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Armas químicas: do gás mostarda ao sarin

O governo sírio dá a entender que possui armas químicas. Veja quais são as principais e os efeitos catastróficos que elas podem causar

Soldado australiano examina um projétil químico em 1943: as armas químicas são um fantasma do passado que ainda assombra a humanidade (Australian War Memorial / Wikimedia Commons)

Soldado australiano examina um projétil químico em 1943: as armas químicas são um fantasma do passado que ainda assombra a humanidade (Australian War Memorial / Wikimedia Commons)

Maurício Grego

Maurício Grego

Publicado em 27 de julho de 2012 às 12h49.

Última atualização em 7 de abril de 2017 às 16h18.

São Paulo — As armas químicas de destruição em massa supostamente estocadas na Síria viraram motivo de preocupação no mundo todo. Há poucos dias, um porta-voz do presidente sírio Bashar al-Assad admitiu que o país possui essas armas ao afirmar que só as utilizaria em caso de agressão estrangeira. A ameaça de Assad pode até ser um blefe. Mas, se essas armas forem mesmo usadas num ataque, podem causar sofrimento extremo e morte a milhares de pessoas.

O uso de armas químicas (assim como o de armas biológicas) foi proibido pela Convenção de Genebra, que entrou em vigor em 1928. Mesmo assim, essas armas continuaram sendo fabricadas. A Convenção de Armas Químicas, aprovada pela ONU em 1992, detalhou o cronograma para o encerramento da fabricação e a destruição dos arsenais. Esse processo está bastante adiantado.

A Síria, porém, é um dos sete países que não fazem parte dessa convenção. Segundo o site especializado Global Security, ela é, também, um dos quatro países com arsenais químicos confirmados (os outros três são Estados Unidos, Rússia e Coreia do Norte). O site estima que os sírios tenham capacidade para fabricar algumas centenas de toneladas de agentes químicos por ano.

Além disso, há poucas dúvidas de que as forças armadas do país possuam mísseis e projéteis de artilharia capazes de realizar ataques químicos. Mas não se sabe exatamente a qual arma o porta-voz de Assad se referiu. Veja, a seguir, quais são as variantes mais comuns desse tipo de armamento e que efeitos elas podem ter para os seres humanos.

Gás mostarda e outros agentes de bolhas

Esses gases produzem queimaduras extremamente dolorosas na pele, nos olhos e nas vias respiratórias. O nome “agentes de bolhas” vem do fato de eles causarem enormes bolhas na pele. São substâncias citotóxicas que destroem o DNA e levam à morte das células. A vítima pode agonizar por semanas antes de morrer. Se ela sobreviver, tende a desenvolver câncer.

O mais conhecido desses gases, o mostarda, foi inventado na Alemanha em 1916. Foi empregado durante a Primeira Guerra Mundial inicialmente pelos alemães e, depois, também pelos ingleses. Nos anos 80, o mostarda foi um dos gases letais usados pelo Iraque na guerra contra o Irã. Um ataque iraquiano contra a população curda resultou na morte de 5 mil pessoas.

Sarin e outros neurotóxicos

Os gases neurotóxicos estão entre as armas químicas mais temidas, já que basta uma pequena quantidade para provocar a morte de muitas pessoas. São compostos organofosforados que destroem o mecanismo de transmissão de impulsos nervosos. A vítima perde o controle dos músculos e sofre convulsões violentas até que não consegue mais respirar e morre.

O mais antigo desses gases, o tabun, foi inventado na Alemanha em 1936 por Gerhard Schrader, que pesquisava inseticidas. Schrader depois passou a desenvolver armas químicas e descobriu o sarin, dez vezes mais potente que o tabun. Os dois gases foram produzidos industrialmente na Alemanha durante a II Guerra Mundial e incorporados a projéteis de artilharia. Mas não chegaram a ser usados no campo de batalha. Em 1995, a seita Aum Shinrikyo realizou um ataque terrorista com sarin diluído no metrô de Tóquio, matando 13 pessoas.

Gases sufocantes

Esses gases causam queimaduras na pele o nos olhos. Também causam lesões no sistema respiratório que acabam levando ao acúmulo de líquido nos pulmões. Com o tempo, a vítima sofre parada cardiorrespiratória e morre. São uma das armas químicas mais antigas. Há relatos de que o cloro foi usado como gás sufocante pelos britânicos na Guerra da Criméia, entre 1853 e 1856. Outro desses gases, o fosgênio, foi sintetizado pela primeira vez na Inglaterra em 1812.

Na Primeira Guerra Mundial, a Alemanha empregou tanto o cloro como o fosgênio como armas. O fosgênio, mais eficaz, foi usado também por França, Inglaterra e Estados Unidos. Estima-se que esse gás tenha sido responsável por 85% das mais de cem mil mortes provocadas por armas químicas naquela guerra.

Agentes sanguíneos

São gases venenosos a base de cianureto ou de arsênico. Eles penetram na corrente sanguínea e impedem o transporte de oxigênio pelos glóbulos vermelhos. A vítima sente dor, sofre convulsões, entra em coma e morre. Embora sejam mortais em ambientes fechados, esses gases se dispersam rapidamente ao ar livre. Por isso, não há registro de que tenham sido empregados como arma de guerra.

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