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Plástico mata 1,5 milhão de animais ao ano, diz especialista

Especialista afirma que 1,5 milhão de aves, peixes, baleias e tartarugas morrem ao ano por causa de dejetos plásticos no mar

Albatroz morto por ingerir plástico: problema pode se agravar com "ilhas" de plásticos (Chris Jordan)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2014 às 17h42.

Quito - Cerca de 1,5 milhão de aves, peixes, baleias e tartarugas morrem ao ano por causa de dejetos plásticos no mar.

E o problema pode se agravar: segundo estudos científicos divulgados em Quito, cinco "ilhas" desses resíduos flutuam nos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico.

"A cada ano, os plásticos (no mar) matam 1,5 milhão de animais", afirmou Laurence Maurice, do Instituto de Pesquisas para o Desenvolvimento (IRD) francês.

"No Pacífico Norte, 30% dos peixes ingeriram plástico em seu ciclo de vida", acrescentou.

Durante a Semana da Água , organizada pela embaixada francesa em Quito, Maurice, que é diretora mundial de pesquisas do IRD, apresentou estudos recentes sobre o que chama de "o sétimo continente": massas não compactas de dejetos plásticos que estão à deriva nos três principais oceanos.

"A (ilha de dejetos) do Pacífico é a maior. As outras são um pouco menores", disse Maurice, em entrevista à AFP.

Por volta de 1997, essa massa de resíduos foi avistada pela primeira vez no Pacífico Norte, entre a costa californiana e o Havaí. Desde então, triplicou seu tamanho e, agora, ocupa uma superfície de 3,5 milhões de km2. Esta ilha cresce, aproximadamente, "80.000 km2 por ano", alertou essa doutora em Hidrogeoquímica Ambiental.

Um artigo publicado em 2012 por especialistas da Universidade da Califórnia na revista "Biology Letters", da sociedade de pesquisas britânica Royal Society, já advertia que esses resíduos de microplásticos - partículas menores a cinco milímetros - formavam uma "sopa mortal" para o ecossistema marinho.

Expedições científicas encontraram esses dejetos a até 1.500 metros de profundidade no mar.

Albatrozes que comem tampas de garrafa

Maurice explicou que essas massas flutuantes não chegam à costa, pois as correntes marinhas as arrastaram para o centro de redemoinhos gigantes, onde a água é "como um lago".

Uma garrafa d'água pode levar vários meses para chegar a esses redemoinhos. "O que acontece é que, no final, não vai se degradar, porque a ação das bactérias e dos fungos não ataca o plástico", afirmou a especialista, acrescentando que 80% do plástico que está no mar é polietileno, o material do qual esses recipientes são feitos.

Durante a conferência em Quito, Maurice disse que as espécies marinhas confundem os resíduos plásticos com comida e morrem, ao ingeri-los.

"Encontraram no estômago de uma baleia cachalote peças de estufas para cultivo de tomate que foram destruídas por uma tempestade e entraram no mar", contou a pesquisadora, acrescentando que do animal foram extraídos 20 quilos de plástico.

Aves marinhas como os albatrozes também acreditam que os restos plásticos que flutuam no mar são alimento.

"Os pais dessas aves estão dando pequenos pedacinhos de plástico a seus bebês (...) Um jovem albatroz foi encontrado morto com o estômago cheio de plástico, porque os pais estão confundindo comida com tampas de garrafa", comentou a especialista.

Em 2011, a Sociedade para a Conservação dos Golfinhos e das Baleias (WDCS, na sigla em inglês) destacou que os resíduos plásticos constituem uma ameaça mortal para golfinhos e baleias, porque eles ingerem, ou se enrolam nesse material.

O mundo está passando por uma das maiores extinções de animais já vistas. O assunto foi tema de um artigo publicado na revista Science pelo brasileiro Dr. Mauro Galetti, da Unesp, junto com pesquisadores da Universidade de Stanford e da Califórnia, nos Estados Unidos. A onda de extinções, chamada pelos cientistas de “defaunação”, tem consequências sérias para o planeta e para a sobrevivência da humanidade. Veja a seguir.
  • 2. Polinização

    2 /8(Philippe Huguen/AFP)

  • Veja também

    Os insetos polinizam 75% da produção agrícola do mundo. Segundo o estudo, a redução na fauna de abelhas e outros polinizadores pode reduzir a produção de alimentos.
  • 3. Controle de Pestes

    3 /8(Bruno Manunza/AFP)

  • Morcegos e aves são responsáveis por controlar pragas agrícolas. Nos Estados Unidos, o papel desses predadores é estimado em 4,5 bilhões de dólares por ano. Este será o prejuízo caso essas espécies sejam extintas.
  • 4. Ciclagem de nutrientes e decomposição

    4 /8(Stock.xchng)

    As plantas precisam de nutrientes para crescer e produzir semente e frutos. As árvores buscam esses nutrientes nas folhas caídas na superfície do solo, na madeira morta e nos galhos, todos ricos em carbono e nutrientes. Os nutrientes são retirados pelas árvores do solo e, depois, voltam para terra por meio da decomposição os resíduos. Ou seja, há uma contínua transferência de nutrientes do solo para as plantas, e destas para o solo. Esse processo é chamado “Ciclagem de Nutrientes” e precisa de um animal decompositor, como micro-organismos e invertebrados que quebram as folhas e galhos em partículas minúsculas. Sem animais invertebrados e vertebrados, portanto, não há a decomposição orgânica e nem a ciclagem de nutrientes.
  • 5. Qualidade da água

    5 /8(Stefan Sauer/AFP)

    A extinção em massa também afeta a qualidade da água. O declínio de sapos e pererecas aumenta as algas e detritos, o que reduz os nutrientes na água essenciais para a sobrevivência de algumas espécies.
  • 6. Saúde pública

    6 /8(Getty Images)

    O processo de defaunação também afeta a saúde humana, desde a desnutrição até o controle de transmissão de doenças. Predadores, como jaguatiricas ou onças-pintadas, controlam a abundância de roedores. A ausência de predadores causará uma infestação de roedores, que podem trazer diversas doenças para o ser humano.
  • 7. Regeneração das florestas

    7 /8(Ryan Poplin/Flickr)

    Diversas espécies de animais que dispersam sementes, como macacos, antas e aves são fundamentais para manter as florestas. Uma extinção local desses animais afetará clima e estoque de carbono.
  • 8. As 10 espécies recém-descobertas mais surpreendentes

    8 /8(Montam sobre imagens de divulgação)

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