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Depois da crise, BlackBerry volta a respirar

Depois de enfrentar uma crise que praticamente a tirou da disputa no ramo dos smartphones para usuários finais, a BlackBerry voltou a respirar


	Hoje, a companhia detém mais de 40% do mercado mundial de Mobile Device Management (MDM), por exemplo
 (Damien Meyer/AFP)

Hoje, a companhia detém mais de 40% do mercado mundial de Mobile Device Management (MDM), por exemplo (Damien Meyer/AFP)

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Da Redação

Publicado em 11 de agosto de 2014 às 06h42.

São Paulo - Depois de enfrentar uma crise que praticamente a tirou da disputa no ramo dos smartphones para usuários finais, a BlackBerry voltou a respirar. Suas ações passaram a ser consideradas promissoras novamente, e muito disso foi graças ao setor corporativo, no qual a empresa passou a focar ainda mais após a ascensão de Android, iOS e Windows Phone na outra ponta.

Hoje, a companhia detém mais de 40% do mercado mundial de Mobile Device Management (MDM), por exemplo.

E muito disso se deve a ferramentas desenvolvidas desde sua fundação, como o agora abrangente e ainda sólido BlackBerry Enterprise Server, e à confiança posta sobre a marca – que virou, de certa forma, referência na parte de segurança e proteção de dados sensíveis, ainda tendo a preferência de governos.

Também se mostraram muito importantes para a companhia a aquisição do sistema operacional QNX  em 2010 (base para o BB10, para o Project Ion e para sistemas automotivos, e a abertura da plataforma de mensagens BBM, disponibilizada para Android, iOS e WP. Os dois pontos, juntos das iniciativas em enterprise software e ao BB10, formam os quatro pilares nos quais a companhia se sustenta atualmente.

Para falar dessa retomada da BlackBerry, do novo (ou velho) foco da empresa e discutir essa fama da marca nos ramos corporativo e de proteção, INFO conversou com Pablo Kulevicius. O executivo é o representante do BlackBerry Security Group na América Latina, e responsável por gerenciar a implementação de medidas de segurança e ajudar os clientes especialmente neste ponto. Acompanhe a conversa a seguir.

Quais os atuais focos da BlackBerry aqui no Brasil e no resto do mundo? Agora é algo ainda mais voltado ao mercado corporativo?

Pablo Kulevicius - Sim, e envolvendo segurança e produtividade, como é a orientação do BlackBerry 10. É uma plataforma baseada no QNX, que tem multitarefa, um sistema de comunicações unificado e a possibilidade de ser conectado ao BlackBerry Enterprise Server.

Graças a essa última parte, você pode criar uma divisão pessoal e uma corporativa, tendo em uma o navegador usado para diversão, por exemplo, e estando conectado a uma intranet na outra, acessando o sistema interno de uma empresa se problemas. A segurança está separada, mas tudo está integrado ao SO.

Dessa parte de segurança, especificamente, o que o sistema e as soluções da BlackBerry têm de diferente? O que faz a empresa ter uma boa reputação?

Pablo Kulevicius - Na plataforma anterior, o BBOS, todos os processos corriam em um sistema monolítico. Eram o aplicativo e o sistema operacional funcionando juntos, e você tinha o controle sobre os apps que ficavam cada um em uma sandbox, isolado, acessando apenas a memória e os recursos que foram concedidos a ele. E agora que mudamos para o QNX, ganhamos o multitarefa e os múltiplos usuários.

Fora isso, o usuário pode gerenciar as permissões em cada um dos aplicativos de uso pessoal, algo que fica nas mãos do administrador do Enterprise Server caso o aparelho esteja em um ambiente corporativo. Tudo está separado, mas ao mesmo tempo integrado ao sistema – e você, como administrador, tem o controle de cada ponto e de cada recurso que você está abrindo na plataforma.

Depois dos escândalos de privacidade e mesmo com a popularização de ataques a dispositivos móveis, deu para notar um aumento na procura por segurança e proteção de dados e informações?

Pablo Kulevicius - Sim, claro. O que está acontecendo é que todos os malwares e casos de phishing, velhas estratégias que ainda persistem nos computadores, estão migrando para o mobile. Por que isso? Porque a plataforma preferida para consumo de informação agora é o dispositivo móvel, que é mais fácil de acessar.

Ou seja, como o smartphone tem a preferência de acesso, o criminoso que quer pegar seus dados pessoais, suas senhas de acesso ao banco e tudo mais começa a focar mais no mobile. A estratégia está migrando, mas os controles de privacidade, serviços de proteção e autenticação em dois fatores também.

Recentemente, vimos as ações da BlackBerry voltando a um patamar que as coloca como promissoras. Como você explica essa volta por cima, ainda que sutil?

Pablo Kulevicius - Nós sempre fomos líderes no quesito de produtos para essa área [corporativa]. O que aconteceu no ano passado foi uma onda de rumores acerca da viabilidade da empresa, dizendo que não tínhamos dinheiro, que fecharíamos em alguns meses, coisas assim. Mas com todo esse processo de recuperação do negócio, isso ficou para trás. Estamos com dinheiro no banco, temos uma linha de produtos forte.

Estamos desenvolvendo e inovando em um dos negócios em que focamos [os quatro “pilares” da BB]. Com isso, os acionistas estão vendo novamente a BlackBerry como uma empresa com futuro. Em resumo, o problema não estava relacionado com falta de produtos ou de inovação, nada disso. Estava mesmo na viabilidade da empresa, economicamente falando.

Dá para dizer que essa melhoria na reputação da empresa no mercado também tem a ver com a expansão do BBM para outras plataformas? E já que vamos entrar no assunto, como foi a adaptação do app para outros sistemas?

Pablo Kulevicius - Sim, mas o BBM é só um dos quatro negócios que temos. O aplicativo foi desenvolvido focando em cada uma das plataformas, seguindo o “look and feel” [visual e usabilidade, de certa forma] delas. Se você está usando no Android, terá um menu lateral, e não uma interface gestual como é no BlackBerry 10.

Mas o núcleo do aplicativo é o mesmo em todos os sistemas – a compressão de mensagens, o protocolo criptografado e tudo isso. As mensagens ainda passam por um servidor da BlackBerry antes de chegarem ao destino, para evitar que alguém saiba a localização do remetente, por exemplo.

Antes dessa quase volta por cima da empresa, governos chegaram a abandonar o uso de BBs para adotar soluções rivais – como o governo dos EUA usando iPhones. Era algo ligado à falta de confiança? Como foi, para a BlackBerry, lidar com isso?

Pablo Kulevicius - Não foi uma questão de segurança, como eu mencionei. Mas se você é o CEO de uma empresa e vê que a companhia provedora de seus aparelhos corre risco de desaparecer, conforme mostravam as notícias, você automaticamente tem que apelar para um plano B ou C. Afinal, é preciso dar continuidade aos negócios.

E foi o que aconteceu no ano passado: a reação das empresas e dos outros clientes da BlackBerry foi experimentar alternativas no caso de a companhia desaparecer. Mas provamos que isso não era necessário, e ainda mostramos que o iPhone e os Androids não eram para os negócios de nossos consumidores.

Hoje, nosso relacionamento com os governos continua forte – vide a Angela Merkel, que estava com o Z10 aqui no Brasil [Segundo a empresa, os sete países do G7, bloco com os mais ricos do mundo, adotam soluções da BB.

Dentro do G20, que engloba os outros 13 mais ricos, o número sobe para 16]. E por aqui isso também acontece, embora o país tenha sido mais lento para adotar a plataforma nova – ainda há muitos aparelhos da geração anterior, com BBOS, embora a transição para o BB10 esteja acontecendo.

E afinal, como a BlackBerry conseguiu fazer os clientes confiarem dessa forma nela? Esse foco em segurança e enterprise vem desde a criação da companhia, não?

Pablo Kulevicius - A ideia da BB, desde o início, era focar na proteção ponta a ponta. No momento em que lançamos o primeiro dispositivo móvel, também lançamos o BlackBerry Enterprise Server, a outra ponta que você precisa para ter a comunicação criptografada e segura. E, no nosso caso, toda a segurança fica no cliente.

Você não usa um certificado vindo de outras empresas, como a Verisign, o Google ou quem quer que seja – porque eles podem ter seus próprios problemas de segurança também. A ideia é que você tenha controle total sobre o que é seu, de ponta a ponta.

Os certificados que você usa para fazer a ativação entre um aparelho e o BB Server são todos privados, funcionam como uma chave que circula apenas entre o dispositivo e o servidor. Ou seja, é algo muito fechado, e mesmo nós não temos acesso a essas chaves.

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