações. Seguindo o modelo do WebOS, as recomendações podem vir de qualquer fonte: TV aberta, Play Filmes e Youtube, por exemplo. Na verdade, há um esforço consciente para eliminar as barreiras de interface entre o que é TV convencional e o que é smart TV, embora na prática ainda exista uma cisão clara entre as duas.

O Google empreendeu um esforço considerável no desenvolvimento de recursos relativos ao controle da TV. Os ajustes de imagem, por exemplo, cobrem desde o contraste até o espaço de cor utilizado. Curiosamente, até a intensidade do MotionFlow (a tecnologia de interpolação de frames da Sony) pode ser controlada com um alto grau de precisão controlando duas escalas de “Nitidez” e “Suavidade”.

Foto por: INFOlab

Essa granularidade é repetida nos ajustes de som, com direito a um equalizador e ao controle da faixa dinâmica. Nem a TV aberta foi ignorada. Além de exibir um guia detalhado de programação, a TV se aproveita do motor de busca do Google para buscar dados sobre o elenco e sugerir conteúdos relacionados (filmes do mesmo diretor, por exemplo).

Excetuando-se esses recursos relacionados à TV, o Android TV é essencialmente o Android comum em todos os sentidos. Tente controlar a TV por voz e você logo vai notar que está conversando com o Google Now, que é consideravelmente superior ao controle por voz típico de TVs.

Na verdade, as semelhanças entre os dois sistemas são tão grandes que chegam a ser desconcertantes. Com um explorador de arquivos, por exemplo, pode-se notar que o Google deixou a pasta DCIM de câmera intacta. Entre no menu “Sobre...” e é possível ativar os mesmos easter eggs encontrados do sistema de celular. Nesse ponto é possível começar a se perguntar qual é o estágio de desenvolvimento desse sistema. É aí que as rachaduras começam a aparecer.

Foto por: INFOlab

Reclamar da repetição de easter eggs seria estúpido, mas reclamar de bugs não é. Não era incomum que o sistema parasse qualquer atividade para voltar a exibir o sinal de TV repentinamente. Quando um pendrive ou HD era conectado à TV, o sistema até reconhecia sua presença, mas não oferecia nenhuma forma óbvia de acessar os arquivos. Também não existe um navegador de internet padrão. Nosso modelo veio com o Opera, mas na versão antiga para TVs, cuja interface dificulta até ações simples como o rolar de páginas.

A sensação de que eu estava usando um produto em versão beta se ampliou quando baixei o aplicativo de controle por smartphone. Para o que ele se propõe, ele funciona muito bem: o processo de conexão é muito rápido e simples. No entanto, ele se propõe a muito pouco. O app só oferece um controle direcional e um touchpad. Nada de controle de volume ou atalhos para trocar de entrada de vídeo. Quando os comandos de voz são ativados, a prioridade continua pertencendo ao controle físico da TV. Em outras palavras, o app é inútil em seu estado atual.

Foto por: INFOlab

Do lado da Sony também não parece ter havido muito esforço. Embora o Android TV seja completamente diferente do sistema anterior, a Sony não achou que era necessário alterar seus controles remotos. A X855 vem com dois deles: um tradicional e outro baseado em um touchpad. O resultado é que existem situações em que um é melhor que o outro (o tradicional é melhor para digitação, o touchpad é melhor para navegação em aplicativos), então ambos precisam estar sempre presentes.

Aliás, a Sony parece não ter aproveitado todos os recursos do sistema. Por exemplo, a documentação do Android TV explicita uma função de DVR relativamente complexa, mas a princípio não há como gravar a tela da X855.

Mas é preciso admitir que eles foram menos conservadores com a escolha de hardware. A X855 usa um SoC da MediaTek chamado MT5890 que, para os padrões de uma TV, é de alta performance. Seus dois núcleos de CPU são acompanhados por uma GPU Mali-T624, 1,5 GB de RAM e 8 GB de NAND (com pouco mais que a metade disponível para o usuário). Realmente, para uma TV, essa configuração é forte.

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No entanto, preciso notar que ela ainda não é suficiente. Basta olhar para o sistema ou usar algum app de identificação de hardware para perceber que o Android TV está sendo renderizado em 1080p. Esse SoC parece ser incapaz de gerar as animações do sistema a uma frame rate aceitável em UHD. O upscaler da TV ameniza a situação, mas não a resolve: essa primeira geração de TVs com Android TV não consegue lidar com o UHD perfeitamente. A única exceção é o novo Shield da Nvidia, mas ele não chegará ao Brasil tão cedo.

Usei a expressão “a princípio” porque o Android TV é um sistema infinitamente mais flexível que o típico sistema de TV. Grande parte dos problemas mencionados aqui pode ser pelo menos amenizada com aplicativos de terceiros oferecidos na Play. Por enquanto, a seleção de apps ainda é extremamente limitada, mas essa situação deve se reverter já no médio prazo.  

A razão por trás dessa provável rapidez é simples: não existem grandes barreiras entre os apps de Android para celular e os para TV. Enquanto o Android Wear é mais restritivo por causa das limitações de hardware dos smartwatches, o Android TV é quase tão livre quanto o Android comum (ainda assim, o Google está tentando frear customizações mais agressivas por parte dos fabricantes).

Foto por: INFOlab

É perfeitamente possível, por exemplo, baixar um APK de Android para celulares e instalá-lo na X855. Também não existe nada que impeça o root dessa TV. Claro, seria irreal esperar que um app feito para celular funcionasse bem em uma TV, mas a possibilidade existe. Aqui no laboratório, conseguimos instalar jogos e apps de mídia sem problemas. No entanto, nenhum deles era propriamente utilizável porque todos dependiam de controles por toque.

Enquanto a “massa crítica” de apps não é atingida, a maior parte dos programas que podem ser encontrados na Play para TVs são reprodutores de mídia e jogos, com alguns utilitários no meio. Essa última categoria inclui um bom explorador de arquivos (ES File Explorer) e vários browsers criados por desenvolvedores independentes na tentativa de preencher o vácuo mencionado acima.

Os apps de mídia incluem basicamente tudo que um usuário comum pode precisar: VLC, Plex e Kodi (i. e. XBMC). Foram-se os dias em que as TVs não podiam reproduzir este ou aquele arquivo. Também acabaram os dias em que os usuários eram froçados a usar uma solução de DLNA insuficiente. Bom, pelo menos esses dias acabaram para quem tem acesso ao Android TV.

Foto por: INFOlab

O caso dos jogos é bem mais delicado. Como mencionei acima, o SoC da X855 renderiza o sistema em uma resolução inferior à nativa e isso não é diferente para os jogos. Alguns, inclusive parecem ter passado por uma degradação visual. Para jogar Asphalt 8, por exemplo, você terá que aceitar perda de frames e forte aliasing.

Outra questão importante é a dos controles. Embora todos os jogos que aparecem na Play sejam compatíveis com os controles remotos da TV, a experiência é, no mínimo frustrante. Basta imaginar como é dirigir um carro com o pequeno direcional de um controle remoto para entender o tipo de frustração a que me refiro. E quanto ao app de controle para smarthpones? Ele usa o acelerômetro do celular para controlar games como o Asphalt na TV, certo? Errado. Nele você também estará limitado a um direcional simples. Felizmente, a X855 tem Bluetooth e USB, portanto esses problemas não incomodarão quem já possui gamepads compatíveis.

Foto por: INFOlab

Vale a pena?

 Como mencionei acima, a XBR-55X855 é uma boa TV UHD por si só. A qualidade de imagem e a conectividade oferecidas por ela devem satisfazer a maioria das pessoas. O Android TV também é um sistema operacional promissor. Seu principal atrativo é, como o Android de celular, a incrível flexibilidade, que deve agradar usuários avançados. Ele é obviamente superior a qualquer sistema embarcado.

No entanto, é difícil recomendar essa TV por seus recursos de smart TV em um mercado com a concorrência do WebOS. O Android TV simplesmente não está pronto e o sistema da LG já é uma força consolidada. Além disso, a configuração desses aparelhos ainda pode melhorar. Não há razão técnica para uma TV de 7 mil reais ter as mesmas especificações de silício que um smartphone básico.

Portanto, quem estiver interessado apenas em uma tela pode considerar a XBR-55X855 uma boa opção. Quem estiver mais preocupado com os recursos de smart TV deve esperar pelo menos mais uma geração de produtos.

Ficha técnica

Tamanhos55" e 65"
ResoluçãoUHD (3840x2160 pixels)
Entradas4 HDMI; 1 vídeo componente; 1 vídeo composto; 2 coaxial (ar e cabo);
Saídas1 Áudio óptico; 1 RCA estéreo;
Dados3 USB 2.0; Wi-Fi 802.11ac; Bluetooth
Sistema operacionalAndroid TV (5.0.2)

Avaliação técnica

PrósExcelente qualidade de imagem; boa conectividade; introduz um sistema operacional inovador e flexível;
ContrasO sistema ainda apresenta bugs; controles inapropriados para a nova interface;
ConclusãoQuem só estiver interessado em uma boa tela não vai se decepcionar, mas não espere muito do Android TV
Imagem8.3
Audio7.8
Conexões8
Interatividade7.9
Reprodução de mídia9
Design 7
Média8.2
PreçoR$ 7 000
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