CEO do Grupo Stefanini
Publicado em 8 de maio de 2024 às 08h58.
Última atualização em 8 de maio de 2024 às 09h05.
Depoimento dado ao repórter André Lopes
Os desafios enfrentados pela população do Rio Grande do Sul, nesse momento, mostram que governos, empresas e sociedade precisam estar conectados mais do que nunca. Pois é fato que os intervalos entre as crises serão cada vez mais curtos. Na Stefanini, temos cinco negócios que operam totalmente ou parcialmente no estado gaúcho e, de imediato, tivemos que lidar com as consequências das enchentes e tempestades. Principalmente, para reafirmar nosso compromisso com os colaboradores.
Uma de nossas empresas, a TecCloud, de computação em nuvem, enfrentou problemas com o fornecimento de energia, mas, felizmente, possuímos um plano robusto de contingência. Nosso data center está em uma área elevada, longe das regiões de enchente. Isso nos permitiu manter nossas operações funcionando, apesar dos desafios.
É um caso de tensão para a operação, mas a experiência que tivemos aqui me fez lembrar, em algum nível, da nossa operação na Ucrânia, onde, durante a guerra, enfrentamos desafios semelhantes. Lá, tivemos que mobilizar nossos funcionários para garantir sua segurança com a transferência de famílias inteiras para países de fronteira.
No Rio Grande do Sul, a situação mais complicada ocorreu com a Saque e Pague, que precisou agir rapidamente para retirar caixas eletrônicos de áreas alagadas. Tivemos que mobilizar equipes para resgatar equipamentos em risco, e mesmo que tenhamos sofrido algumas perdas, conseguimos minimizar os danos. O impacto de não conseguir transacionar no Rio Grande do Sul é grande, já que é um dos estados mais importantes para os nossos negócios. Tivemos que realizar operações de guerra, retirando máquinas de locais inundados, mobilizando equipes e estoques para contornar a situação.
Além de lidar com essas crises operacionais, nosso foco principal foi em ajudar nossos funcionários e a comunidade local. Tivemos casos de funcionários isolados em áreas inundadas que conseguimos resgatar. Um desses funcionários estava em um muro, apenas com uma mochila e alguns pertences, e conseguimos resgatá-lo e levá-lo com segurança para um abrigo de um parceiro, que controla uma rede de supermercado. Uma funcionária também conseguiu ajudar sua comunidade ao receber apoio financeiro da Stefanini para comprar alimentos e água para os moradores.
Mas ainda há o que ser feito. Estamos incentivando nossos funcionários, parceiros e clientes a doarem para uma campanha de ajuda às vítimas, e a cada real doado, a empresa está dobrando o valor. A situação no Rio Grande do Sul é bastante grave, e decidimos focar em doações em dinheiro, que são mais práticas do que enviar mantimentos, considerando as dificuldades de logística. Durante uma situação similar na Bahia, conseguimos mobilizar muitos mantimentos com a ajuda de parceiros de transporte, mas no momento, a situação é de crise é generalizada, então optamos por focar em doações financeiras.
Também desenvolvemos, em conjunto com outras empresas de tecnologia, um aplicativo para ajudar a gerenciar os desabrigados, que pode ser usado por qualquer município interessado. O aplicativo foi desenvolvido em um dia e está disponível desde domingo, 5. Há 7 cidades usando, 120 abrigos listados, 20 mil vagas cadastradas e 16 mil desabrigados mapeados.
Em momentos como esse, percebo como é importante estarmos conectados no sentido digital, mas também humano com as cidades onde operamos e como essa conexão nos permite responder rapidamente a crises e ajudar de forma efetiva. Nosso modelo de operação é muito empreendedor, com muita autonomia para as unidades, e isso nos ajuda a reagir rápido em situações anormais. Por exemplo, o aplicativo para desabrigados foi desenvolvida por um time que achou que devia ser feito, sem precisar de autorização de cima. O mesmo aconteceu na Ucrânia, onde, durante a guerra, nossos funcionários se mobilizaram para fazer o possível para ajudar.
Acredito que as mudanças climáticas são uma realidade, e as empresas precisam ter bons planos de contingência e ser flexíveis para reagir rapidamente a essas situações. Para mim, é uma questão de cultura empresarial, de ter uma organização ágil que pode se adaptar a diferentes desafios. Hoje, temos tecnologias que nos permitem ser mais flexíveis, como trabalhar à distância, o que foi crucial durante a pandemia, durante a guerra, e agora, durante esta crise no Rio Grande do Sul.