Review LG G4
Da Redação
Publicado em 7 de julho de 2015 às 20h53.
Depois que a Samsung lançou o Galaxy S6, aqueles usuários que gastam ciclos de bateria de lítio com mais frequência do que trocam de roupa devem ter sentido seu mundo encolher. Pelo menos aqui no Ocidente, a bateria removível está desaparecendo do mercado de smartphones mais sofisticados. Mas ainda há um bastião de resistência: os celulares da LG. Vou poupar seu tempo e já dizer que, se você acha a bateria removível indispensável e prefere telas menores, o novo LG G4 é a escolha óbvia. Mas quem estiver disposto a ceder nesse ponto vai precisar ler uma recomendação com mais nuance.
Versão curta: ele não tem os problemas de performance inconsistente do LG G Flex 2, mas também não se equipara a aparelhos como o Galaxy S6
É um pouco irônico o fato de que a mesma empresa que tinha lançado os primeiros telefones multicore do mercado hoje se contenta com o Snapdragon 808 em seu melhor aparelho. Este SoC é o parceiro mais modesto do recém-lançado Snapdragon 810 e ambos são estranhos no ninho da linha de chips da Qualcomm. Depois de pelo menos 6 anos usando microarquiteturas de CPU desenvolvidas internamente (Scorpion e Krait), a empresa optou por empregar núcleos desenhados pela ARM nesta geração.
Mais especificamente, o Snapdragon 808 pareia dois núcleos fortes Cortex A57 (1,8 GHz) com quatro núcleos fracos Cortex A53 (1,5GHz). O chip também é fabricado sob um processo de 20 nanometros (distância entre transistores), já ultrapassado pela litografia de 14 nm do Exynos mais recente, por exemplo. Aliás, a própria Samsung se negou a usar o Snapdragon 810 no Galaxy S6 por supostos problemas de superaquecimento. Nada disso quer dizer que os novos SoCs da Qualcomm são ruins, mas no momento ela está enfrentando uma competição muito mais acirrada do que no passado e, por extensão, o G4 não consegue se destacar quando o assunto é desempenho. Isso fica claro nos resultados dos benchmarks abaixo, nos quais ele quase se equipara com o Snapdragon 805 do Moto Maxx.
À primeira vista, pode parecer que o uso do Snapdragon 808 coloca o G4 abaixo do G Flex 2 quando o assunto é desempenho. Afinal, o SoC desse aparelho tem dois Cortex A57 a mais, opera em uma frequência mais alta (2 GHz) e se vale de uma GPU mais forte (Adreno 430). No entanto, aparentemente a Samsung foi sincera quando alegou que o 810 tinha problemas de superaquecimento. Com o G Flex 2, a LG foi obrigada a empregar um sistema de throttling agressivo para manter a temperatura do chip estável. Na prática, isso quer dizer que o software começa a diminuir a restringir o clock do 810 depois de pouquíssimo tempo te uso. O G4, por sua vez, não apenas se sai melhor nos benchmarks, como também apresenta uma experiência mais consistente no uso comum.
De qualquer maneira, a estrutura de dois núcleos fortes é atípica para smartphones avançados atuais. Pode-se, então, argumentar que o G4 se tornará obsoleto mais rápido. Outro ponto em que o Snapdragon 808 fica para trás é a interface de memória, que só aceita LPDDR3-933, enquanto já temos telefones no mercado com suporte a LPDDR4-1600. Naturalmente, isso quer dizer que o processador de imagem também é limitado, o que restringe o potencial do G4 como produtor e reprodutor de mídia. Por exemplo, ele possui um decoder de H.265, mas não um encoder.
Seria possível continuar a análise nesse sentido, mas a conclusão final é a mesma: o G4 não está na fronteira do poder de processamento, ele vai envelhecer bem mais rápido que um Galaxy S6, por exemplo. Por outro lado, é possível dizer que a corrida de hardware em smartphones está alcançando um platô. A Lei de Moore continua em efeito, apesar de estarmos em 2015, mas um telefone bom hoje provavelmente continuará sendo bom pode um período razoável -- e isso vale para o G4.
Versão curta: estabilização de imagem, abertura ampla, sensor de cor, autofoco ativo e captura em RAW tornam o G4 o melhor smartphone atual para fotografar cenas com pouca luz. Mas a câmera frontal poderia ser melhor.
A configuração do G4 tem um impacto direto sobre os recursos de sua câmera, mas vamos começar falando do módulo em si. Nesse ponto a LG G4 toma um caminho um tanto inusitado. Enquanto a maioria dos fabricantes têm investido em sensores da Sony, a LG desenvolveu o seu próprio módulo através da subsidiária Innotek. O conjunto consistem em uma unidade frontal de 8 MP ligado a uma lente f/2 e uma unidade traseira de 16 MP equipada com uma lente f/1,8.
Além da resolução alta, a câmera frontal não tem nada de muito especial. Embora o número f aparente indicar uma abertura ampla, é sempre bom lembrar que ele não passa da razão entre a distância focal e o diâmetro da abertura. A luz total que sensibiliza o sensor continua sendo escassa porque o sensor neste caso é bem pequeno. Mas isso vale para qualquer câmera frontal.
Um ponto a se notar sobre a frontal do G4 é que a resolução extra consegue oferecer bem mais riqueza de detalhes e liberdade para cortes do que a dos concorrentes. No entanto, essa característica também introduz um pouco de ruído e diminui a gama dinâmica consideravelmente. Em outras palavras, as fotos apresentam cores mortas, pouco contraste e forte clipping de luz e sombra. Além disso, a configuraçao padrão de JPEG tem nitidez exagerada e um perfil de cor pouco atraente.
Não adianta fingir que ninguém se importa com a câmera frontal. A Apple aumentou o tamanho dos pixels e a Samsung incluiu uma lente grande-angular. Pelo menos eles tentaram algo diferente. A LG, por sua vez, tomou o caminho mais fácil e só aumentou a quantidade de pixels.
Mas tudo isso é compensado pela câmera traseira. Com 16 MP, estabilização óptica, abertura f/1,8 e um sensor de cor dedicado, ela tem todos os elementos de uma grande câmera. Todos esses recursos aliados à possibilidade de capturar imagens me RAW (introduzido pelo Android 5.0) tornam o G4 o melhor smartphone do momento para fotos em situações de baixa luminosidade.
O conjunto de lente e sensor é bem similar ao do Galaxy S6, que consideramos a melhor câmera de smartphone atualmente. Ambos têm o mesmo tamanho de CMOS (1/2,6, o que leva a pixels de 1,12 microns), a mesma resolução e a mesma distância focal (28 mm). O G4 tem uma vantagem na abertura, mas ela é tão minúscula que se torna irrelevante.
Por mais que os dois aparelhos sejam parecidos no papel, contudo, é preciso notar que o S6 ainda é melhor na prática. A sensibilidade extra do sensor ISOCELL e uma lente de qualidade superior fizeram com que o aparelho da Samsung se saísse melhor na maioria das situações, especialmente sob luz uniforme abundante.
Isso não elimina os méritos do G4, mas ele só brilha mesmo em condições adversas, como em fotos noturnas. Nesse ponto, os três elementos cruciais são a estabilização óptica, o sensor de cor e a captura em RAW.
O sistema estabilizador do G4 é o primeiro entre os smartphones a usar mais de um eixo de compensação e o resultado é excelente. Exposições de até 1/30 segundo dificilmente saem tremidas (desde que o objeto fotografado não se mova, claro) e eu consegui capturar imagens de 1/8s sem tripé com facilidade.
Infelizmente, esse sistema não é tão benéfico para vídeos. Como em outros aparelhos, a estabilização em geral torna os movimentos de câmera mais suaves, mas, por algum motivo, o G4 às vezes reposiciona o quadro bruscamente, quebrando o ritmo.
Como acontece na maioria dos sensores CMOS, os vídeos do G4 são capturados conforme o processador de imagem escaneinha linha a linha de pixels do sensor. Como as imagens são processadas aos poucos e não quadro a quadro, movimentos rápidos às vezes causam distorções porque a cena que foi lida em um pixel já se alterou quando o processador chega em outro. Esse efeito faz com que a imagem se altere ligeiramente, como uma gelatina que se estica por inércia quando movemos o prato onde ela repousa. Mas essa distorção é rara e, em geral, as imagens do vídeo são tão boas quanto as fotos.
São Paulo à noite, onde a luz é insuficiente e provém de fontes com temperaturas diferentes é um ambiente particularmente desafiador para qualquer câmera digital. Onde a maioria dos smartphones erraria o balanço de branco, o G4 se mostrou capaz de acertar graças ao seu sensor de cor dedicado.
Mesmo quando o sensor erra, é sempre possível ajustar o valor posteriormente se a imagem foi capturada em RAW. Esse formato de arquivo contém a informação quase pura gravada pelo sensor no momento da exposição. Seu propósito é justamente dar mais flexibilidade para o processo de edição. No caso do G4, as imagens são gravadas em DNG, um padrão aberto desenvolvido pela Adobe que pode ser manipulado por muitos aplicativos diferentes (incluindo o Photoshop e o Lightroom).
A importância do RAW se torna clara quando fotografamos com o G4 no escuro. Por mais que ele seja bom nessa situação, o ruído (especialmente o ruído de chroma exemplificado na foto acima) é uma realidade de qualquer sensor e em um CMOS pequeno como esse, ele se torna impossível de ignorar. É nesse momento que um editor de imagem como Lightroom se torna essencial. Com algoritmos avançados de redução de ruído e controle manual de como essa redução afeta a imagem, podemos reduzir e às vezes eliminar a aparência de granulação das fotos noturnas. Considere o crop abaixo, por exemplo, no qual o ruído da imagem à esquerda é amenizado.
Isso é possível por uma série de razões. Uma delas é que as imagens em DNG tem um bit depth maior do que os JPEGs a que estamos acostumados. Cada canal de cor em uma imagem JPEG típica tem 8 bits (ou 256 gradações de tom), enquanto o DNG do G4 tem 12 bits (ou 4096 gradações de tom). Isso pode ser facilmente percebido prestando atenção nos histogramas abaixo, que representam mesma cena. Em todas essas imagens, eu aumentei o valor de exposição em 3 stops. Note como a primeira, um JPG, o histograma é mais curto que a segunda, uma DNG. O terceiro histograma vem de uma DSLR que tem a mesma resolução do G4, a D5100. Decidi inclui-lo apenas para demonstrar como um sensor maior e um RAW com mais bit depth fazem diferença.
De qualquer maneira, precisamos nos perguntar: quem é esse fotógrafo que gasta horas editando fotos de celular? É bem provável que a maioria dos usuários não use esse recurso com todo seu potencial, mas conforme a fotografia RAW se populariza no Android, desenvolvedores podem lançar apps de edição automática que se aproveitam do arquivo mais flexível.
Por fim, a câmera do G4 tem o mesmo sistema de autofoco ativo por infravermelho que o G3. Como comentei no review do G3, isso não é nenhuma novidade (câmeras compactas usam o mesmo princípio há anos), mas conta como mais um ponto do G4 para fotos em baixa luminosidade. Como ele produz sua própria luz, o foco em ambientes escuros costuma ser relativamente rápido.
Por todas essas razões, o G4 realmente é a câmera de smartphone mais flexível do momento quando o assunto é foto. Mais do que isso, ele introduz recursos que deveriam ser adotados por toda indústria.
Sistema e design
Versão curta: Um bom app de câmera é acompanhado por poucas novidades na customização do Android e um design ligeiramente diferente do G3
O excelente hardware de câmera do G4 é complementado por um app à altura. Existem três formas de usar o programa: um modo simplificado que basicamente só serve para bater uma foto ou capturar vídeo; um modo convencional que introduz controles de compensação de exposição e foco; e um modo manual com vários ajustes de imagem. Essa solução da LG é perfeita porque não limita o hardware com uma interface simples demais, ao mesmo tempo em que não confunde usuários que só querem tirar uma foto.
Ainda não encontrei um app de fotografia com controles manuais tão elegantes quanto os dos Lumias, mas isso não quer dizer que a LG não fez um bom trabalho. O software permite controlar manualmente o ISO, o tempo de exposição, o foco e o balanço de branco. Apenas para ilustrar o grau de controle, é possível configurar o G4 para uma exposição de 30 segundos, o que significa que ele poderia ser usado em astrofotografia se seu sensor não fosse tão pequeno.
Outro ponto muito interessante é o fato de que o app exibe um histograma em tempo real da imagem. Esse é um recurso que não existe até mesmo em algumas câmeras dedicadas e pode ser útil em muitas situações para um fotógrafo experiente. Ele ajuda, por exemplo, a julgar o contraste de uma cena de maneira mais imediata. Além do histograma, o app também exibe um horizonte virtual para auxiliar o enquadramento. Curiosamente, até o número f da lente aparece na interface, embora ele não possa ser alterado (os únicos smartphones com abertura variável pertencem à série Zoom da Samsung).
Além da câmera, não há muito a se dizer sobre o software do G4. A UX continua basicamente a mesma desde os tempos do G2, mas agora ela roda sobre o Android 5.1. A linguagem visual continua a ser flat e ele oferece pequenas conveniências (papéis de parece com duas fotos, fontes alternativas, etc) ao lado de recursos raramente utilizados (o Smart Notice continua sendo um Google Now mais limitado). Sem dúvida, os mais interessantes ainda são o KnockOn (para destravar a tela com gesto rápidos), o multitasking ao estilo Samsung com a possibilidade de dividir a tela em duas janelas e as ações automáticas do Smart Settings.
Algo digno de nota é o fato de a LG respondeu a algumas críticas da implementação da UX no Lollipop. Agora, por exemplo, é possível expandir as notificações como em qualquer outro Android. Os modos de prioridade de alerta do Android puro também foram incorporados ao sistema do G4, que segue o exemplo do Google ao não incluir um modo mudo tradicional.
Da mesma forma que o software, o design do aparelho mudou pouco agora existem pequenos relevos em formato de losango na traseira. A LG continua provando que um celular de plástico não precisa parecer barato, mas desta vez os tipos de material foram diversificados e cada um deles pode ser encontrado em várias cores. Existem dois tipos de traseira de policarbonato: uma delas é ceramizada e tem um toque bem liso, a outra é metalizada como no G3 e é um pouco mais áspera. Existe ainda uma versão de couro, mas ela é em média 100 reais mais cara.
Versão curta: Além de introduzir uma tecnologia nova no mercado de smartphones, a tela é simplesmente a melhor que já analisamos. Ela também ajudou a conservar a bateria do aparelho, mas neste ponto o G4 ainda perde para aparelhos similares.
Apesar de tudo, é preciso admitir que a UX fica impressionante no G4 por um único motivo: a tela. Com 5,5 e 2560 x 1440 pixels de resolução, ela aparente ser similar à do G3 no papel. No entanto, ela não poderia ser mais diferente. Enquanto o G3 usava um LCD convencional, o G4 é a primeira instância de nanocristais em uma tela de smartphone.
Também chamada de ponto quântico, essa tecnologia é, como o AMOLED, uma forma de retroiluminação integrada ao painel. Sua caraterística principal é o uso de cristais tão pequenos que exibem um efeito de confinamento quântico que altera suas propriedades ópticas.
A teoria por trás disso é muito complexa, mas, basicamente, há uma relação entre o tamanho dos nanocristais e a energia (e, portanto, a cor) da onda de luz que ele emite. Por exemplo, um nanocristal de 6 nm emite luz vermelha, enquanto um menor de 2 nm emite luz azul. Por causa da maneira como o confinamento quântico funciona, essas transições de cor são discretas e não pertencem a um fluxo contínuo. Na prática, isso quer dizer que o ponto quântico emite cores muito específicas e não as mistura com nenhum outro tom.
É fácil deduzir as consequências desse método de iluminação: a tela do G4 tem uma fidelidade de cor incrível. O nível de saturação também é perfeito, o bastante para ser atraente sem exagerar. Como a estrutura do painel de nanocristais é similar à do AMOLED, eles também iluminam cada pixel individualmente, o que amplia muito o contraste e conserva bateria quando a tela é preta.
Pode-se observar esse fato no nosso teste de bateria. O G4 usa a mesma bateria de 3000 mAh do G3, mas ele durou mais no teste: 8h20min contra 6h57min. É verdade que essa marca ainda é pequena em comparação com as quase 10 horas do S6 e com as mais de 12 horas do Moto Maxx, mas não é um resultado ruim (o iPhone 6, por exemplo, dura menos que 6 horas). Além disso, é preciso considerar que a tela do G4 é consideravelmente mais brilhante que a da concorrência e baterias removíveis em geral são menos eficientes.
Vale a pena?
Com sua câmera e tela extraordinárias, o G4 é um excelente celular para qualquer usuário. No entanto, a competição é bem acirrada nessa categoria de aparelho. É possível encontrar uma câmera ainda melhor no S6 e o Moto Maxx ainda é o campeão de bateria. A tela é sem dúvida um diferencial, mas não tão grande que possa informar uma decisão de compra por si só.
O que se pode dizer sobre o G4 é que ele faz tudo pelo menos bem não existe nele nenhuma falha insuperável. Ele também é um dos últimos telefones avançados com bateria removível e versões com dual SIM. Para quem não tem uma preferência muito forte por alguma característica específica (câmera, por exemplo), o G4 é uma escolha que deve satisfazer a maioria das necessidades.
Chipset | Qualcomm Snapdragon 808 |
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CPU (SoC) | Cortex-A57 1,82 GHz dual-core e Cortex A53 1,4 GHz quad-core |
GPU (SoC) | Adreno 418 |
RAM | 3 GB |
Armazenamento | 32 GB + microSD de até 128 GB |
Sistema | Android 5.1 |
Tela | 5,5'' (QHD) |
Peso | 155 g |
Bateria | 8h20min |
Câmeras | Câmeras de 16 MP (4K) e 8 MP (1080p) |
Prós | Fotografa em RAW; Configuração potente; ótima tela |
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Contras | Fotos em boas condições de luz poderiam ser melhores; câmera frontal mediana |
Conclusão | Ótimo smartphone para qualquer tipo de público |
Configuração | 8,8 |
Usabilidade | 8,9 |
Diversão | 9,0 |
Design | 8,6 |
Bateria | 7,8 |
Foto | 9,9 |
Média | 8.8 |
Preço | R$ 2 800 |