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A primeira Copa em tempos de redes sociais

Em nenhuma edição anterior do Mundial houve tanta interação em nível global entre torcedores. Entenda como a tecnologia está mudando o modo como vemos futebol

Pela tevê, internet ou celular: o mundo inteiro estará de olho no estádio Soccer City, em Johannesburgo (.)
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Da Redação

Publicado em 13 de maio de 2010 às 19h50.

São Paulo - Em meados de 2006, durante a realização da Copa do Mundo da Alemanha, o Twitter acabava de estrear, o Facebook tinha pouco mais de sete milhões de usuários, e o Orkut, que liderava no segmento, cerca de 13 milhões. Em quatro anos, o crescimento dessas ferramentas foi exponencial. Orkut e Twitter já passam dos 100 milhões de cadastros cada um e o Facebook, rede social mais popular do mundo, tem mais de 400 milhões. É nesse cenário que o mundo se prepara para assistir a um campeonato mundial de futebol de forma diferente: com um olho no jogo e outro nas redes sociais.

Para Oliver Seitz, pesquisador do Grupo de Indústria do Futebol da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, embora a quantidade de pessoas que participam de redes sociais ainda seja relativamente pequena dentro do universo dos que acompanham futebol, o crescimento desse tipo de ferramenta traz grandes mudanças para os bastidores do esporte.

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Uma delas é a possibilidade de se discutir o futebol com qualquer pessoa do mundo, inclusive com os próprios jogadores. Na quarta-feira (12), o Facebook lançou o aplicativo Goal! justamente com esse objetivo. "No Brasil, onde a seleção é muito forte, isso quase não faz diferença, mas em países asiáticos, do Oriente Médio e até na América do Norte, de modo geral a população acaba torcendo por outras seleções, e é a internet que permite o acompanhamento dos jogos e as discussões sobre os times", explica Seitz. "Fora da Copa do Mundo esse fenômeno é ainda mais evidente. Só com a internet é que surgiu a tradição de torcer por times de outros países".

E é com base nessa conclusão que o YouTube está testando a transmissão de eventos esportivos locais, ao vivo, pela internet. Entre março e abril, a plataforma de vídeo do Google disponibilizou, por streaming, 60 jogos do campeonato de críquete de Índia, esperando uma audiência de 10 milhões de views. O canal acabou recebendo 55 milhões, de 200 países diferentes.

Assistir à Copa do Mundo pelo YouTube ainda não será possível este ano, já que a Fifa não liberou os direitos de transmissão para a ferramenta, mas várias redes de tevê que obtiveram a autorização exibirão o sinal também na internet. Aqui no Brasil, onde os direitos são da Rede Globo, os jogos poderão ser acompanhados no site Globoesporte.com. "A internet é a nova revolução na indústria do futebol, comparável ao que foram o rádio, a tevê e a transmissão ao vivo no passado", diz Seitz.


Copa do Mundo no Twitter

Antes das redes sociais, internautas comentavam e acompanhavam futebol em sites, listas de discussão e fóruns específicos, o que mantinha a discussão restrita. Isso de certa forma acabou se mantendo nas redes sociais focadas em comunidades, como o Orkut, na Copa de 2006. No Twitter, entretanto, todos os usuários acabam se envolvendo em um mesmo assunto, que varia de acordo com o momento, o que acaba tornando as discussões "virais".

"Imaginamos que a Copa do Mundo irá superar tudo o que já vimos no Twitter, inclusive as eleições norte-americanas ou o Super Bowl, simplesmente porque é um evento mundial", declarou Robin Sloan, funcionário do Twitter que trabalha com parcerias de mídia, à rede CNN em abril.

No Brasil a rede de microblogs serve como principal canal, na internet, para que os torcedores expressem suas opiniões. Na terça-feira (11), por exemplo, poucos minutos após Dunga anunciar a lista de convocados para a seleção, as timelines da ferramenta foram inundadas por críticas - por volta das 13 horas, em média duas mensagens com a hashtag #dungaburro eram publicadas por segundo. Grande parte reprovava a ausência dos santistas Paulo Henrique Ganso e Neymar no elenco. E os comentários negativos não surpreenderam, já que foi no mesmo Twitter que o lobby pela convocação dos jogadores ganhou força várias semanas antes.

"Pressão em cima de técnico da seleção sempre houve, mas agora, com as redes sociais, os lobbys se formam a partir da torcida, não mais da imprensa", analisa Seitz. A diminuição do papel da imprensa no contato entre jogadores e público, aliás, é a maior mudança provocada pelas redes sociais, segundo o pesquisador.

"Não são apenas os torcedores que recebem as informações do time sem mediação da imprensa, mas os próprios jogadores e clubes agora têm um feedback sobre suas qualidades e defeitos diretamente de seu público, sem precisar ler no jornal". Ele lembra que os usuários de internet ainda são majoritariamente jovens e de classes A e B, o que significa que não refletem o perfil das torcidas de futebol. "Ainda assim, muitos times já se baseiam em comentários online na tomada de decisões".

Kaká ( @RealKaka ), Luís Fabiano ( @luis_fabuloso ) e Gilberto Silva ( @GilbertoSilva15 ) são alguns dos jogadores da seleção que participam do Twitter. Segundo o assessor de imprensa da CBF, Rodrigo Paiva, o uso da ferramenta estará liberado na concentração na Copa do Mundo.


Mundial de tecnologias

Além das redes sociais, um pacote de novas tecnologias está mudando a relação do público com a competição mundial neste ano. Das inovadoras tevês 3D até o clássico álbum de figurinhas da Copa do Mundo, que este ano ganhou uma versão digital.

Quem tem iPhone e iPod touch já deve ter percebido a enxurrada de aplicativos relacionados ao Mundial que surgiram nas prateleiras da App Store. Os programas trazem recursos que vão de tabelas de jogos, quiz e informações sobre times e estádios, até a própria transmissão das partidas, no caso de um aplicativo criado pela rede britânica BBC. A transmissão móvel, aliás, é outra grande novidade desta Copa, já anunciada por empresas de países como Estados Unidos e Espanha.

No Brasil, as novidades tecnológicas para as Copas sempre chegam com atraso. Foi assim com as primeiras exibições de jogos na tevê, que chegaram à Europa em 1954 e por aqui apenas em 1958, com a transmissão ao vivo, que só deu as caras em 1970 para os brasileiros, e com os televisores a cores, que só tornaram-se populares nacionalmente em 1974.

Com as tevês de alta definição e a tão esperada tecnologia 3D não está sendo diferente. Embora em 2006 já houvesse transmissão em Full HD no Brasil por meio de canais pagos, a parcela que teve acesso ao formato era baixíssima. Já em 2010, a Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletrônicos (Eletros) prevê que, impulsionados pela Copa do Mundo e pela alta definição, 11 milhões de brasileiros troquem de tevê, o que representa um aumento de 25% nas vendas do setor neste ano.

E enquanto Coreia, Espanha, EUA e Japão já acertaram acordo com a Fifa para a transmissão de jogos em 3D, os brasileiros terão de esperar pelo menos mais quatro anos. Apesar de já haver televisores 3D à venda no Brasil, os preços são proibitivos à maioria da população e ainda não há canais que disponibilizem imagens próprias para a nova tecnologia. A NET espera disponibilizar até o fim do ano o primeiro canal com programação tridimensional para assinantes, mas para a Copa, por enquanto, só recorrendo a uma das 25 salas de cinema da rede Cinemark, que fechou parceria com a Rede Globo para projetar as partidas do Brasil.

"Esta será a Copa da alta definição. O 3D deve ficar para a próxima", diz Márcio Carvalho, diretor de produtos da NET. Ou seja, em termos de tecnologia, ainda podemos esperar por novidades para as próximas Copas.

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