GOLDSCHMIDT, DO SUPERPLAYER: lançamento do serviço Louve, focado no público evangélico, é a nova aposta de uma empresa que briga com gigantes no mercado de streaming de música (foto/Divulgação)
Thiago Lavado
Publicado em 14 de fevereiro de 2018 às 16h30.
Última atualização em 14 de fevereiro de 2018 às 16h30.
A segmentação de mercado é o resultado natural das diferenças entre as pessoas, ensina o americano Don Norman, professor na Universidade da Califórnia e um dos papas do design do Vale do Silício. A lição aplicada na vida real explica a existência do Louve, um serviço de música por streaming que oferece uma seleção de músicas e playlists voltada para o público evangélico. Entre as playlists com temática evangélica estão “Celebrando conquistas”, “Café com louvor” e “Movendo montanhas”.
Como um nova empreitada da startup de streaming brasileira Superplayer, a meta do Louve é atingir 50.000 usuários no primeiro ano, em um segmento que tem 20% do mercado fonográfico brasileiro e que movimenta mais de 2 bilhões de reais por ano, de acordo com estimativas da Associação de Empresas e Profissionais Evangélicos (ABREPE). Atualmente, o mercado gospel tem muita força no Deezer, um app de músicas de origem francesa, que possui um catálogo vasto de músicas evangélicas.
Segundo Gustavo Goldschmidt, presidente da Superplayer, a oportunidade de criar um player tão segmentado surgiu de uma demanda da própria comunidade, que queria controle de uso e liberdade musical. “Fizemos pensando em pais que gostariam de fornecer um serviço de streaming aos filhos, mas sem abrir mão do controle sobre”, afirma Goldschmidt. Até mesmo o preconceito contra evangélicos ajudou na hora da criação da plataforma. “Pensamos também em pessoas que recebiam mensagens de amigos e conhecidos que questionavam seus gostos musicais porque escutavam gospel”.
Focada em um público com menor poder aquisitivo, o custo da assinatura do Louve é de 9,90 reais, abaixo da média do mercado de streaming. Concorrentes como Apple Music, Spotify e Deezer têm assinaturas premium de 16,90 reais no Brasil.
Em inglês a expressão “stream” significa um fluxo constante de um líquido, gás, ou ar, como um rio por exemplo. É por isso que usamos o termo para descrever o “streaming”, o processo de ver e ouvir vídeos e músicas de uma plataforma digital. Nesse sentido, o Louve é só o novo produto do Superplayer. Uma ideia que nasceu no início de 2011, quando o próprio streaming não era a indústria que é hoje, o Superplayer tinha o intuito inicial de apenas sincronizar as músicas que o usuário já tinha em seu computador com uma rede em nuvem, para que ele pudesse escutá-las onde quisesse. Uma solução para um problema que hoje consideramos do passado: esquecer o aparelho de mp3 em casa e ficar sem músicas.
Quando estava prestes a ser formar em engenharia, Goldschmidt criou a empresa ao lado de seus dois irmãos, Fabio, um advogado, e Cassio, um desenvolvedor de sistemas do Vale do Silício, que queriam ter seu próprio negócio. Desde então, esse mercado mudou radicalmente. Concorrentes gigantescos como Spotify, Apple, Deezer invadiram o mercado, que triplicou de tamanho nos últimos três anos, para um faturamento anual de 10,8 bilhões de dólares em todo o mundo. Atualmente, o maior desses players é o Spotify, que domina o streaming com 70 milhões de assinantes. Estima-se que a Apple Music tenha cerca de 30 milhões de usuários e outros somam mais 70 milhões, segundo a consultoria MIDiA Research. Em 2017, pela primeira vez, o mercado de streaming ultrapassou as vendas de mídia física e de download de música.
O Superplayer, que, nas palavras do próprio Goldschmidt mudou tanto quanto a indústria. Já na concepção do Superplayer, ele percebeu que seria difícil brigar contra os gigantes que começavam a dominar o esse mercado. Decidiu focar em fazer listas específicas para tarefas e atividades diárias. “Temos preocupação com o ritmo de uma música para correr ou para arrumar a casa, que são bastante diferentes entre si. Playlists para trabalhar são mais longas, para fazer exercício ou escutar no celular, mais curtas”, diz.
Atualmente, o Superplayer conta uma possibilidade de assinatura que envolve só o uso de playlists e o download de até três playlists offline, pelo valor de 8,90 reais. O plano super premium, que permite o download de músicas e álbuns, além da possibilidade de navegar livremente, — mesmo funcionamento de outras empresas do setor — sai por 16,90 mensais e foi implementado na plataforma em 2016. O Superplayer atualmente conta com 1,5 milhão de usuários cadastrados, dos quais 600.000 são ativos.
A empresa também lutou em outros frontes. Fez parcerias com marcas brasileiras para conteúdo musical e playlists próprias, como a companhia aérea Azul e o remédio Engov. “Nós também atuamos junto ao banco Santander para realizar o SuperBanda, concurso de bandas que contou com a divulgação do banco e a disponibilização das músicas vencedoras no Superplayer”, afirma Goldschmidt.
Ele também trabalhou junto de artistas como Thiaguinho e Aviões do Forró, além da gravadora Som Livre, para lançar os primeiros bots de música que funcionem vinculados ao aplicativo de conversas Messenger, do Facebook. O programa permite que ouvintes “mandem mensagens” para artistas e gravadores, que respondem automaticamente com sugestões de músicas e playlists disponíveis no Superplayer. O cantor Thiaguinho, por exemplo, pergunta como o ouvinte está se sentindo e indica uma série de suas playlists para “animar com um pagode”.
Embora não há planos para um bot para músicas gospel, Goldschmidt quer seguir inovando. Para o Louve, a ideia é expandir o serviço com outros conteúdos como podcasts sobre temas religiosos, pregações e vídeos. Afinal, para vencer no mercado de streaming é preciso fazer mais do que apenas rezar para dar certo.