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No governo digital da Estônia, só é preciso sair de casa para divórcios

Ott Velsberg, CDO da Estônia, conta como o país nórdico automatizou áreas em quase 100% e se tornou referência global em políticas de dados, sendo líder na Europa

Ott Velsberg, CDO da Estônia: plano de digitalização começou em 2018
André Lopes

Repórter

Publicado em 22 de agosto de 2024 às 12h20.

Última atualização em 22 de agosto de 2024 às 16h13.

Com pouco mais de 1,3 milhão de habitantes, a Estônia transformou-se em um dos países mais digitalizados do mundo, onde o acesso à internet é tratado como um direito humano básico. A nação, que conquistou a independência da União Soviética em 1991, não só abraçou a revolução digital, como também se posicionou na vanguarda de políticas de dados e inteligência artificial (IA).

"Apenas para se divorciar um cidadão terá que deslocar de sua casa para um órgão do governo. Nas demais demandas, pode fazer tudo pelo smartphone",diz Ott Velsberg, Chief Data Officer (CDO) da Estônia, o líder de digitalização do país que veio ao Brasil para palestrar no IT Forum Praia do Forte, que ocorre na Bahia nesta quinta-feira, 22.

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Segundo Velsberg, um princípio fundamental na gestão de dados da Estônia é que“ninguém precisa fornecer a mesma informação ao governo duas vezes”. Isso reflete uma abordagem centrada eficiência e conveniência. “Todo residente estoniano tem um ID, seja por meio de um cartão, mobile ID ou smart ID ”, explicou, destacando que o objetivo é facilitar o acesso aos serviços públicos.

Contudo, a caminhada da Estônia rumo à liderança na economia de dados não foi imediata. Nos últimos seis anos, a Estônia decidiu criar um plano que focava em tecnologias emergentes como a inteligência artificial (IA).

“Em 2018, a Estônia não tinha se quer uma visão orientada por dados”,relembra Velsberg, destacando queo país era um dos últimos na Europa em termos de informações em sistemas abertos. Hoje, possui a maior participação de economia de dados da Europa e está entre os líderes globais, atrás apenas dos Estados Unidos.

Iniciativas com impacto social

Um dos marcos dessa transformação é o Bürokratt, um projeto de IA que busca automatizar processos burocráticos. Este tipo de iniciativa, segundo Velsberg, mostra como a IA tem sido um pilar central na estratégia de desenvolvimento do país, que já tem mais de 150 casos de uso de IA implementados por diversas agências públicas, de onde novos aprendizados estão sendo retirados para evoluir a implementação e legislação sobre o tema. “Cerca de 80% do governo está testando projetos de IA hoje. No ano passado, esse número era inferior a um terço”, destacou.

Há também o uso da tecnologia para criar acessibilidade nos canais estatais. Entre os exemplos, estão os projetos de reconhecimento de linguagem de sinais e soluções de digitação por movimentos do corpo que não sejam os das mãos.

Mas, dado o avanço em IA, o país teme também criar problemas para si mesmo. A tecnologia gerou até mesmo o resgate de um antigo mito folclórico, chamado Kratt, que conta sobre uma criatura que presta serviços aos homens, mas pode se voltar contra eles. A história contada para crianças sintetiza para os adultos como a IA pode se comportar em um futuro no qual não seja corretamente desenvolvida.

Estima-se que dois terços dos empregos na Estônia serão parcialmente automatizados nos próximos três anos, com um impacto desproporcional sobre as mulheres, que representam a maioria dos trabalhadores em funções baseadas no conhecimento, mais suscetíveis à automação. A educação também é um componente crítico. Desde crianças até idosos, há um plano de metas para adaptar gerações mais velhas e mais novas às mudanças trazidas pela IA e pela digitalização.

No entanto, a Estônia não enxerga apenas os riscos. O país acredita que a IA pode impulsionar seu crescimento econômico, com a previsão de um aumento de até 8% no PIB anual nos próximos anos.

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