Os 3 grandes desafios da Samsung após a morte de seu dono
Lee Kun-hee, que morreu hoje aos 78 anos, foi o responsável por transformar a Samsung, fundada por seu pai, em uma das maiores empresas do mundo
Karina Souza
Publicado em 25 de outubro de 2020 às 18h13.
Última atualização em 30 de outubro de 2020 às 09h27.
A Samsung,líder global em vendas de smartphones, perdeu neste final de semana seu dono e mandatário de fato, Lee Kun-hee -- um dos responsáveis por transformar a pequena empresa fundada por seu pai há mais de 80 anos em em conglomerado global.
Lee Kun-hee liderou a Samsung de 1987 a 2008, e depois de 2010 a 2014, quando se retirou. Mesmo no hospital e em coma, foi oficialmente mantido no cargo de presidente do conselho.
Por seus avanços à frente da Samsung, Lee Kun-hee se tornou o homem mais rico da Coreia do Sul. Seu patrimônio é de cerca de 21 bilhões de dólares, segundo a Forbes.
A Samsung Eletronics, frente mais valiosa da empresa, vale mais de 350 bilhões de dólares na bolsa sul-coreana, e já chegou a responder por quase um quinto do PIB da Coreia do Sul.
Com a morte do mandatário da Samsung, seu filho único,Lee Jae-yong, considerado o principal candidato à sucessão, terá de enfrentar os novos desafios à frente da empresa: da concorrência crescente às quedas globais de aparelhos e escândalos de corrupção na Coreia do Sul.
1. Manter a liderança em smartphones
No segundo trimestre deste ano, impactada por uma queda de 30% nas vendas no pico da pandemia, a Samsung chegou a perder a liderança que detinha há oito anos no mercado global de smartphones para a chinesa Huawei . No ano passado, a Huawei já havia superado a Apple, terceira colocada e fabricante dos iPhones.
A Samsung terminou por recuperar a liderança novamente no terceiro trimestre, mas a disputa deve continuar nos próximos anos, com cada uma tendo cerca de 20% do mercado (a Apple vem atrás, com 14%).
A seu favor, a Huawei tem o gigantesco mercado chinês -- onde a Samsung fica atrás até mesmo da Apple -- e o crescimento no exterior, em regiões como a Europa. Ao mesmo tempo, é alvo frequente da guerra comercial entre a China e EUA, sendo proibida, por exemplo, de vender em território americano.
Já a Samsung se beneficiou de fatores como o aumento de vendas na Índia, onde a sul-coreana agora tem a maior parcela de mercado desde 2018 -- favorecida recentemente por um movimento local "anti-China" que também prejudica a Huawei. A empresa também deve seguir mostrando boas vendas de seus celulares top de linha, como o Galaxy 20 e o recém-lançado dobrável Galaxy Fold 2 (que, espera-se, não terá os problemas da primeira versão no ano passado ).
2. Adaptar seus equipamentos para o 5G
A chegada do 5G globalmente pode ser uma bem-vinda novidade nas vendas de smartphones, uma vez que parcela dos consumidores vinha esperando a tecnologia para trocar seus celulares, segundo pesquisas recentes. No Brasil, apesar da indefinição sobre a chegada da tecnologia (o leilão do governo brasileiro ficou só para 2021 ), a Samsung já começou a correr atrás do prejuízo, com o lançamento do Galaxy A42 5G.
Embora seja mais conhecida pelos aparelhos eletroeletrônicos, a Samsung é também grande provedora de componentes como itens de memória (os semicondutores), painéis de TV e equipamento para redes de 4G e 5G. A empresa opera basicamente em quatro frentes, sendo a operação de celulares e redes de telefonia a mais lucrativa, seguida pela de semicondutores.
Por isso, a chegada do 5G também pode beneficiar a empresa neste novo momento. Mas um desafio será, novamente, a competição com a Huawei, uma das líderes globais no segmento.
Para além de celulares, a promessa é que o 5G seja usado em tudo, de casas inteligentes às mais diversas indústrias. As empresas que saírem na frente nesta seara terão um mercado gigantesco a explorar.
3. Lidar com os casos de corrupção na Coreia do Sul
Embora tenha capital aberto e faça um revezamento de CEOs — atualmente, são três CEOs, os presidentes-executivos –, é a família fundadora da Samsung, a cargo do conselho, quem de fato tem grande controle sobre a empresa.
O herdeiro Lee Jae-yong (conhecido como Jay Y. Lee) vem liderando a Samsung nos últimos anos, desde a doença do pai, com o cargo de vice-presidente do conselho. Mas Jay Y. Lee levou a Samsung aos holofotes por temas nada relacionados à tecnologia: o herdeiro chegou a ser preso por quase um ano na Coreia do Sul em um caso de corrupção que derrubou até mesmo a então presidente do país, Park Geun-hye.
A empresa é marcada por relações escusas com o governo sul-coreano há décadas. Seu pai também foi condenado duas vezes, em 1996 e 2008, por corrupção e evasão de divisas, mas foi perdoado pelas autoridades da Coreia do Sul — um dos motivos foi seu papel no Comitê Olímpico Internacional para trazer para o país as Olimpíadas de Inverno de 2018.
Agora, uma transição suave para a nova geração da família e que atenda a boas regras de governança -- longe das manchetes policiais -- será crucial para que a Samsung enfrente os desafios que a competição crescente vai impor.