Amazon (AMZO34) (Leandro Fonseca/Exame)
Laura Pancini
Publicado em 1 de abril de 2022 às 15h43.
Em um movimento histórico, funcionários de um armazém da Amazon em Staten Island, Nova York, votaram para se juntar a um sindicato nesta sexta-feira, 1. É a primeira vez que uma organização sindical consegue definitivamente se erguer contra a empresa de Jeff Bezos. A contagem final de votos anunciada na sexta-feira foi de 2.654 a favor do sindicato contra 2.131 contra.
Segundo maior empregador privado dos Estados Unidos, a Amazon já impediu diversas vezes que seus trabalhadores não participassem de um sindicato. Diversas histórias sobre as condições de trabalho no armazém foram divulgadas ao longo dos anos, a mais polêmica alegando que os funcionários tinham que urinar em garrafas para ganharem tempo. Voltando ainda mais no tempo, é possível encontrar denúncias de funcionários que se machucaram em serviço e acabaram sem condições de voltar ao trabalho.
Um guia interno de "saúde e bem-estar", divulgado pelo site de notícias Insider em junho de 2021, mostrou um pouco da realidade de quem trabalha em um depósito da Amazon em Oklahoma, nos EUA. No folheto, eles eram chamados de "atletas industriais".
O guia supostamente dizia para "preparar seus corpos" para caminhar "até 21 quilômetros por dia" e levantar um total de aproximadamente 9.000 quilos durante um único turno. Durante um turno de 10 horas, isso seria aproximadamente 13 quilos por minuto.
Por isso o movimento dos trabalhadores do armazém JFK8 foi tão importante. Liderado por um ex-funcionário, o sindicato pode incentivar outros armazéns da Amazon a seguirem o mesmo caminho, de acordo com especialistas entrevistados pelo Washington Post, jornal cujo Bezos é dono.
O próximo passo dos trabalhadores do JFK8 é ratificar um contrato para se tornarem membros oficiais do sindicato. A expectativa é que o movimento pode impactar a forma como o e-commerce trata os funcionários do armazém.
A Amazon não respondeu imediatamente a um pedido de comentário ao Washington Post, mas previamente já afirmou que “acha que os sindicatos são a melhor resposta para nossos funcionários”.
Futuro
Agora, como o próprio Washinton Post afirma, fica a questão para saber se isso deve gerar um efeito cascata para outros depósitos da empresa. Lembrando que, em fevereiro do ano passado, a gigante do e-commerce barrou esforços de sindicalizar colaboradores no estado do Alabama, nos Estados Unidos. O tom da empresa, na época, era de fazer pressão sobre os funcionários, alegando que eles "perderiam o direito de falar por si mesmos" ao entrarem nesse tipo de campanha. Não à toa, os esforços de união dos funcionários não foram para frente há um ano.
Mas, em 2022, o cenário parece diferente também na região. Ainda segundo informações do Washington Post, os votos favoráveis a criar um sindicato no Alabama foram 875, ante 993 votos "não", e com uma abstenção significativamente menor (de cerca de 50% dos trabalhadores para 38%). Ainda há 416 cédulas a serem contadas, cuja contagem parece demorar mais do que o previsto por passarem por processos de contestação de ambos os lados (trabalhadores e a empresa).