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"Brasil precisa intensificar pesquisas", diz Rothkopf

Autor de um grande estudo sobre biocombustíveis, David Rothkopf diz que país não pode "sentar-se sobre as glórias do passado"

EXAME.com (EXAME.com)

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Da Redação

Publicado em 9 de outubro de 2008 às 12h44.

David Rothkopf é um dos fundadores do instituto de pesquisas Garten Rothkopf. Sob encomenda do Banco Interamericano de Desenvolvimento, ele preparou o mais completo estudo sobre biocombustíveis já produzido até hoje. São mais de 600 páginas, que incluem um panorama da produção atual, as novas tecnologias que despontam no horizonte, além de um capítulo enorme (mais de 150 páginas) sobre os desafios da indústria brasileira. Para quem tem algum tipo de interesse na questão do etanol, a leitura do documento é essencial. O estudo pode ser baixado, de graça, no site do BID (http://www.iadb.org/biofuels/). Rothkopf conversou com EXAME pelo telefone na segunda semana de maio. Acredita que o maior competidor do Brasil não são as tecnologias de ponta sendo desenvolvidas no exterior, mas sim as deficiências de pesquisa do país. Leia abaixo os principais trechos.

O Brasil é o líder indiscutível na tecnologia e na produção de etanol de cana-de-açúcar. Mas há uma série de empresas americanas, especialmente, investindo em novas técnicas produtivas. Isso é um risco para a liderança do país?

A liderança brasileira foi conquistada ao longo de 30 anos de inovação. Na atual geração dos biocombustíveis, não há nenhuma opção tão eficiente quanto o etanol de cana-de-açúcar. Mas, mais recentemente, mais de cem fundos de investimentos têm olhado para a energia verde, e o foco claro é: qual será a próxima geração dos biocombustíveis? Não é claro que o Brasil seja o líder nessas novas tecnologias. Em todo o mundo há um imenso interesse em estar à frente da próxima geração. A China já se comprometeu a investir 187 bilhões de dólares em novas energias. A British Petroleum vai doar 500 milhões de dólares para a Universidade da Califórnia em Berkeley. Existem descobertas relevantes no uso de algas para obter combustíveis. Para o Brasil alcançar esses competidores, serão necessários bilhões de dólares em investimentos nos próximos anos. O país não pode ser simplesmente um líder em commodities. É preciso intensificar as pesquisas.

Quais são os fatores mais importantes para que o Brasil não perca essa nova onda tecnológica?

Eu aponto os pilares para o desenvolvimento da indústria de etanol. Mercados globais, que significa ter as condições de aumentar as exportações; infra-estrutura, que é uma deficiência conhecida dos brasileiros; mas o mais importante é o conhecimento. É preciso investir em pesquisa e desenvolvimento. Se não me engano, o Brasil investe cerca de 0,7% do PIB nessa área. Há países colocando o dobro disso. O país também forma menos engenheiros. Isso tudo tem impacto na competitividade futura do país. É preciso haver um MIT (Massachusetts Institute of Technology, uma das principais universidades americanas) no Brasil, e perto dele uma área em que o conhecimento seja aplicado ao empreendedorismo, como acontece no Vale do Silício. Isso requer comprometimento. E tem de ser rápido. O Brasil ainda pode ser o líder na nova geração. Mas o maior risco para o país, hoje, é ser complacente e ficar sentado sobre as glórias passadas.

Qual é a viabilidade do etanol de celulose e quando ele será competitivo com o álcool de cana produzido no Brasil?

Em primeiro lugar, é preciso entender que estamos falando de uma revolução tecnológica, não agrícola. Há muito auê em torno das tecnologias de etanol de celulose. É preciso ter cuidado. Elas ainda não se provaram comercialmente e dependem de pesados subsídios para existir. Vejo muitos negócios relacionados à celulose. Isso pode ser um risco. Assim como na época da bolha da internet, muita gente está fazendo apostas erradas. É preciso prestar atenção às lições daquela época.

Mas um dos pontos que ficou claro na época da euforia ponto-com é que o dinheiro, às vezes, pode fazer as coisas acontecer.

Sim, é verdade. Mas é preciso entender onde você quer estar. No terreno mais arriscado da tecnologia, onde os riscos são enormes? Ou um pouco para trás, mas ainda na liderança. Essa é uma pergunta importante. Eu, por exemplo, pensaria em investir em novas regiões para as plantações de cana. Essa é uma área que pode gerar inovações importantes.

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