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Equador acusa cientistas dos EUA de tirar sangue de índios ilegalmente

Houve cerca de '3.500 procedimentos' de extração de sangue, disse René Ramírez, titular da secretaria (ministério) de Educação Superior e Ciência do Equador

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Da Redação

Publicado em 16 de junho de 2014 às 16h17.

Uma companhia de petróleo e um instituto médico americano teriam extraído e vendido, sem autorização, pelo menos 3.500 amostras de sangue de 600 indígenas equatorianos com características genéticas únicas, segundo uma investigação do governo equatoriano.

Houve cerca de "3.500 procedimentos" de extração de sangue, disse René Ramírez, titular da secretaria (ministério) de Educação Superior e Ciência do Equador, ao canal estatal ECTV.

O presidente equatoriano, Rafael Correa, disse na última sexta-feira que as amostras foram retiradas desde a década de 1970, "em parceria com uma petroleira que operava nestes territórios, a Maxus", em um caso em que estão envolvidos a Escola de Medicina da Universidade de Harvard e o americano Instituto Coriell, dedicado à pesquisa médica.

Ramírez afirmou que, segundo um estudo de sua pasta, naquela época havia uns 600 nativos huaoranis, o que "significa que foram extraídas algumas 'pintas' (450 mililitros) de sangue de uma pessoa mais de uma vez".

"Mas, uma das principais (responsáveis) foi a Maxus, com este Instituto Coriell, que vendeu o sangue coletado para que se fizessem estas pesquisas", afirmou Ramírez. A destinatária das amostras para estudo teria sido a Universidade de Harvard.

"São comunidades que têm suas características (genéticas) próprias, únicas em nível mundial", disse o funcionário, destacando que mais de 80% das extrações de sangue ocorreram sem consentimento e que "ninguém sabia que tinham fins de pesquisa".

A Maxus operou na selva equatoriana até meados dos anos 1990, embora tenha estendido sua presença através de outra petroleira.

Com base em testemunhos dos huaorani, a Defensoria do Povo do Equador estabeleceu, há dois anos, que entre 1990 e 1991, dois americanos, entre eles um médico da Maxus, retiraram amostras de sangue de vários deles, alegando que seriam usadas para exames, cujos resultados nunca entregaram.

Correa afirmou que o plasma foi submetido a "experimentos" porque os nativos, que se mantinham afastados da civilização, são "imunes a certas doenças".

"Mentiram para eles, disseram que seria para sua saúde e em 95% dos casos nunca se chegou com informação sobre que tipo de doença tinham", disse o secretário.

Na sexta-feira, Correa afirmou que "não existe nenhuma lei federal dos Estados Unidos que dê fundamento jurídico para acionar em tribunais Coriell, Maxus ou os cientistas" de Harvard. No entanto, afirmou que serão buscadas as vias para isto.

O presidente afirmou existirem 31 artigos científicos publicados entre 1980 e 2012 sobre estas amostras de sangue dos huaoranis, que certos autores estão associados a Harvard e que cientistas vinculam Coriell como "fornecedor do sangue".

Em agosto de 2012, o presidente tinha anunciado que seu país preparava uma ação internacional contra o Coriell, ao qual os indígenas amazônicos acusam de ter comercializado ilegalmente seu material genético, embora se desconhecesse na época a quantidade de extrações realizadas.

Segundo a Defensoria do Povo, "comprovou-se que o Instituto Coriell tem, em suas bases, amostras e vende material genético de nacionalidade huaorani. Estas amostras foram adquiridas de um cientista da Escola de Medicina de Harvard".

Ainda segundo a Defensoria, o Instituto "possui ilegalmente, desde 18 de dezembro de 1991, amostras de sangue" da etnia amazônica e, desde 1994, teria distribuído sete culturas celulares e 36 amostras a oito países.

A prática viola a Constituição equatoriana, que proíbe o "uso de material genético e a experiências científicas que atentem contra os direitos humanos", assim como disposições internacionais, destacou.

 

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