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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h44.
Quando ainda cursava o mestrado no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), César Bellinati, um engenheiro de materiais de 33 anos, desenvolveu um novo processo para a produção de uma liga de titânio utilizada em implantes dentários que dispensa o uso de fornos especiais e tem custo inferior ao das tradicionais peças fundidas. Foram três anos de trabalho árduo, mas o projeto jamais decolou. Segundo Bellinati, o principal obstáculo para a implementação de inovações surgidas na academia é a falta de comunicação entre os centros de pesquisa e o mercado. "Se morasse nos Estados Unidos, eu já estaria rico", diz Bellinati.
Foi mirando dificuldades dessa natureza que Bellinati e outros três paulistanos, colegas de classe do MBA da ESPM, criaram a Facilita Inovação Tecnológica. "Nossa idéia é preencher o abismo entre as instituições de pesquisa e as empresas", afirma. Integrada também pela publicitária Priscila Mello, 28 anos, uma das herdeiras do grupo Samello, pelo major aviador Angelo Russo, 35 anos, e pelo engenheiro eletrônico José Carlos Cunha, 55 anos, a Facilita já está dando o que falar. Com seis meses de atuação, a empresa fechou contratos de representação com instituições como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), além de centros de pesquisa de universidades como a UFSCar e a Unesp. Juntas, reúnem mais de 130 patentes de diferentes campos científicos. "É um nicho totalmente inexplorado e potencialmente rentável, principalmente neste cenário de extrema competitividade", afirma José Henrique Damiani, professor do ITA e consultor de tecnologia da Embraer.
Os inventos e avanços tecnológicos representados pela Facilita vão desde o mapa genômico da bactéria Xylella fastidiosa -- uma das principais causadoras de danos às plantações de laranja -- e sistemas automáticos para monitorar rotas de veículos até filmes de carbono utilizados pelas indústrias óptica e aeronáutica. "Nossa meta é identificar todas as aplicações possíveis, detectar empresas interessadas em produzir esses inventos em escala ou em implantar essas inovações e participar da execução de projetos", diz Cunha. "Também queremos fazer o caminho inverso, ou seja, descobrir cientistas para desenvolver pesquisas sob medida para empresas", afirma Priscila.
A Facilita negocia atualmente três contratos de utilização de patentes. O mais polpudo, no valor de 100 milhões de reais, está sendo analisado por uma subsidiária de multinacional com faturamento anual na faixa de 500 milhões de dólares, interessada numa descoberta na área óptica, feita por um pesquisador da universidade de São Carlos (UFSCar). Se concluída, a negociação renderá mais de 10 milhões de reais para a Facilita e até 60 milhões para o cientista. "Seria a primeira vez que um pesquisador brasileiro levaria tanto dinheiro por uma inovação", afirma Cunha. Além disso, a empresa pode fechar um acordo de representação com o Centro de Tecnologia Aeroespacial (CTA). Caso seja concluído, Bellinati poderá finalmente comercializar seu processo de obtenção de liga de titânio. "Acho que vou mesmo ficar rico", diz.