Tecnologia

Software livre já

O modelo proprietário não levará o Brasil à vanguarda digital

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h41.

Ninguém mais discute a importância da internet em nossas vidas. Vivemos mesmo numa sociedade em rede, como definiu o sociólogo espanhol Manuel Castells ao caracterizar o intenso uso econômico, cultural e social da comunicação mediada pelo computador. Há quem veja nesse processo uma nova revolução tecnológica: sai a sociedade do uso intensivo de energia, entra a do uso intensivo da informação.

Esse processo de conexão de empresas, governos, escolas, residências e pessoas não vai parar. Ao contrário, o software deverá assumir um papel cada vez mais relevante em nossas sociedades. Só que o Brasil tem um problema sério a resolver para realmente aproveitar essa onda.

Atualmente, o governo gasta no mínimo 80 000 reais pelo pagamento de licenças de software em cada 100 computadores comprados -- e a maior parte do dinheiro vai para fora. É muito. O crescente esforço de informatização do país não será sustentável se ele for realizado no modelo do software proprietário.

O Brasil possui aproximadamente 170 000 escolas públicas, das quais apenas 20 000 detêm algum tipo de sala de informática. Se forem levados 20 computadores para cada uma das 100 000 maiores escolas públicas do país, teremos alocado 2 milhões de máquinas. Isso dá algo como 200 milhões de dólares somente com o pagamento de licenças de programa de cada computador. Mas isso tudo é necessário?

Não. Felizmente, existe a alternativa do software livre. O principal exemplo é o sistema operacional GNU/Linux, aperfeiçoado de maneira compartilhada por mais de 100 000 desenvolvedores no mundo todo -- são especialistas, pequenas e grandes empresas, universidades e governos. O responsável pela coordenação das novas versões do GNU/Linux é um brasileiro de 21 anos, Marcelo Tosatti. O software livre é a maior expressão do trabalho colaborativo realizado no interior da rede mundial de computadores.

Por ser um software aberto e não-proprietário, ele é mais seguro. Os órgãos públicos e as empresas podem adequá-lo às suas necessidades e corrigir eventuais falhas. A Marinha do Brasil há muito tempo usa software livre. A Nasa, a Casa Branca e a Bolsa de Nova York também. O bem-sucedido Comitê Gestor da Internet brasileira usa software livre, Linux e FreeBSD, o que tem garantido uma estabilidade inegável. O maior projeto de inclusão digital municipal brasileiro -- os telecentros da prefeitura de São Paulo -- utiliza o software livre OpenOffice.org. Em setembro de 2003, outro software não-proprietário, o Apache, já dominava 64% do mercado mundial de servidores web.

Algumas pessoas têm demonstrado preocupação com a adoção do software livre pelo governo do presidente Lula. Não deveriam se preocupar tanto, pois o mundo caminha para o software livre. A comunidade de desenvolvedores cresce a cada dia. Na Europa, o governo alemão aposta em inúmeras empresas de código-aberto e a prefeitura de Munique já migrou para o Linux. Na França, Espanha, China e Índia cresce o uso dos programas livres. Grandes empresas, como IBM, Oracle e Sony, já o adotam. Até Hollywood aderiu: os efeitos especiais de O Senhor dos Anéis foram feitos em Linux. O Brasil não pode perder a chance de comandar essa mudança de paradigma.

Por que ficarmos aprisionados ao software de uma única empresa? Ao optar preferencialmente pelo software livre, o governo quer romper a onerosa reserva de mercado para um monopólio. Quem ganha? A inteligência coletiva brasileira, uma vez que temos uma das maiores comunidades de desenvolvedores de software livre do planeta.

Sérgio Amadeu da Silveira é presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI), do Ministério da Casa Civil

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