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Estudo quer identificar 150 espécies brasileiras de maracujá

Apesar de tamanha variedade, só duas espécies foram domesticadas e têm valor comercial

O projeto da Embrapa aproveita a semente do maracujá na extração do óleo, visando à fabricação de cosméticos (.)

O projeto da Embrapa aproveita a semente do maracujá na extração do óleo, visando à fabricação de cosméticos (.)

DR

Da Redação

Publicado em 15 de fevereiro de 2016 às 10h02.

Existem cerca de 520 espécies conhecidas de maracujazeiro. Elas crescem como trepadeiras, cipós ou arbustos nas florestas tropicais das Américas, mas predominam na Amazônia.

O Brasil abriga ao menos 150 espécies. A Colômbia, 170. São os centros de diversidade do maracujá.

Apesar de tamanha variedade, só duas espécies foram domesticadas e têm valor comercial, como alimento ou então nas indústrias de bebidas, cosméticos e farmacêutica.

São elas o maracujá-amarelo ou maracujá-roxo, mais azedos (Passiflora edulis), e o maracujá-doce (P. Alata), que se come de colher – daí o nome tupi da fruta, mara kuya, que quer dizer "alimento na cuia”. Algumas espécies selvagens têm ainda uso ornamental.

O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá e também o maior consumidor. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2014 foram produzidas 823 mil toneladas, sendo que 75% da produção está concentrada no Nordeste.

A produção e a área plantada decuplicaram desde os anos 1980, graças aos melhoramentos genéticos feitos pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

Daí a importância de pesquisar e conservar a riquíssima diversidade do maracujá. Mas há um problema: à exceção das duas espécies domesticadas, todas as demais são selvagens e pouquíssimo estudadas. Suas propriedades são desconhecidas da ciência.

“É um desafio do ponto de vista da conservação. Não sabemos quase nada sobre a variabilidade genética da maioria das espécies de maracujá selvagem”, alerta a pesquisadora Anete Pereira de Souza, do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Anete Pereira de Souza é a responsável pelo projeto “Variabilidade genética e molecular em acessos de maracujá (Passiflora spp.) comerciais e selvagens, visando conservação ex situ e melhoramento de plantas”, apoiado pela FAPESP.

Ela é coautora de um balanço do estado atual do conhecimento da conservação e diversidade genética do gênero Passiflora, publicado no livro Genetic Diversity and Erosion in .

O estudo foi desenvolvido em colaboração com pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Embrapa Cerrados (DF) e Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA).

A maioria das espécies selvagens de maracujá floresce em florestas úmidas e quentes. “Este é o grande problema com as mudanças climáticas. Qualquer alteração hídrica ou da temperatura pode significar a perda de um grande número de espécies”, afirma Anete Pereira de Souza.

Prospecção e preservação

Em outras palavras, muitas espécies selvagens correm simplesmente o risco de desaparecer antes mesmo que tenhamos a chance de conservar amostras da sua variabilidade genética, uma fonte promissora e insubstituível para futuros melhoramentos nas espécies domesticadas.

“Há genes de resistência contra doenças que a gente poderia usar para melhorar as espécies cultivadas”, diz a pesquisadora. A única amostragem do genoma do maracujá foi publicada por pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da Universidade de São Paulo (USP).

“Para conservar a biodiversidade do gênero Passiflora precisamos obter informações genéticas, genômicas e fenotípicas de todas as espécies”, afirma Anete Pereira de Souza.

O primeiro passo é a identificação e prospecção de todas as espécies selvagens. O segundo é a preservação dessas amostras em coleções botânicas e bancos de germoplasma, unidades conservadoras de material genético.

Outro risco que expõe a fragilidade do maracujá às mudanças climáticas tem a ver com a polinização. Os maracujazeiros dependem das abelhas mamangabas para a polinização.

Mamangabas são as abelhas do gênero Bombus, com cerca de 250 espécies. Pela sua importância na polinização de vários tipos de plantas, sua perseguição, destruição, caça ou apanha é proibida por Lei Federal desde 1998.

“O maracujá só dá frutos se o pólen vier de uma outra planta. A mamangaba é quem faz esse trabalho. É uma abelhona preta, grande, que está rareando na natureza”, ela explica.

As mamangabas costumam fazer suas colmeias em troncos ocos de árvores. É por isso que, com o desmatamento, elas estão desaparecendo.

Por causa do sumiço das mamangabas, uma queixa recorrente dos agricultores é que os maracujazeiros estão deixando de frutificar. Sem flores, nada de frutos.

“Já faz tempo que os agricultores estão tendo que recorrer à polinização manual. Como se isso não bastasse, nós ainda não sabemos nada sobre as espécies de abelhas e outros insetos que realizam a polinização das variedades selvagens de maracujá”, diz.

Caso existam espécies de maracujá que dependam de uma espécie específica de abelha para a polinização, e se esta abelha desaparecer por causa dos desmatamentos e mudanças climáticas, aquelas espécies selvagens também desaparecerão. Será uma perda insubstituível.

O artigo The Genetic Diversity, Conservation, and Use of Passion Fruit (Passiflora spp.), de Anete Pereira da Silva e outros, publicado em Genetic Diversity and Erosion in Plants pode ser lido aqui.

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