Bebês: a "identidade Kaya" afirma que o ritmo da poluição climática é mais ou menos o produto de quatro fatores (oksun70 / Thinkstock)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2016 às 16h47.
Washington - Não é o dióxido de carbono que destrói os equilíbrios climáticos, são as pessoas. E o mundo estaria muito melhor com menos gente.
Esse é um resumo superficial de um livro sério e seriamente provocativo de Travis Rieder, professor de filosofia moral e especialista em bioética da Universidade Johns Hopkins.
Quando os economistas escrevem sobre mudança climática, muitas vezes falam da “identidade Kaya” -- basicamente, um problema de multiplicação (não um romance de espionagem) que ajuda a estimar a quantidade de dióxido de carbono que pode estar chegando à atmosfera.
A identidade Kaya afirma que o ritmo da poluição climática é mais ou menos o produto de quatro fatores:
O teor de carbono dos combustíveis; A quantidade de energia que a economia precisa para produzir o PIB; O PIB per capita; e A população.
Após anos de falatório das autoridades sobre isso ou aquilo com pouco ou nenhum carbono, Rieder basicamente se concentra no fator que ninguém quer admitir: o número de pessoas no planeta -- particularmente nos países ricos -- é literalmente parte dessa equação.
Pense no argumento de Rieder como o que está à espreita caso o Acordo de Paris, firmado entre 195 países e que chegou bem perto da ratificação nesta semana, não resolver o problema.
A seguir, uma transcrição editada de uma entrevista com ele.
Pergunta: Qual é o problema?
Rieder: Existem 19 milhões de órfãos esperando adoção e uma mudança climática catastrófica no horizonte. Colocar uma criança no mundo piora a mudança climática e, se não nos organizarmos, isso pode não ser muito bom também para essa criança.
Há duas possibilidades. Você pode afirmar que a mudança climática é um grande problema estrutural que, portanto, requer uma solução estrutural.
Esta é uma questão de política pública. Ou você pode dizer que um problema como a mudança climática exige que modifiquemos nossa cultura de obrigação individual e que todo mundo precisa pensar em ter famílias pequenas.
P: Essa tarefa parece bastante difícil. As pessoas não querem pensar nem em comprar uma pipoca de tamanho pequeno no cinema.
R: Bom, o problema é esse: os seres humanos me mostraram que simplesmente não estão dispostos a abrir mão de seus brinquedos. Por isso precisamos colocar outra opção na mesa.
Você quer continuar morando em uma casa de 900 metros quadrados? Quer continuar viajando de jatinho e coisas do tipo? Então, isso significa uma quantidade muito menor de pessoas na face da Terra.
P: Pelo menos nos países que geram muito carbono? Você acha que isso poderia realmente acontecer?
R: Meu principal objetivo é colocar isso na mesa. A população é uma parte central da equação para definir o total de emissões, mas esse aspecto é meio ignorado porque as pessoas não gostam de falar sobre isso.