Filme de Orson Welles é descoberto na Itália
Nova York - A descoberta na pequena cidade italiana de Pordenone de um filme inédito dirigido por Orson Welles em 1938, três anos antes do aclamado 'Cidadão Kane'...
Da Redação
Publicado em 3 de setembro de 2013 às 13h26.
Nova York - A descoberta na pequena cidade italiana de Pordenone de um filme inédito dirigido por Orson Welles em 1938, três anos antes do aclamado "Cidadão Kane" e décadas depois de ter sido considerado como perdido, é "um conto de fadas".
O responsável pela restauração do filme e conservador chefe do departamento de cinema da George Eastman House de Nova York, Paolo Cherchi Usai, confessou nesta quinta-feira em entrevista com a Agência Efe que "a importância do achado é tão grande como as circunstâncias do descobrimento em si".
O próprio Orson Welles (1915-1985) pensava que a única cópia de "Too Much Johnson" tivesse sido destruída no incêndio que atingiu sua casa em Madri em 1970. Porém, 75 anos depois da rodagem deste filme mudo que nunca chegou a ser exibido, fará sua estreia mundial no dia 9 de outubro no festival "Le Giornate de Cinema Muto" em Pordenone, o maior festival do mundo dedicado ao cinema mudo.
A fita de 35 milímetros foi encontrada em um armazém dessa cidade do interior da Itália por membros da equipe de Cinemazero, que organiza há três décadas esse festival de cinema mudo, e, com a ajuda da Cinemateca do Friuli, foi enviada para a George Eastman House para ser restaurada.
"De todos os lugares onde poderia ter sido encontrado esse filme, o fato de ter sido achado em Pordenone é extraordinário, porque é precisamente uma cidade onde se celebra um grande festival de cinema mudo desde 1982", disse, ainda incrédulo, Cherchi Usai, que não sabe explicar como a fita foi parar naquele lugar.
Welles filmou em 1938 essa comédia "pastelão" em três partes, que deviam ser projetadas em forma de prólogo para cada um dos atos de sua adaptação da obra teatral de mesmo nome, mas não concluiu sua edição e a fita nunca foi mostrada ao público.
Naquele mesmo ano, o americano ficou conhecido após a transmissão de rádio de "A Guerra dos Mundos", uma adaptação da obra homônima de Herbert George Wells que provocou pânico nos ouvintes, que imaginavam estar enfrentando uma invasão de extraterrestres. Três anos depois, lançou sua obra prima, "Cidadão Kane", uma das obras criativas mais memoráveis do século XX e que foi premiada com o Oscar de melhor roteiro original.
"O descobrimento deste filme representa uma importante ponte entre a carreira teatral e a carreira cinematográfica de Orson Welles. Ajuda a explicar sua paixão pelo cinema enquanto trabalhava em uma produção teatral", explicou o especialista da George Eastman House.
Cherchi Usai afirmou que, de um ponto de vista narrativo, "não há muito que dizer" sobre o filme, porque Welles nunca finalizou sua edição, mas, desde um ponto de vista visual, "podemos perceber imediatamente que é uma obra sua" porque "a colocação da câmera é basicamente igual a dos filmes 'Cidadão Kane' e 'Soberba'".
"De fato, há uma sequência na qual se vê centenas de contêineres na rua que é muito similar à sequência final de 'Cidadão Kane', com milhares de caixas no armazém no final do filme. Parece praticamente um 'teste' da mesma sequência", disse o especialista.
A restauração da fita não foi fácil. Quando chegou às mãos de Cherchi Usai, um dos rolos do filme estava tão deteriorado que pensou que seria totalmente impossível restaurá-lo. "Para que você tenha uma ideia, pensei que não faria sentido mandá-la ao laboratório".
Porém, lembrou que tinha ouvido falar de um especialista na restauração de filmes de nitrato na Holanda e decidiu enviar a fita para ele e, após um árduo trabalho, foi possível recuperar esta "parte importante" do filme.
Assim, o filme será exibido pela primeira vez no próximo dia 9 de outubro na Itália, acompanhado da explicação do especialista, "porque é bastante misterioso". A fita também será projetada no dia 16 desse mesmo mês em Rochester, Nova York.
Apesar de a história ter tido um final feliz com a descoberta e restauração do filme, provavelmente o maior mistério, o motivo pelo qual Orson Welles considerou a fita como perdida, nunca será solucionado. "Quando se trata de Welles, a vida é mais estranha que a ficção", concluiu Cherchi Usai.