"Nós também cometemos erros", diz programador da Mozilla
Engenheiro está no Brasil para participar do evento InterCon
Da Redação
Publicado em 29 de novembro de 2010 às 14h18.
São Paulo – Primeiro funcionário da Fundação Mozilla e ex-desenvolvedor do navegador Netscape, o engenheiro californiano Chris Hoffmann lidera um grupo de 10 programadores que centraliza as contribuições da comunidade Firefox em todo o mundo e trabalha diretamente no desenvolvimento do Firefox 4.0.
Em visita a São Paulo, para participar do evento InterCon, Hoffmann conversou com a INFO sobre o acirramento da competição entre os browsers, as críticas de que o Firefox tornou-se lento e pesado e os planos para levar o navegador de código aberto para os smartphones.
O Firefox ganhou usuários rapidamente nos últimos anos, mas parece ter perdido o fôlego desde a estreia do Chrome e do Internet Explorer 8. Até fãs da Mozilla admitem que o browser está lento demais. Por quê?
Nós fizemos um trabalho fantástico até a versão 3.0 do Firefox e nosso navegador crescia graças ao trabalho dos usuários, que se esforçavam em apresentar o browser aos amigos e ensiná-los a usar o produto da Mozilla. Quando a versão 3.5 estreou, no entanto, apareceu uma série de problemas de estabilidade e consumo de memória. Isso afetou o ânimo de todos e nos fez perder fôlego. Enfim, acho que nós também cometemos erros.
Quais erros?
O problema mais grave do Firefox hoje são os add-ons, sobre os quais não temos nenhum controle. Melhoramos o código e acertamos os problemas de estabilidade, mas quando o usuário instala vários plug-ins isso pode se perder. Estimo que um terço de nossos usuários tenha plug-ins. Para estas pessoas, a experiência no Chrome parece melhor. Os usuários do Chrome não tem o hábito de instalar add-ons e sua percepção de navegação é melhor.
O senhor trabalhou no Netscape, um browser que deixou de existir. Teme que aconteça o mesmo com o Firefox?
Não, de jeito nenhum. O Firefox é um produto incrível e que conta com uma comunidade de desenvolvedores espalhada por todo o mundo, o tempo todo nos enviando sugestões. Então, tenho certeza que teremos sempre as melhores inovações em browser.
É claro que o problema da velocidade e dos plug-ins é crítico, mas vamos contornar isso. Uma ideia em desenvolvimento é oferecer na versão 4.0 do Firefox uma espécie de administrador de add-ons. Um painel de controle permitirá ao usuário ver quais complementos estão consumindo mais memória do computador e prejudicando o desempenho do browser. Isso deve ajudar muito.
Uma das apostas da Mozilla para a versão 4.0 do Firefox é apresentar a melhor compatibilidade com os padrões do HTML5. O mais recente teste da W3C, no entanto, apontou o IE9 como o browser mais bem desenhado para esta linguagem. Isso preocupa vocês?
O desenvolvimento de sites e browsers para HTML5 ainda está no princípio. Eu diria até que os testes para avaliar HTML5 ainda precisam ser melhor desenvolvidos. Nós temos larga experiência em trabalhar com padrões abertos e acredito que teremos um Firefox 4.0 com excelente desempenho para processar sites com vídeos, gráficos e jogos feitos sob as regras do HTML5.
Eu não espero que o Firefox seja mais compatível que os demais browsers, mas sim que todos os navegadores suportem da melhor forma o HTML5. O fim de players proprietários para web e extensões adotados por só uma ou duas empresas será ótimo não para a Mozilla, mais para todos usuários.
Apesar do protagonismo do Firefox nos PCs, vocês ainda têm uma posição modesta no mercado de browsers para smartphones. A Mozilla pretende dar mais atenção a este setor?
Nós já temos navegadores móveis para as plataformas Maemo, da Nokia, e para o Android. Acreditamos que, num futuro próximo, os smartphones vão se tornar muito mais relevantes do que hoje para o acesso à web. Mas, neste momento, os celulares representam ainda um percentual muito pequeno dos acessos à internet e, sendo franco, a experiência de acesso à web no celular ainda é muito ruim.
Navegadores como o Opera Mini, por exemplo, não carregam o site inteiro no celular, mas uma imagem do site. Nossos produtos também não garantem uma experiência satisfatória ao usuário, então, temos um longo trabalho pela frente. Recentemente, uma pequena start-up formada por engenheiros da comunidade Mozilla recebeu recursos de venture capital e vai dedicar-se exclusivamente a criar navegadores móveis baseados nos códigos do Firefox. Espero que eles façam um bom trabalho.
O Brasil é um mercado estratégico para a Mozilla?
Ah, sem dúvidas. Temos a terceira maior comunidade de usuários aqui. Os brasileiros só ficam atrás dos Estados Unidos e da Alemanha em número de usuários do Firefox, até o presidente Lula usa Firefox (Hoffman exibe uma foto de Lula com um boné da Mozilla). O Brasil possui também uma comunidade de programadores muito ativa no desenvolvimento de aplicações abertas. Pessoalmente, espero que o Brasil ganhe mais importância para nós, pois eu adoro ter um motivo para vir ao Brasil. Esta é minha décima visita ao seu país.
Muitos nomes do software livre cultivam barbas longas. O senhor parece muito bem barbeado...
Bem, mas meus cabelos estão alinhados com o espírito da comunidade!