Chegada do PIX é oportunidade de ouro para startups de meios de pagamento
Sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central vai permitir transações mais ágeis e baratas, o que vai impulsionar o mercado de fintechs
Rodrigo Loureiro
Publicado em 24 de julho de 2020 às 15h31.
Última atualização em 24 de julho de 2020 às 16h39.
As startups brasileiras do setor financeiro poderão ser beneficiadas pelo PIX . A plataforma de pagamentos instantâneos que deverá começar a funcionar em outubro, conforme anunciado pelo Banco Central (BC), dará um novo fôlego para as fintechs que tentam resolver um dos principais problemas do setor de finanças do Brasil: a burocracia.
Segundo o BC, quase mil instituições financeiras já se cadastraram para operar com o novo sistema de pagamentos. São bancos tradicionais, startups e cooperativas de crédito. É possível que mais instituições passem a utilizar o PIX nos próximos meses, quando o BC abrir uma nova janela de cadastramento de interessados na plataforma.
Nesta seara entram os bancos digitais, como Nubank, Neon, Banco Inter, entre outros. Principais rivais de bancos tradicionais como Bradesco, Itaú e Santander, essas fintechs ganharam espaço nos últimos ao apostar na desburocratização do setor ao permitir a criação de contas e o acesso à crédito de forma mais facilitada e totalmente digital.
“O PIX quase que democratiza o envio de dinheiro”, afirma Guilherme Rovai, direto de design de produto da Neon. O executivo da fintech que já soma mais de 9 milhões de contas abertas lembra que nem todas as empresas podem enviar dinheiro por TED, já que é necessário uma licença especial para isso.
Rovai também lembra que o PIX reduz os custos transacionais. “Talvez fique mais difícil para um grande banco justificar os 15 reais cobrados para enviar dinheiro de uma conta para outra”, afirma. Segundo estimativas da EXAME, as perdas com receitas em taxas de DOC e TED pode chegar a 2% dos lucros totais dos grandes bancos.
Ajudar a transformação digital do setor financeiro era um dos objetivos do Banco Central. Em entrevista para a EXAME, Patrick Hruby, presidente do Grupo Movile, que controla empresas como iFood, Sympla e PlayKids, elogiou o trabalho do BC pois “envolveu a indústria no processo” de criação do PIX.
“Essa nova forma de inovação abre muitas possibilidades. Mas, como toda nova tecnologia, ela precisa entrar em prática para o mercado sentir para onde ela vai nos levar”, afirmou Hruby. “O PIX deve beneficiar os consumidores com mais opções de pagamentos e os pequenos empresários, que terão acesso a soluções mais específicas.”
A Movile tem a sua própria fintech que deve aproveitar as vantagens do PIX. Fundada em 2013, a Zoop recebeu 18,3 milhões de dólares da Movile em um aporte realizado em março de 2018. O plano era permitir que as soluções para meios de pagamento da startup pudessem beneficiar todas as outras empresas do grupo.
Com cerca de cerca de 1 mil clientes, a Zoop criou soluções de pagamento utilizadas em um universo de mais de 250 mil usuários finais – como lanchonetes e restaurantes do iFood que utilizam a plataforma de pagamentos dentro do aplicativo de delivery de refeições. Para ganhar dinheiro, a fintech é remunerada por cada transação realizada.
Segundo Alessandro Raposo, diretor de estratégia do Zoop, o PIX presenteia as startups com uma nova forma de transacionar dinheiro, o que aumenta a oferta de serviços que pode ser disponibilizada para os parceiros comerciais. “O PIX traz uma democratização dos serviços financeiros para atender uma gama maior de clientes com a criação de novos modelos de negócios”, afirma.
Startups que já operam com transações 24 horas por dia também ganharão vantagens com a nova tecnologia. É o caso da PicPay. “Vai ficar muito mais fácil colocar dinheiro dentro do PicPay. E tirar também”, afirma Gueitiro Genso, diretor geral da startup fundada em 2012 e que já tem 24 milhões de usuários e que estima que irá movimentar 25 bilhões de reais em 2020.
Genso explica que o novo sistema de pagamentos do Banco Central vai beneficiar as startups porque irá fornecer uma infraestrutura completa de conexões para pagamentos. “Todo o ecossistema de pagamentos já vai começar com esta etapa resolvida. As startups poderão se dedicar ao que realmente importante, que é a experiência do usuário”, afirma.
O PIX foi criado como uma ferramenta para tornar mais simples, rápida e barata a movimentação de dinheiro entra contas bancárias. A ideia é que o dinheiro seja movimentado em questão de segundos, 24 horas por dia, durante todos os dias do ano ao custo de centavos por transação financeira realizada. Algo bem diferente do que acontece nas transferências por DOC e TED.
O uso de tecnologias como QR Code deve impulsionar acelerar essa digitalização do mercado. De acordo com a consultoria Roland Berger, com o PIX, “abre-se espaço para uma revolução no mercado de pagamentos que, embora de forma silenciosa, teve o seu início com a covid-19”. Entre 2017 e 2020, os pagamentos por QR Code nos aplicativos Ant Financial e WeChat subiram de 7% para 69% na China.
A segurança é outro ponto. “É um mecanismo que também vai deixar mais seguras as transferências de dinheiro entre as contas”, afirma Marcus Quintella, coordenador do MBA de empreendedorismo da Fundação Getúlio Vargas. Ele explica, porém, que é preciso ter cautela para analisar os benefícios desta novidade, já que ela ainda terá que ser implementada pelas instituições.