"Não há ninguém responsabilizando Mark Zuckerberg, além dele mesmo", disse Frances Haugen, ex-funcionária do Facebook, em depoimento ao Congresso dos Estados Unidos (Captura de tela/Exame)
Laura Pancini
Publicado em 5 de outubro de 2021 às 12h14.
Última atualização em 5 de outubro de 2021 às 12h17.
A semana não está sendo fácil para Mark Zuckerberg. Nesta terça-feira, 5, a ex-gerente de produto do Facebook, Frances Haugen, depôs ao Congresso dos Estados Unidos sobre alegações de que a companhia priorizou o lucro em detrimento do público.
O depoimento de Haugen acontece um dia depois do Facebook, Instagram e WhatsApp ficarem fora do ar por horas. Os servidores precisaram ser manualmente reiniciados para voltar ao normal. Durante a pane, Zuckerberg teve uma perda estimada de 5,9 bilhões de dólares em sua fortuna pessoal.
Os legisladores buscam mais detalhes sobre o que Haugen aprendeu durante o tempo em que trabalhou para a gigante das redes sociais.
Os documentos e as comunicações apresentados por Haugen vem sendo divulgados há algumas semanas pelo jornal americano The Wall Street Journal, que publicou uma série de reportagens sobre os danos das redes sociais. Em uma delas, de acordo com os documentos, fica evidente que a empresa sabia como, por exemplo, o Instagram era prejudicial para mulheres jovens e adolescentes.
A ex-funcionária já trabalhou para o Google e Pinterest. Em entrevista ao 60 Minutes, tradicional programa de entrevistas norte-americano, Haugen afirmou: “Eu já conhecia um monte de redes sociais e era substancialmente pior no Facebook do que em qualquer outra que eu tivesse conhecido antes”.
De acordo com Haugen, o Facebook estudou um padrão que eles chamam de “uso problemático” da rede social. Os usuários que se identificam com essa opção são aqueles que assumem que não tem controle sobre seu uso — ou seja, tem um vício. 5 a 6% de jovens de 14 anos teriam se identificado como parte do grupo.
No Facebook, Haugen trabalhou para combater a desinformação na rede social por quase dois anos antes de deixar a companhia em maio. "Havia conflitos de interesse entre o que era bom para o público e o que era bom para o Facebook. E o Facebook, repetidamente, escolheu otimizar para seus próprios interesses, como ganhar mais dinheiro", disse Haugen.
Haugen também abriu um processo de delação junto a Securities and Exchange Comission (SEC), o órgão regulador de mercado nos Estados Unidos, acusando o Facebook de enganar os investidores em relação a diversos problemas com comunicados que não correspondiam às ações internas da companhia. Ela também compartilhou partes da documentação com senadores.
"As ações do Facebook deixam claro que não podemos confiar nele para policiar a si mesmo. Devemos considerar uma supervisão mais forte, proteções eficazes para as crianças e ferramentas para os pais, entre as reformas necessárias", tuitou o senador Richard Blumenthal, democrata norte-americano que preside a subcomissão do Senado.
Em depoimento, a ex-funcionária afirma que o Facebook repetidamente enganou o público sobre "o que sua própria pesquisa revela sobre a segurança das crianças e a eficácia de seus sistemas de inteligência artificial (IA) na divulgação de mensagens divisivas e extremistas".
Na abertura do depoimento, Haugen disse: “Eu entendo como esses problemas são complexos. No entanto, as escolhas feitas dentro do Facebook são desastrosas para nossos filhos, a segurança pública, privacidade e democracia. É por isso que devemos exigir por mudanças.”
Haugen acredita que a rede social tem potencial para "ser salva", mas que é necessário uma admissão de culpa e uma supervisão da plataforma por terceiros. Ela afirma que a empresa "oculta intencionalmente informações vitais do público, do governo dos Estados Unidos e de governos em todo o mundo".
"Não há ninguém responsabilizando Mark Zuckerberg, além dele mesmo", disse Haugen. "As métricas tomam todas as decisões, o que é por si só uma decisão. Se [Mark] é o CEO e o presidente do conselho, ele é responsável por essas decisões."