Tecnologia

Inteligência artificial já permite avaliar qualidade de grãos de café

Transição para tecnologia transformaria a maneira como o café é classificado por humanos, que envolve avaliadores bem pagos e treinados

Café: ferramenta também ajudará cafeicultores a produzir café com as características que os compradores desejam (Pramote Polyamate/Getty Images)

Café: ferramenta também ajudará cafeicultores a produzir café com as características que os compradores desejam (Pramote Polyamate/Getty Images)

TL

Thiago Lavado

Publicado em 17 de abril de 2021 às 08h00.

Os dias de especialistas reunidos em uma sala fechada para degustar café e classificar grãos quanto à cor, aroma e sabor podem estar contados.

Uma empresa israelense desenvolveu um aparelho portátil capaz de escanear grãos para determinar a qualidade. A máquina, que funciona com inteligência artificial, precisará de um humano para inserir os parâmetros de qualidade primeiro, mas, depois disso, será capaz de classificar o café antes mesmo de ser torrado. A empresa concluiu um programa piloto com a Carcafe, divisão colombiana da Volcafe, uma das maiores tradings de café do mundo.

Uma transição para os computadores transformaria a maneira tradicional como o café é classificado por humanos. Os avaliadores bem-pagos e treinados, ou “Q graders”, da ICE Futures US, em Nova York, realizam a laboriosa tarefa de determinar a qualidade e o valor dos grãos de café recebidos pela bolsa. As tradings e torrefadoras também costumam ter seus próprios avaliadores de qualidade.

A degustação é um processo complicado, não muito diferente daquele realizado pelos sommeliers de vinho. Os Q graders pesam o café e o moem em uma xícara. Sentem o aroma do pó seco, anotando a fragrância. A água aquecida a 93 graus Celsius é derramada sobre a borra e os avaliadores sentem o cheiro do café úmido. Após 4 minutos, a crosta que se forma na parte superior da xícara é rompida e a borra e a espuma são removidas. Depois de esperar 15 minutos para o café esfriar, só então a bebida é sorvida em uma colher.

“É o humano que estabelece a parte sensorial”, disse Oswaldo Aranha Neto, veterano da indústria do café que acaba de ser entrar na Demétria como membro do conselho. “Você precisa ensinar ao robô o que fazer.”

No mês passado, a Demétria fechou uma rodada de financiamento inicial de US$ 3 milhões liderada pelo investidor latino-americano-israelense Celeritas e um grupo de investidores privados, incluindo o Mercantil Colpatria, o braço de investimento do Grupo Colpatria, da Colômbia.

A Volcafe, unidade da ED&F Man, está em processo de adoção e implantação da tecnologia, buscando “aumentar muito a eficiência e eficácia do nosso processo de prospecção em nossos pontos de compra e em campo”, disse o gerente-geral Sebastian Pinzón.

Aranha Neto espera que o setor adote o sistema antes de chegar até os produtores, já que as torrefadoras geralmente definem os parâmetros de qualidade que procuram. O CEO da Demétria, Felipe Ayerbe, acrescentou que a ferramenta também ajudará cafeicultores a produzir café com as características que os compradores desejam, possivelmente ajudando a conseguir preços melhores.

A tecnologia também pode ajudar a bolsa, que teve dificuldades para classificar os grãos durante a pandemia devido às regras de distanciamento social. Também pode ajudar a resolver disputas de qualidade no mercado, disse Aranha Neto. Se for adotado pela bolsa, as tradings também podem usar o aparelho para escanear o café antes de enviá-lo, reduzindo o risco de os grãos não passarem na classificação.

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