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Da Redação
Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h44.
A estratégia de expansão a qualquer custo das operadoras de telefonia móvel está lhes trazendo mais problemas do que lucros. Se, para os consumidores, os generosos descontos na compra de aparelhos celulares são um modo de economizar dinheiro, para as companhias, as promoções significam um aumento dos subsídios às operações, o que pressiona sua rentabilidade. Para alguns analistas, a situação só será revertida quando o setor passar por um processo de consolidação, que enxugue o número de operadoras.
"Atualmente, há três ou quatro companhias em cada região, o que é um número elevado para o Brasil", afirma Luciana Leocadio, analista de telecomunicações do banco Espírito Santo Securities. Em São Paulo, por exemplo, a Vivo mantém-se na liderança, com 37% do mercado, enquanto Tim e Claro travam uma disputa acirrada pelo segundo lugar, com ligeira vantagem para a empresa de capital italiano: 22,4% de mercado, contra 21,5% para a Claro.
Uma das armas para conquistar clientes é a oferta de aparelhos cada vez mais baratos. O problema, segundo Luciana, é que a disputa já leva as empresas a oferecer produtos abaixo do preço de custo, subsidiando a diferença. Em datas comemorativas importantes, como o Natal, os descontos são ainda maiores. "No Dia das Mães, o celular mais barato do mercado foi oferecido por 99 reais, menos que o seu custo", diz Luciana.
Efeitos colaterais
Ao oferecer descontos, as operadoras alcançaram apenas uma das suas metas a de expandir o mercado rapidamente. Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), o número de celulares ativos, no Brasil, saltou de 66,602 milhões de unidades, em janeiro, para 75,518 milhões em julho. O número também é quase 40% maior que os 54,032 milhões de celulares registrados no mesmo mês do ano passado.
Todo esse volume de aparelhos, porém, não se reflete sobre a segunda meta das operadoras aumentar seus lucros. O Dia das Mães e dos Namorados, no segundo trimestre, foram motivos de fortes promoções no segundo trimestre. A conseqüência foi um recuo de até 20 pontos percentuais da margem de ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) das empresas no período.
Assim, o que as empresas faturam, de um lado, com uma base maior de clientes, gastam do outro, com os subsídios para atrair novos usuários e as campanhas para manter os atuais. A situação é ainda mais complicada, segundo Luciana, quando se lembra que 81% dos celulares em operação, em julho, eram pré-pagos, ou seja, com um potencial limitado de gerar receitas para as operadoras.
"O pior ainda está por vir, porque as empresas reduzirão muito o preço dos aparelhos no Natal", diz. Para a analista, somente um processo de consolidação seria capaz de mudar esse cenário. Luciana afirma que as fusões e aquisições podem estar mais perto do que se pensa, já que o mercado de celulares estaria próximo de sua saturação.