Cresce controvérsia sobre endereços na web após alerta dos EUA
Governo americano ameaça a capacidade da Icann para implementar seu programa de expansão de endereços na internet
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2012 às 20h17.
Londres - Uma controvertida tentativa de expandir os endereços de Internet para domínios muito além dos convencionais, como .com, .org e .net, causou uma rara ameaça do governo dos Estados Unidos , que pode retirar uma licença essencial da organização que administra as funções centrais da Internet.
A Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann) depende de seu contrato com o governo dos EUA para coordenar os endereços individuais que informam aos computadores onde localizar uns aos outros, e sem essa coordenação o funcionamento de uma rede efetivamente mundial não aconteceria.
Mas este mês o governo norte-americano alertou que as regras da organização sem fins lucrativos quanto a conflitos de interesse não eram rígidas o bastante e prorrogou apenas temporariamente o contrato da Icann -vigente desde que a organização foi formada, em 1998-, em lugar de renová-lo, como muita gente no setor esperava.
Se o contrato da Internet Assigned Numbers Authority (Iana) não for assegurado, a capacidade da Icann para implementar seu programa de expansão de endereços, a empreitada mais radical na história da organização, estaria sob ameaça.
As preocupações quanto a conflito de interesses derivam do fato de que antigos e atuais membros do conselho da Icann poderiam se beneficiar financeiramente da liberalização dos endereços da Web, porque têm vínculos com organizações que ganham dinheiro pelo registro de novos nomes de domínio ou prestando serviços de consultoria quanto à expansão.
No momento, as organizações estão restritas a pouco mais de 20 domínios de primeiro nível, tais como .com, org e .net, acompanhados pelos domínios nacionais, tais como .br para o Brasil.
A ICANN deseja permitir que marcas, cidades e empresas desejosas de criar novos negócios na Internet se candidatem a manter domínios próprios, por exemplo .apple, .nyc ou .gay, o que lhes ofereceria maior controle sobre sua presença na Web e uma maior escolha de nomes.
"Não conceder o contrato Iana à Icann equivaleria a demoli-la completamente", disse Philip Corwin, diretor jurídico da Internet Commerce Association, organização que congrega os investidores e as empresas que trabalham com nomes de domínio.
"A Icann precisa daquele contrato para ter a autoridade necessária a fazer com que esse programa funcione", disse.
O contrato foi prorrogado pelos EUA até setembro.
Toda uma indústria já foi montada para aproveitar a iniciativa da Icann. Uma delas é a Top Level Domain Holdings, uma empresa listada em Londres criada para adquirir e operar os novos domínios. A empresa tem como presidente Peter Dengate Thrush, que foi presidente da Icann quando a entidade aprovou a mudança.
A TLDH já fez 40 pedidos de domínios e pretende submeter mais pedidos para nomes como .miami e .music.
Muitos críticos, porém, estão céticos sobre se a Icann vai conseguir cumprir seu objetivo de ampliar a competição e inovação. Ele citam que experiências anteriores com nomes como .aero, .travel e .museum resultaram em domínios pouco usados.
Mas convencidas ou não, centenas de marcas de consumo estão se sentindo forçadas a fazer pedidos por seus próprios domínios -um processo custoso e complexo, que vem com obrigações de operação ativa do domínio- temendo perdê-los para rivais se não fizerem registro.
A janela de três meses para pedido de domínios se encerra em 12 de abril.
Rod Beckstrom, presidente-executivo que está saindo da Icann, afirmou a Reuters esta semana que a expansão está ocorrendo sem problemas. "Estamos mantendo o curso. Não há sequer uma única queixa que tenha relação com a administração do programa."
Mas em uma importante reunião da Icann no início deste mês ele alertou que chegou a hora da organização apertar suas regras.
"A Icann precisa agir para o bem público e colocar interesses comerciais e financeiros no contexto apropriado. Como ela pode fazer isso se toda a principal liderança é da própria indústria de domínios que deveria ser coordenada por ela de maneira independente?"
"A preservação da capacidade da Icann em agir de forma independente, no interesse público, é fundamental para o futuro da Internet e desta instituição", afirmou.
Londres - Uma controvertida tentativa de expandir os endereços de Internet para domínios muito além dos convencionais, como .com, .org e .net, causou uma rara ameaça do governo dos Estados Unidos , que pode retirar uma licença essencial da organização que administra as funções centrais da Internet.
A Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann) depende de seu contrato com o governo dos EUA para coordenar os endereços individuais que informam aos computadores onde localizar uns aos outros, e sem essa coordenação o funcionamento de uma rede efetivamente mundial não aconteceria.
Mas este mês o governo norte-americano alertou que as regras da organização sem fins lucrativos quanto a conflitos de interesse não eram rígidas o bastante e prorrogou apenas temporariamente o contrato da Icann -vigente desde que a organização foi formada, em 1998-, em lugar de renová-lo, como muita gente no setor esperava.
Se o contrato da Internet Assigned Numbers Authority (Iana) não for assegurado, a capacidade da Icann para implementar seu programa de expansão de endereços, a empreitada mais radical na história da organização, estaria sob ameaça.
As preocupações quanto a conflito de interesses derivam do fato de que antigos e atuais membros do conselho da Icann poderiam se beneficiar financeiramente da liberalização dos endereços da Web, porque têm vínculos com organizações que ganham dinheiro pelo registro de novos nomes de domínio ou prestando serviços de consultoria quanto à expansão.
No momento, as organizações estão restritas a pouco mais de 20 domínios de primeiro nível, tais como .com, org e .net, acompanhados pelos domínios nacionais, tais como .br para o Brasil.
A ICANN deseja permitir que marcas, cidades e empresas desejosas de criar novos negócios na Internet se candidatem a manter domínios próprios, por exemplo .apple, .nyc ou .gay, o que lhes ofereceria maior controle sobre sua presença na Web e uma maior escolha de nomes.
"Não conceder o contrato Iana à Icann equivaleria a demoli-la completamente", disse Philip Corwin, diretor jurídico da Internet Commerce Association, organização que congrega os investidores e as empresas que trabalham com nomes de domínio.
"A Icann precisa daquele contrato para ter a autoridade necessária a fazer com que esse programa funcione", disse.
O contrato foi prorrogado pelos EUA até setembro.
Toda uma indústria já foi montada para aproveitar a iniciativa da Icann. Uma delas é a Top Level Domain Holdings, uma empresa listada em Londres criada para adquirir e operar os novos domínios. A empresa tem como presidente Peter Dengate Thrush, que foi presidente da Icann quando a entidade aprovou a mudança.
A TLDH já fez 40 pedidos de domínios e pretende submeter mais pedidos para nomes como .miami e .music.
Muitos críticos, porém, estão céticos sobre se a Icann vai conseguir cumprir seu objetivo de ampliar a competição e inovação. Ele citam que experiências anteriores com nomes como .aero, .travel e .museum resultaram em domínios pouco usados.
Mas convencidas ou não, centenas de marcas de consumo estão se sentindo forçadas a fazer pedidos por seus próprios domínios -um processo custoso e complexo, que vem com obrigações de operação ativa do domínio- temendo perdê-los para rivais se não fizerem registro.
A janela de três meses para pedido de domínios se encerra em 12 de abril.
Rod Beckstrom, presidente-executivo que está saindo da Icann, afirmou a Reuters esta semana que a expansão está ocorrendo sem problemas. "Estamos mantendo o curso. Não há sequer uma única queixa que tenha relação com a administração do programa."
Mas em uma importante reunião da Icann no início deste mês ele alertou que chegou a hora da organização apertar suas regras.
"A Icann precisa agir para o bem público e colocar interesses comerciais e financeiros no contexto apropriado. Como ela pode fazer isso se toda a principal liderança é da própria indústria de domínios que deveria ser coordenada por ela de maneira independente?"
"A preservação da capacidade da Icann em agir de forma independente, no interesse público, é fundamental para o futuro da Internet e desta instituição", afirmou.