Next Gen: Timo Recker e André Menezes fundaram a empresa no ano passado. Agora receberam um aporte de 10 milhões de dólares (NextGen/Divulgação)
Rodrigo Loureiro
Publicado em 25 de fevereiro de 2021 às 13h45.
Última atualização em 25 de fevereiro de 2021 às 20h45.
Ao lado de um sócio alemão, o brasileiro André Menezes conseguiu convencer o fundo de capital de risco Temasek, que já aportou empresas como Adyen, Tencent e PayPal, a investir 10 milhões de dólares em uma startup criada ainda no ano passado, sem qualquer produto lançado e que opera em Singapura. Ou melhor, não precisou convencer ninguém. Investidores já estavam ávidos para aportar a Next Gen, que atua com comidas à base de plantas.
O investimento da Temasek, que contou com a participação de investidores como K3 Ventures, EDB New Ventures, NX-Food, FEBE Ventures e Blue Horizon, dará para a Next Gen o fôlego financeiro que a empresa precisa para lançar seu próprio frango vegano, chamado de TiNDLE. Feito à base de soja, o produto chega ao mercado já no próximo mês e será destinado integralmente para restaurantes... em Singapura.
Ao lado da Malásia, Singapura faz parte de uma região da Ásia que se tornou espécie de Vale do Silício para as food techs, startups de alimentação. Principalmente para aquelas que querem desafiar a indústria tradicional com alimentos plant-based. Além da Next Gen, companhias como Green Monday (Hong Kong) e Hero (China) também estão na região. Vale lembrar ainda da americana Beyond Meat, que desembarcou na China nos últimos meses
Para a Temasek (e os outros fundos envolvidos) é a oportunidade de garantir participação em um negócio que ainda atua num mercado embrionário. O segmento global de proteínas vegetais deve chegar a 85 bilhões de dólares até 2030, de acordo com um relatório da consultoria suíça UBS.
Singapura também é o país em que André mora desde 2016, quando veio a serviço da BRF para trabalhar (e depois comandar) uma joint-venture da companhia em parceria com a Sats. Em 2019, a companhia brasileira vendeu o negócio que atuava com processamento e distribuição de alimentos. Uma das funções do brasileiro era investigar startups que poderiam ser úteis para o negócio. Nessas buscas, conheceu a LikeMeat.
Fundada na Alemanha por Timo Recker, a LikeMeat já fabricava um frango vegano e ganha espaço no país europeu. Mesmo assim, empreendedor decidiu que era hora de abrir mão do negócio após uma oferta de compra da americana Foods United. Com o dinheiro da venda, Timo convidou André, que havia pedido demissão de seu trabalho, para construir um novo negócio. “Ele já tinha a experiência na indústria e eu conhecia o mercado local”, conta o brasileiro.
Timo investiu 2,2 milhões de dólares na operação. O dinheiro foi usado para que a companhia montasse uma estrutura em Singapura e recrutasse seus profissionais C-level, que vieram de gigantes como a Unilever, além da LikeMeat. Os recursos também foram alocados na parceria com uma empresa que vai produzir os produtos. A produção será feita toda na Holanda, o que vai propiciar uma expansão mais ágil para outros mercados no futuro.
André, que não é vegetariano e diz que “ama comer carne assim como grande parte da equipe”. “Eu não concordo como a indústria funciona. Não me parece correto precisar abater bilhões de animais por ano para que tenhamos uma comida saborosa na mesa. Essa conta não fecha”, afirma. De acordo com a ONU, mais de 66,5 bilhões de frangos são abatidos por ano em todo o planeta. Em uma matemática simples, mais de 2.000 animais são mortos por segundo.
André não mudou só de time, mas de jogo. O agora empreendedor explica que para gerir uma startup plant-based é preciso entender as diferenças não apenas entre os produtos, mas também entre as operações de uma pequena companhia para uma multinacional bilionária. “Somos uma empresa de tecnologia e não uma empresa de carne, que precisa espremer até último centavo de cada passo da cadeia para ser competitiva contra suas rivais”, diz.
No novo negócio, em que além de sócio também é o chefe de operações (Timo ocupa o cargo de presidente), André afirma que o objetivo é fazer com que as pessoas criem uma identificação com a marca, mesmo levando em consideração a diferença de preços entre os produtos. “Ninguém compra frango (tradicional) pela marca. Mas, na indústria plant-based, o peso da marca é maior”, afirma.
A Next Gen tem a intenção de chegar em outros países, inclusive no Brasil. Isso pode acontecer caso o produto chegue ao varejo. Quando isso acontecer, o que ainda não é certo e vai depender de como os consumidores vão reagir ao alimento nos restaurantes, a tendência é de que um produto diferente seja disponibilizado. “Talvez ele não seja tão versátil, mas será mais fácil de ser preparado”, diz André.
No Brasil, especificamente, a Next Gen pretende chegar apenas se conseguir parceiros locais para realizar a produção dos alimentos no país. O motivo é o custo para desembarcar os produtos em solo brasileiro, principalmente por conta da desvalorização do real. “Existem empresas que fazem isso, mas os preços cobrados nos supermercados acabam ficando pouco competitivos”, diz.