Apesar dos alertas feitos pelo ex-CEO, a situação se agravou apenas em setembro deste ano, quando o governo holandês interveio diretamente na empresa (Nicolas Economou/Getty Images)
Redator
Publicado em 10 de dezembro de 2025 às 09h32.
O plano de transferir tecnologia da fabricante de chips Nexperia para a China já estava claro desde sua aquisição pela chinesa Wingtech, segundo o ex-CEO da companhia, Frans Scheper. Em entrevista ao New York Times, ele disse ter alertado autoridades holandesas sobre os riscos estratégicos anos antes do caso evoluir para um impasse geopolítico com impactos diretos, sobretudo na indústria automotiva europeia.
Scheper relatou que Zhang Xuezheng, controlador da Wingtech, buscou realocar pesquisa e propriedade intelectual da Europa – onde a Nexperia mantém unidades em Nijmegen (Países Baixos), Hamburgo (Alemanha) e Manchester (Reino Unido) – para a China desde que assumiu o comando, em 2019. Ele também afirmou ter sido forçado a se aposentar logo no início de 2020.
Embora a aquisição tenha sido avaliada por autoridades na época, os Países Baixos só implementaram um mecanismo formal de revisão para compras estrangeiras em 2023.
Nesse cenário, apesar dos alertas feitos pelo ex-CEO, a situação somente se agravou em setembro deste ano, quando o governo holandês interveio diretamente na empresa, alegando necessidade de proteger a indústria e a tecnologia local diante de riscos à segurança nacional.
A decisão foi influenciada pelo histórico de Zhang – condenado em 2005 por roubo de propriedade intelectual na China – e pelo endurecimento de sanções dos Estados Unidos a empresas chinesas como a Wingtech, acusada de ajudar a transferir tecnologia sensível para o governo chinês.
Desde então, a situação da Nexperia é marcada por disputas narrativas e negociações diplomáticas. Após a intervenção holandesa, a China suspendeu temporariamente as exportações de chips da empresa, finalizados em território chinês, o que afeta a produção de montadoras na Europa. Até o momento, o impasse não está resolvido.
Segundo o New York Times, o caso expõe a vulnerabilidade de empresas estratégicas europeias à pressão de investidores estrangeiros, particularmente chineses. Nesse contexto, países europeus enfrentam, ainda, o dilema entre manter acesso ao mercado chinês e atender às exigências dos Estados Unidos para conter a transferência de tecnologias críticas.